Ao final da tarde desta quarta-feira, o chef Ljubomir Stanisic sentiu-se mal e foi transportado para o hospital. Os restantes nove manifestantes do movimento “Sobreviver a Pão e Água”, que estão em greve de fome há seis dias, foram observados. O chef foi o único a ser transportado para o hospital, mas José Gouveia, presidente da Associação Nacional de Discotecas, e João Sotto-Mayor, empresário da restauração, decidiram ir para um hostel descansar, depois de também mostrarem níveis demasiado baixos de açúcar no sangue.
Ao Observador, José Gouveia explica que tinha “a glicémia a 20”, enquanto “o Ljubo tinha valores ainda mais baixos e já apresentava alguns sintomas de poder entrar em coma”.
Entretanto, já durante a noite, Ljubomir regressava ao protesto. “Não sei se teve alta ou se fugiu do hospital”, diz José Gouveia entre risos, “mas está melhor que nós”, afirma, referindo-se a si e a João Sotto-Mayor, que aguardam resultados de análises para regressarem às tendas montadas em frente ao Parlamento.
Quanto à monitorização do estado de saúde dos empresários em protesto, “há uma comunicação direta com o INEM”, garante José Gouveia, e durante a madrugada espera-se “uma reavaliação do estado de saúde” de todos.
Sobre a continuação do protesto, existe algum desânimo já. O empresário contactado pelo Observador fala apenas por si quando diz que pensa “desistir desde o primeiro dia” da greve de fome. Mas vai mais longe, e deixa a frustração falar: “As pessoas acham que isto é um ato de coragem, mas para nós não foi. Isto é um ato de estupidez”. O representante das discotecas refere que “foi um impulso, por nos sentirmos ignorados”. Mas, agora, percebem que “o Governo não nos ignora a nós, ignora um país” inteiro, e por isso o “impulso” é substituído pela desmotivação, à medida que também a saúde dos dez manifestantes vai ficando mais débil.
Apesar de tudo, o plano é continuar a greve de fome. José Gouveia afirma que continua a não haver abertura do Governo para receber o movimento e que, por isso, “a missão” continua, apesar de admitir que já é uma “missão kamikaze”.
Ao mesmo tempo que os empresários continuam a pedir para serem ouvidos, o gabinete do Ministério da Economia assegura que não rejeitou reunir e lembra que já se mostrou disponível para voltar a receber a Associação Nacional de Discotecas, presidida por José Gouveia. O responsável confirma, mas indica que não quer ser recebido por secretários de Estado, como já terá sido há menos de um mês. Os empresários da restauração querem “subir um degrau” e ser ouvidos por Siza Vieira ou António Costa.
“Estou firme e hirto”, diz Ljubomir
“Claro que estou com forças para continuar, estou firme e hirto, tive uma quebra completamente normal depois de seis dias de greve de fome, sem ingerir nenhuma grama de açúcar nem nada no organismo, só água e chá”, afirmou esta quinta-feira o chef Ljubomir Stanisic. “É normal que aconteça.”
Em declarações à SIC Notícias, o chef contou que se sentiu mal e caiu. Foi assistido pelo INEM e levado “de imediato” para o hospital dados os valores baixos de glicemia e as dores no peito. Sensivelmente duas horas de análises depois, o chef teve alta do hospital e voltou à greve de fome para “continuar a luta sem fazer disto um grande drama”.
“Não gosto de política, nem me quero meter. Não sou político, não tenho jeito nenhum. (…) Eu próprio votei no PS e não ter sido recebido… garanto-vos uma coisa, não vou votar em quem não me está a dar respeito nenhum”, afirmou ainda.