São mais de 700 as camas que os hospitais privados têm direcionadas para os doentes do Serviço Nacional de Saúde, disse fonte oficial da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) ao Observador. A resposta surge em reação às declarações da ministra da Saúde que admitiu que a requisição civil dos hospitais privados é uma “hipótese”.

Na resposta ao Observador, os hospitais privados pretendem garantir que agora como anteriormente se encontram empenhados em contribuir para a resposta à pandemia de Covid-19 no país. “Ainda no sábado foi possível responder afirmativamente com cerca de 100 camas adicionais face a solicitação do SNS para doentes não-covid.”

Nesta fase particularmente delicada do combate à pandemia é imperativo tranquilizar os portugueses transmitindo-lhes que os hospitais privados integram e vão continuar a integrar este esforço nacional conjunto e que o fazem com a plena consciência das dificuldades atuais do nosso país e de como juntos — público, privado e social — será mais fácil ultrapassarmos este momento de grande dificuldade”, respondeu fonte oficial da APHP.

Durante a visita ao Hospital das Forças Armadas, em Lisboa, que dispõe de camas de internamento em enfermaria e cuidados intensivos para doentes Covid-19, Marta Temido disse ainda que existem “vários convénios assinados na região Norte e na região Centro e estão negociações em curso para a utilização de novas capacidades na região de Lisboa e Vale do Tejo”. A APHP confirmou a conclusão dessas negociações e o aumento do número de camas disponibilizadas em Lisboa.

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“Temos 19 convenções na Administração Regional de Saúde do Norte para aquisição de camas, 150 não-covid e cerca de outras 150 Covid. Em Lisboa essa capacidade é muito mais reduzida, temos apenas 100 camas e muito espaçadas por várias instituições, o que torna a gestão de doentes muito complexa”, afirmou a ministra da Saúde realçando as diferenças entre as duas regiões.

O Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa também aumentou o número de camas afetas aos doentes não-covid em fase aguda do SNS — 16, no total, a partir de terça-feira. Ao Observador, o diretor clínico Manuel Pedro Magalhães disse considerar que a coordenação entre as Administrações Regionais de Saúde e os hospitais privados e do setor social está a acontecer, mas entende que a ministra da Saúde se socorra da requisição civil para melhor conseguir coordenar a oferta a nível nacional.

Se as negociações falharem, Governo recorre à requisição civil

A ministra da Saúde reconheceu esta segunda-feira que Portugal vive uma situação “mais pesada e complexa” em comparação com as outras duas vagas. Marta Temido frisou a necessidade de “garantir que todo o sistema de saúde está à disposição” no combate à pandemia de Covid-19.

Estamos numa situação mais pesada e complexa do que as duas anteriores [vagas da doença] que passámos, mas estamos também num momento em que começamos a perspetivar aquilo que serão os resultados da vacinação, que só se alcançarão num prazo de vários meses. Mais um esforço adicional é indispensável para ultrapassarmos esta fase”, afirmou a governante, em Lisboa, à saída de uma reunião com a task-force constituída para a coordenação da vacinação.

Em relação à possibilidade de acionar um cenário de requisição civil, Marta Temido respondeu de forma direta: “É uma hipótese, não hesitaremos em lançar mão desse mecanismo quando não conseguirmos, por acordo, ultrapassar as dificuldades”.

Por outro lado, António Costa referiu esta segunda-feira que, neste momento, estão somente em curso “negociações” para a utilização dos hospitais privados na região de Lisboa e Vale do Tejo, assinalando que existem “vários convénios assinados na região Norte e Centro” com os privados.

Há outras áreas em que o trabalho com o setor privado tem sido excelente, como ao nível da capacidade de testagem. Ainda nas últimas semanas atingimos o recorde de 52 mil testes num único dia. Tem sido possível conjugar a capacidade de testagem dos setores público e privado, mas também com as universidades e politécnicos”, acrescentou António Costa em conferência de imprensa após uma reunião com o primeiro-ministro da Grécia.

Os hospitais privados já estavam prontos para ajudar em março

Até ao momento, o Governo não tinha tido necessidade de recorrer à requisição civil, nem mesmo durante a primeira fase da pandemia, em março. Aliás, nessa altura, os hospitais privados reduziram as consultas e cirurgias não urgentes e preparam-se para receber doentes Covid-19, a pedido da Direção-Geral da Saúde, mas não houve necessidade de recorrer a estes serviços, disse ao Observador fonte oficial da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), na sexta-feira (ainda antes das declarações da ministra da Saúde).

A capacidade instalada nessa altura não se perdeu e, em novembro, Governo e privados retomaram as negociações. O valor a pagar pelos internamentos foi definido pelo Estado e aceite pelos privados — ainda que seja abaixo do custo real — e o acordo previa que os hospitais privados pudessem receber doentes Covid-19 e não-Covid, em enfermaria ou cuidados intensivos. O número de camas não ficou definido na altura e seria ajustado consoante a necessidade de Serviço Nacional de Saúde, disse fonte oficial da APHP.

As necessidades vão sendo geridas pelas Administrações Regionais de Saúde que estão em contacto permanente com os hospitais públicos e privados. Até ao momento, todos os pedidos feitos pelo Estado têm sido cumpridos, assegurou fonte oficial da APHP, na sexta-feira.

Aumentar a capacidade dos hospitais privados também tem limitações

O Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, em Lisboa, que já tinha um protocolo para a afetação de seis camas, Administração Regional de Saúde de Lisboa (ARS) e Vale do Tejo, acrescenta agora 10 — 16 no total, todas para para doentes não-covid em fase aguda do SNS. Para isso, admite o diretor clínico Manuel Pedro Magalhães, os profissionais de saúde terão de fazer horas extra. “O pessoal tem aceitado bem”, diz o cirurgião ao Observador. “Mas já começa a ficar um bocadinho exausto.”

Conseguir disponibilizar mais camas para os doentes transferidos do SNS é “um esforço difícil”. “Não é porque uma pessoa não queira”, explica o diretor clínico, mas é preciso gerir as limitações do hospital. Por um lado, tiveram de reduzir a ocupação no hospital — os quartos de três camas já só podem ter doentes por causa das medidas de distanciamento. Por outro, só se pode aumentar a oferta de camas se os profissionais de saúde fizerem horas extra.

Até agora, diz o diretor clínico, têm conseguido dar resposta a todos os doentes do hospital, sem rejeitar ninguém, e mantendo as cirurgias, mesmo que isso implique algum esforço adicional dos profissionais ou dos doentes. Quem vai fazer uma cirurgia, em vez de entrar no dia anterior, só entra na própria manhã da intervenção, sendo recolhido por uma carrinha do hospital às cinco ou seis da manhã, explica o médico.

8.400 doses da vacina da Moderna chegam ainda esta semana a Portugal e são destinados a profissionais dos privados

Depois de esta manhã terem chegado a Portugal mais 79.950 doses da vacina da Pfizer, deverão chegar no decorrer da semana as primeiras 8.400 doses da vacina da Moderna, anunciou a ministra da Saúde.

Este primeiro lote da vacina vai ser distribuída entre os profissionais de saúde prioritários de hospitais privados que estão a colaborar com o Serviço Nacional de Saúde no tratamento de doentes Covid-19, explicou Marta Temido.

Já as doses da vacina da Pfizer que chegaram esta segunda-feira ao país, detalhou a ministra, vão permitir a vacinação de 95.940 pessoas, maioritariamente residentes e funcionários de estruturas residenciais para idosos, mas também profissionais de saúde do SNS e de estruturas como o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e GNR.

O facto de já estar a ser aproveitada a sexta dose de cada frasco de vacina, depois de a Agência Europeia do Medicamento ter dado na passada sexta-feira essa indicação de forma oficial, explicou ainda Marta Temido, levou a “um ligeiro aumento daquilo que eram as expetativas” de vacinação para esta altura.

Sem pormenorizar o número de doses previstas, Marta Temido avançou ainda que a 18 de janeiro é esperada nova entrega da Pfizer, sendo que a 25 de janeiro ambas as empresas, Pfizer e Moderna, devem fazer chegar mais doses das respetivas vacinas a Portugal.

Marta Temido fez ainda um balanço do processo de vacinação, no qual revelou que até ao final do dia de sexta-feira tinham sido “vacinadas 74.099 pessoas, entre profissionais do Serviço Nacional de Saúde, profissionais do Hospital das Forças Armadas, profissionais do Instituto Nacional de Emergência Médica e profissionais e residentes em estruturas residenciais para idosos e unidades de cuidados continuados”.