Os “tempos difíceis” de pandemia vividos pelos profissionais do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC) estão retratados numa exposição fotográfica que será inaugurada na quarta-feira e que é uma homenagem a todos os trabalhadores, anunciou esta terça-feira a instituição.
“Os nossos Profissionais são o nosso Rosto” é o tema da exposição composta por seis conjuntos de cinco fotografias selecionadas entre as centenas de imagens obtidas no CHULC durante o mês de maio de 2020 pela lente do fotógrafo Rodrigo Cabrita.
Esta exposição é uma homenagem a todos os que trabalham no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central nestes tempos extremamente difíceis que nós enfrentamos de pandemia” e “é fruto do envolvimento de todas as áreas, das instalações e equipamentos às pessoas que trabalham na prestação direta de cuidados”, disse à agência Lusa a presidente do Conselho de Administração do CHULC, Rosa Valente de Matos.
As 30 fotografias que são parte de um trabalho que integra a “Memória da Covid-19” vão passar, até ao início de fevereiro, pelos seis hospitais que integram o CHULC (S. José, Capuchos, Curry Cabral, Santa Marta, D. Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa).
“É um projeto que pretende documentar e divulgar a assistência prestada a todos aqueles que procuraram o nosso centro hospitalar, portanto envolve, efetivamente, os nossos utentes, mas envolve, essencialmente, os nossos profissionais. Portanto, é uma exposição de profissionais para profissionais”, adiantou Rosa Valente de Matos.
O fotógrafo Rodrigo Cabrita recordou, em declarações à Lusa, como começou este trabalho que deu origem a esta exposição:
“Eu sou freelancer e na altura propus-me fazer um trabalho sem ter grande perspetiva de publicação“, disse, contando que o que pretendia era ter um registo deste “tempo tão novo, diferente e mau” no seu acervo e deixar a sua marca.
Contactou o Conselho de Administração do CHULC que deu o parecer favorável para juntos fazerem o projeto “Memória Covid”, que tinha também como finalidade “o hospital ficar com um acervo sobre a adaptação dos seis hospitais” para memória futura e os suportes onde poderiam ser vistos”.
Para Rodrigo Cabrita, esta exposição homenageia não só os profissionais de saúde da “linha da frente”, mas também aqueles que “são da linha da frente, que não se veem, mas que dão outro tipo de conforto”.
O que me trouxe mais-valia ao trabalho foi que tanto estive a fotografar o senhor que alcatroa um bocadinho da estrada, o senhor da manutenção que arranja um cano, a senhora da lavandaria que está a tratar da roupa, as senhoras da cozinha, que tratam do outro conforto, como também estive no centro do furacão”, contou.
Sobre as recordações que guarda deste trabalho, apontou, por exemplo, a “forma frágil” como tinham de retirar todo o equipamento de proteção individual.
“Aquilo parecia ser uma cena digna de um filme. Agora tira a luva, desinfeta, agora tira a segunda luva, tira o fato, não tires com força a máscara para as gotículas não saltarem. Todo esse melindre deixou marca”, recordou Rodrigo Cabrita.
Mas confessa que o momento que mais o marcou e emocionou foi quando estava a editar as fotos. “Quando estou a fotografar estou enquadrado com o tema, e estou a vivê-lo, mas com a máquina à frente não damos tanto pelas coisas porque o ritmo é tão alto, a delicadeza é tanta” que é “o choque do trabalho”.
Na edição — disse — “quando olho para aquelas pessoas, dos mais novos aos mais velhos, tudo aquilo causa sofrimento. A gente põe-se na posição deles, pomos os nossos na posição deles e foi aí que me emocionei, que soltei algumas lágrimas”.
Para Rosa Valente de Matos, é importante que a “memória” deste tempo de pandemia fique retratada em fotografias porque o CHULC foi “o primeiro centro hospitalar da zona sul de referência àCovid-19”.
Foi São João, no Porto e o Hospital Curry Cabral, portanto, também temos esse dever de deixar este trabalho para o futuro, para que mais tarde as pessoas venham a perceber, através da fotografia e de alguns testemunhos que vamos ter daquilo que se fez, das dificuldades, dos sucessos, porque passámos neste tempo tão emblemático, que nos trouxe tantas incertezas como foi o ano 2020″, salientou.
Rosa Valente de Matos espera agora que “2021 venha a ser, efetivamente, um ano de esperança” com a vacina e que “tudo possa melhorar”.