Para responder ao aumento da procura e, ao mesmo tempo, ao problema da falta de mão de obra qualificada, a multinacional portuguesa Quidgest quer formar 250 pessoas em tecnologia no próximo ano, uma formação feita com base no Genio, a plataforma de geração automática de código da empresa que assenta em modelação e Inteligência Artificial. “Com esta formação, a criação de sistemas de informação complexos e escaláveis está ao alcance de um número muito maior de talentos e não apenas de programadores“, refere a Quidgest.

Sara Inácio, gerente de inovação da multinacional, explica ao Observador que estas formações estão incluídas na Academia Génio, um programa que a empresa tem vindo a desenvolver mas que, até agora, aceitava cerca de 50 pessoas. “Vai ser um aumento muito considerável, mas temos em conta que as pessoas estão, efetivamente, a procurar requalificar-se enquanto profissionais e até mesmo a tornarem-se empreendedores na área da tecnologia”, refere a responsável. A empresa utiliza o “Genio” para transformar um modelo numa solução de software de forma mais rápida e eficiente.

Este ano, a Quidgest “teve uma grande solicitação por parte de pessoas externas que estavam interessadas em formar-se em Genio” e, por isso, decidiu apostar nesta ideia, tendo em conta que uma das necessidades mais verificadas neste setor é a falta de mão de obra qualificada.

Temos cada vez menos programadores de linguagens puras no mercado ou, pelo menos, é sempre muito difícil conseguir aceder a eles. De certa forma, achamos que podemos ter a resposta para isso, na medida em que estes programadores precisam, à partida, de uma formação muito técnica e académica. Ou, pelo menos, sendo uma pessoa leiga no assunto, de dedicar muito tempo de aprendizagem a uma única linguagem e sabemos que estas linguagens estão em constante evolução”, refere Sara Inácio.

As formações duram uma semana e estão divididas em três níveis diferentes (o custo depende também do nível). Tendo em conta que a base tecnológica não é um requisito obrigatório, os grupos para a formação são divididos a pensar no perfil, experiência e objetivos de cada um, para que todos estejam ao mesmo nível. “No fundo, o que nós queremos perceber é qual é o objetivo que cada pessoa tem perante o Genio e tentar encaixá-la naquilo que podemos oferecer”, explica Sara Inácio.

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Devido à pandemia, estas formações serão feitas num modelo híbrido, combinando o presencial e o online, sendo que a primeira formação começa na semana de 11 de janeiro, para o nível 1. A semana de formação, refere a responsável, “é intensa” e com um grande acompanhamento dos alunos, que vão aprender noções básicas da plataforma, a explicação do Genio e vão ainda desenvolver um projeto (como uma app) para apresentar no final.

A Quidgest tem vários tipos de formações, dependendo do perfil de cada participante. Há formações destinadas a estudantes (G_Developer), mas também feitas para empreendedores (G_Accelarator), para membros de empresas (G_Corporate) ou para os que gostam de ensinar (G_Trainer), sendo que os interessados podem preencher um formulário para perceber qual a formação mais adequada a si.

“No final da semana, já saem com competências muito evoluídas, tendo em conta aquilo que seria programar manualmente”, refere a responsável, que dá também a sua própria experiência pessoal como exemplo: é farmacêutica — “tinha zero noções de programação” –, mas quando chegou à Quidgest fez esta formação e, ao final de uma semana, conseguiu desenvolver uma app que demoraria meses com código manual.

E depois da formação?

Para a Quidgest, o fim da formação não significa o fim da ligação à tecnologia dos participantes. Se houver vontade e potencial, a multinacional tem duas formas de dar uma oportunidade aos participantes: através do recrutamento para a própria empresa ou redirecionando os participantes para empresas terceiras e clientes. Se o próprio participante, a nível individual, vir potencial comercial no projeto que desenvolveu, “a Quidgest dá apoio tanto técnico como ao nível de negócio“, garante Sara Inácio.

Achamos que o paradigma tem de mudar, no sentido de começar a investir nas pessoas que neste momento não estão qualificadas para o efeito, mas eventualmente podem vir a estar. O nosso objetivo passa muito por capacitar estas pessoas que tinham pretensões de pertencer ao mundo da tecnologia, mas que não tiveram essa oportunidade no passado e têm potencial para o efeito e podem, através do Génio, vir a usufruir e a dar frutos nesta área”, acrescenta a responsável de inovação.

Sara Inácio sugere que a Inteligência Artificial e a automação de processos “vão, claramente, ser o futuro do mercado e da sociedade em si”. Já sobre as mudanças com a pandemia que a multinacional fundada há 30 anos teve de fazer, destaca o trabalho remoto, numa altura em que foi preciso aprender a manter o espírito de equipa e a “criar empatia, uma das competências essenciais, para além da tecnologia, nos próximos anos”.

Acabamos por perceber que este ano, talvez fruto da pandemia, que a transformação digital deixou de ser uma buzzword para se tornar praticamente numa necessidade iminente para todas as empresas e até mesmo para os profissionais individuais do mercado”, acrescenta Sara Inácio.

No futuro, a empresa — que conta com 130 colaboradores e está presente em Portugal, Alemanha, Timor-Leste e Moçambique — quer focar-se, além na formação, na evolução da plataforma Genio, sendo que em breve esta plataforma vai transitar para a Web. “Neste momento o Genio está no desktop e a nossa intenção é transitá-lo para a Web, ou seja, vai ser possível consultá-lo através de um browser, o que vai otimizar muito instalações, processos de interações no próprio Genio e vai ser possível que seja consultado em qualquer sistema operativo”. Esta transição, acrescenta, está a ser acompanhada de uma análise completa ao produto.