O Presidente moçambicano “toma boa nota” da disponibilidade da União Europeia (UE) para apoiar Moçambique a enfrentar os problemas de segurança em Cabo Delgado, norte do país, província há três anos a braços com uma insurgência armada.
O chefe de Estado moçambicano tomou boa nota da manifestação de interesse da UE em cooperar com Moçambique no combate ao terrorismo”, referiu a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo.
A governante resumiu numa declaração aos jornalistas o encontro mantido quarta-feira em Maputo entre o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e Augusto Santos Silva, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, em representação da UE.
No contexto de Cabo Delgado, Nyusi “saudou a disponibilidade da UE” em trabalhar com o governo moçambicano “nas áreas da logística, saúde e formação militar, bem como noutras que o governo venha a considerar importantes”, acrescentou — classificando a visita de Santos Silva como “um sucesso”.
Não houve detalhes sobre passos seguintes ou prazos para efetivação do apoio, mas a conversa agradou ao governante português.
Saio satisfeito desta reunião, porque a melhor maneira de chegarmos rapidamente ao desenho em concreto do apoio europeu é começar por uma identificação tão clara e precisa de quais são as prioridades das autoridades moçambicanas”, explicou, na mesma sessão de declarações à comunicação social, após o encontro com Filipe Nyusi no Palácio da Presidência.
“Foi muito importante a reunião com o Presidente moçambicano, que foi muito claro na identificação das áreas em que o incremento da cooperação na área de segurança pode beneficiar imediatamente Moçambique”, sublinhou Santos Silva.
O representante da UE leva no bloco de notas três áreas fundamentais: formação militar, apoio da ação humanitária à população e apoio à agência para o desenvolvimento do norte de Moçambique.
Estas áreas foram muito claramente identificadas”, destacou.
O suporte da UE a projetos de apoio ao desenvolvimento em Cabo Delgado ascende a cerca de 25 milhões de euros e a província está entre as prioritárias para a ação humanitária, referiu Santos Silva, mas a estas dimensões “é preciso acrescentar um incremento da cooperação na área da segurança“.
Levar de volta para a Europa o máximo de contributos para concretizar esse incremento “é o objetivo prático e imediato da missão política” que lidera e também “do trabalho técnico que desde ontem [terça-feira] está a ser realizado entre equipas da UE e Moçambique”.
O governante português deixou ainda um retrato claro da posição da UE no xadrez de Cabo Delgado.
“A UE tem uma relação muito antiga, próxima e consolidada com Moçambique, não substitui o trabalho das autoridades moçambicanas, não substitui o quadro regional da cooperação entre Moçambique e os países vizinhos” e “respeita escrupulosamente a arquitetura da União Africana para a paz e segurança”, especificou.
Mas a UE “acrescenta uma outra dimensão de cooperação e o esforço de nós todos é indispensável para que a população do norte de Moçambique e as autoridades” possam enfrentar um desafio “que cada um de nós também enfrenta”, concluiu.
A violência armada na província nortenha de Moçambique, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico desde 2019.
Augusto Santos Silva desloca-se a Moçambique no semestre em que Portugal assume a presidência rotativa do Conselho da UE e mantém ainda hoje encontros com chefes de missões europeias no país lusófono.
Para quinta-feira estão agendadas reuniões com membros de organizações da sociedade civil, depois com países parceiros e a agenda termina com um encontro conjunto com os ministros moçambicanos da Defesa, Jaime Neto, e do Interior, Amade Miquidade.