O Presidente eleito dos EUA, Joe Biden, saudou a sua vitória no Colégio Eleitoral como sendo “a demonstração mais clara da verdadeira vontade do povo americano” que deve ser “celebrada e não atacada”. A vitória de Joe Biden e de Kamala Harris foi confirmada esta segunda-feira depois de o Colégio Eleitoral ter confirmado a sua vitória com 306 votos, sobre os 232 confiados a Donald Trump e Mike Pence.
“Nós, o povo, votámos. A fé nas nossas instituições permanece de pé. A integridade das nossas eleições permanece intacta”, disse. “E, agora, está na altura de virar a página como temos feito ao longo da nossa História”, acrescentou esta segunda-feira num discurso a partir de Wilmington, no Delaware. “Está na altura de nos unirmos e de sararmos feridas”, sublinhou, repetindo uma ideia já defendida no seu discurso de vitória, a 7 de novembro.
No seu discurso, Joe Biden falou várias vezes da resiliência das instituições norte-americanas ao longo deste processo, estabelecendo uma ligação entre estas eleições e todas as que marcaram a História dos EUA. “Uma vez mais, o valor da lei, a constituição e a vontade popular prevaleceram”, disse.
“A nossa democracia foi empurrada, testada, ameaçada, e provou ser resiliente, verdadeira e forte”, disse Joe Biden. “No início desta pandemia, muitos perguntaram quantos americanos é que iriam mesmo votar. Mas esses medos acabaram por não se verificarem. Vimos algo que muitos poucos previram e acharam que seria possível: a maior participação eleitoral na História dos EUA”.
Joe Biden declaradamente ao ataque contra Trump e os seus aliados
Ao mesmo tempo que prezou as instituições, Joe Biden não hesitou em atirar várias vezes contra Donald Trump. Ao contrário daquilo que tinha feito no discurso de vitória, a 7 de novembro, em que mencionou o Presidente ainda em funções para falar nos seus eleitores, desta vez falou diretamente de Donald Trump. O tom foi invariavelmente crítico.
A primeira ocasião em que falou do ainda Presidente foi para recordar que, em 2016, Donald Trump venceu com 306 votos do Colégio Eleitoral — ou seja, a mesma soma que agora Joe Biden conquistou:
“Dessa vez, o Presidente Trump disse que o resultado dele na Colégio Eleitoral era ‘uma vitória à larga’. Pelos padrões dele, estes números representaram uma vitória clara nessa altura e eu sugiro respeitosamente que representem o mesmo desta vez”.
“Na América não são os políticos que tomam o poder, é o povo que o concede. A chama da democracia foi acesa por esta nação há muito tempo. E agora sabemos que nada — nem sequer uma pandemia ou o abuso de poder — consegue extingui-la”, disse Joe Biden.
O Presidente eleito saudou também as autoridades estaduais e os trabalhadores que, estado a estado, participaram no processo de contagem e autenticação dos votos. Referindo a sua ação como “corajosa”, sublinhou. “Muitos destes patriotas americanos foram sujeitos a tantas coisas, a uma pressão política enorme, agressões verbais e até ameaças de violência física”, acrescentou. “É simplesmente inescrupuloso.”
Além dos responsáveis pelo sistema eleitoral, Joe Biden elogiou a justiça norte-americana, que tem negado, nas suas várias instâncias, a validade das queixas de fraude eleitoral apresentadas pela campanha de Donald Trump.
“A campanha de Trump apresentou dezenas e dezenas e dezenas de queixas para impugnar os resultados. Foram ouvidos, várias vezes, e a cada vez não lhes foi reconhecida razão”, disse. “Foram ouvidos por mais de 80 juízes em todo este país e em nenhum caso foi encontrada uma causa para disputar os resultados.”
Joe Biden referiu-se ainda às recontagens feitas em estados como o Wisconsin (que acabou por ditar uma margem maior a favor do democrata) ou em estados como o Pensilvânia e o Michigan, onde o democrata venceu com uma vantagem maior do que Donald Trump em 2016, quando conquistou aqueles estados.
Apesar dessas recontagens, Joe Biden queixa-se de que 17 procuradores-gerais estaduais republicanos tenham , juntamente com 126 congressistas do Partido Republicano, tenham apoiado a queixa que o estado do Texas apresentou no Supremo Tribunal com o objetivo de impugnar os resultados em quatro estados: Pensilvânia, Wisconsin, Michigan e Geórgia. Este pedido, que foi rejeitado pelos nove juízes do Supremo Tribunal, foi descrito por Joe Biden como uma “manobra legal” desenhada para “dar a presidência a um candidato que perdeu o Colégio Eleitoral, perdeu o voto popular e perdeu cada um dos estados cujas votações eles quiseram reverter”.
Joe Biden atirou, mesmo que indiretamente, contra os republicanos no Senado que ainda não reconheceram a derrota de Donald Trump. Ao fazê-lo, recuou a 2016 para recordar como, na qualidade de vice-Presidente, que é também quem preside ao Senado, liderou as sessões que levaram à confirmação da vitória de Donald Trump há quatro anos.”Fiz o meu trabalho”, disse. “Estou agradado, mas não surpreendido, com os meus antigos colegas republicanos no Senado que já reconheceram os resultados do Colégio Eleitoral”, acrescentou, referindo estar “convencido” de que conseguirão trabalhar em conjunto “a bem da nação em muitos temas”.
De acordo com o Washington Post, às 01h15 desta terça-feira (hora de Lisboa), entre os 247 republicanos que estão no Congresso (divididos, portanto, entre o Senado e a Câmara dos Representantes), apenas 28 já reconheceram a vitória de Joe Biden. Além destes, há 2 que referem que o vencedor foi Donald Trump e depois 217 que ainda não tomaram uma posição clara.
Entre eles está aquele que é provavelmente o republicano mais influente no Congresso: Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado. “O futuro tratará de si mesmo”, disse a 1 de dezembro. “Vamos passar por todos estes processos. O Colégio Eleitoral vai reunir-se a 14 de dezembro. Vai haver uma tomada de posse a 20 de janeiro”, acrescentou à altura.