Donald Trump publicou um vídeo com quase três minutos em que condena a invasão do Capitólio concretizada por alguns dos seus apoiantes na quarta-feira — e que, para alguns críticos, ele mesmo instigou no discurso que proferiu naquele dia num parque da Casa Branca.

“Como todos os americanos, estou indignado com a violência, a ilegalidade e o caos”, afirmou o presidente cessante dos Estados Unidos: “A América é e deve ser sempre uma nação de lei e ordem. Os manifestantes que invadiram o Capitólio contaminaram a sede da democracia americana“.

Donald Trump dirigiu-se diretamente aos manifestantes que participaram em atos de violência na invasão ao Capitólio, avisando-os de que “não representam o país” e que “se quebraram a lei, vão pagar”. Num tom diferente do apresentado até agora, o presidente apela à “tranquilidade”.

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Apesar de continuar a criticar as eleições, sugerindo até uma reforma das leis relativas ao processo eleitoral, Donald Trump assumiu que o Congresso tinha certificado os resultados e que, por isso, está “focado em assegurar uma transição estável e ordeira de poder”: “Este momento pede reconciliação”.

Na última quarta-feira, o presidente cessante dos Estados Unidos tinha afirmado que “se não se lutar com tudo o que se tem, deixaremos de ter um país”. Após o discurso no parque Elipse da Casa Branca, durante o comício “Stop The Steal” (“Parem o Roubo” em português), milhares de apoiantes dirigiram-se para o Capitólio e invadiram o edifício, tendo quatro pessoas morrido.

Joe Biden diz que invasão do Capitólio foi “terrorismo doméstico”

Para o presidente eleito Joe Biden, Donald Trump instigou um “assalto sem precedentes” às instituições democráticas norte-americanas e classificou a última quarta-feira como “um dos dias mais negros na história da nossa nação”.

Biden recusou chamar “manifestantes” aos invasores do Capitólio porque “não foi uma manifestação, não foi desordem, não foi um protesto”: “Não lhes chamem manifestantes. Eram uma turba em motim, rebeldes, terroristas domésticos”, disse ele.

Durante o discurso, Joe Biden ecoou as opiniões sobre como a reação policial à invasão teria sido muito diferente caso se tratasse de uma manifestação anti-racismo. Disse até ter recebido uma mensagem da neta a recordá-lo que, aquando dos protestos em Washington D.C. na sequência da morte de George Floyd, um forte dispositivo policial assegurou a proteção da capital americana.

Em contraste, na quarta-feira, o dispositivo de segurança mobilizado para a certificação dos resultados eleitorais foi muito menor.

“Ninguém me poderá dizer que se tivesse sido um grupo do Black Lives Mater a protestar ontem eles não teriam sido tratados de um modo muito, muito pior do que a turba de bandidos que invadiu o Capitólio. Todos sabemos que é verdade. E é inaceitável. Completamente inaceitável”, atirou Joe Biden.

Democratas pedem impeachment, mas Mike Pence recusa

A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, tinha anunciado na quinta-feira que apoiaria o pedido apresentado por 19 congressistas democratas a Mike Pence para que seja invocada a 25ª emenda da Constituição norte-americana, que permitira retirar Trump imediatamente do poder.

Mas também há republicanos a defender a retirada de Donald Trump. O congressista republicano Adam Kinzinger também apelou ao governo norte-americano que invoque a 25ª emenda da Constituição par destituir o presidente Trump das funções. Kinzinger foi o primeiro republicano a fazê-lo. Num vídeo publicado no Twitter, admite que “é com pesar” que pede, “pelo bem de nossa democracia”, a invocação da 25ª emenda seja invocada.

Se o processo não avançar, o Congresso estava preparado para iniciar o processo de impeachment, anunciou a líder da câmara baixa do Congresso. Entretanto, o vice-presidente Pence fez saber que se opunha a essa ideia antes do término do seu mandato — uma decisão apoiada  por vários membros do gabinete presidencial cessante.