As associações dos analistas e dos laboratórios clínicos alertaram esta terça-feira que os testes à Covid-19 não são “um passaporte de negatividade” e apelam à responsabilidade social no Natal, lembrando que “os testes são bons”, mas realizados no contexto correto.

O alerta é feito pela Associação Portuguesa dos Analistas Clínicos (APCAC) e pela Associação Nacional dos Laboratórios Clínicos (ANL) numa altura em que se assiste a uma procura massiva por parte dos portugueses aos laboratórios para realizarem o teste para a pesquisa de SARS-CoV-2, que provoca a Covid-19, devido à época do Natal.

As associações lembram que “qualquer das metodologias disponíveis tem indicações médicas específicas para corresponderem às expectativas de diagnóstico que lhe estão atribuídas”.

Um resultado negativo obtido por método de biologia molecular (RT-PCR) em indivíduo assintomático só atesta a ausência do vírus na mucosa naquela altura, não será nunca um passaporte de negatividade que permita a escusa dos comportamentos” para evitar a disseminação do vírus como o uso de máscara, o distanciamento físico, a lavagem frequente das mãos.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da ANL, Nuno Saraiva, afirmou que tem havido “um afluxo extraordinário” para a realização de testes nestes dias, até com pré-marcações, para coincidir com as vésperas de Natal, percebendo-se que “as pessoas se querem reunir com a família”.

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“O nosso setor tem um papel importante, uma responsabilidade social e também de saúde pública de alertar” para o risco de algumas situações, nomeadamente a realização do teste rápido por iniciativa própria, baseado em recomendações das autoridades de saúde.

Nuno Saraiva alertou que “o teste rápido pode ser muito bom, muito útil para determinadas circunstâncias, mas pode ser potencialmente desastroso em termos de saúde pública se for mal aplicado”, uma vez que tem “uma sensibilidade mais baixa” e apenas deve ser realizado nos primeiros cinco dias após o aparecimento de sintomas.

Portanto, o alerta do setor é que “os testes são bons, mas tem que ser no contexto correto” e “não transformar uma coisa potencialmente boa e muito útil numa coisa que pode degenerar num risco de saúde pública e no degenerar da infeção e da pandemia”.

A norma da Direção-Geral da Saúde diz que os testes devem ser realizados por prescrição médica, mas Nuno Saraiva disse ter “a impressão” de que a regra não estará a ser cumprida na íntegra, mas que essa prescrição seria “um certificado” de que a pessoa teria os critérios para o realizar.

“Esta ideia massiva do teste rápido em que as pessoas confiam e fazem fé no seu resultado pode estar a levar ao engano e vai propagar a doença por muitas pessoas” e pode causar “um problema de saúde pública a curto ou médio prazo”, reiterou, lembrando dados estatísticos que apontam para que, provavelmente, 40% dos positivos não são detetados.

Questionado se esta procura pode pôr em causa a realização de testes a quem realmente necessita, Nuno Saraiva disse não ter “consciência de que possa haver um risco de falência pelo número de testes”, considerando que poderá esgotar-se primeiro a capacidade humana de os realizar.

Mas o que mais preocupa Nuno Saraiva no que pode degenerar a testagem em massa, uma vez que as pessoas podem ficar convencidas em grande parte que estão negativas, fazem “uma vida mais descontraída” e “propagam a doença e aí a falência vai ser do sistema de saúde de impactar as pessoas que precisam de cuidados”.

Desde o início da pandemia, Portugal já registou 6.254 mortes e 378.656 casos de infeção pelo vírus SARS-CoV-2, segundo dados da DGS.