A temporada não está a correr propriamente bem ao Wolverhampton. A equipa de Nuno Espírito Santo está na segunda metade da tabela da Premier League, tem apenas seis vitórias em 19 jornadas desde o início da época e entrava no jogo desta quarta-feira com o Chelsea sem ganhar há seis partidas para o Campeonato. Ainda assim, apesar dos desaires e de estar longe do objetivo de garantir a qualificação para as competições europeias, existiu um momento na temporada do Wolves que foi pior do que todos os outros: a lesão grave de Raúl Jiménez, no jogo contra o Arsenal, que deixou o avançado mexicano sem sentidos e com um traumatismo craniano grave.

O jogo com o Arsenal foi no final de novembro. Jiménez foi hospitalizado, sujeito a uma cirurgia e só deixou o hospital dias depois. Visitou o centro de treinos algumas semanas depois, para dar uma imagem de recuperação e esperança, e recentemente voltou ao trabalho individual. A ideia de que o avançado ainda poderia voltar à competição esta temporada, a dada altura, pareceu totalmente inconcebível — mas Nuno Espírito Santo garante que o jogador pode mesmo recuperar a tempo de ainda voltar aos relvados até ao final da época.

“São excelentes as notícias quanto à forma como ele está a melhorar no dia a dia. Só vê-lo a correr, a levantar pesos e a fazer todas aquelas sessões intensas é um grande alívio para toda a gente porque, em primeiro lugar, está a pessoa”, disse o treinador na antevisão da partida com o Chelsea, deixando claro que o Wolves não vai apressar, de forma alguma, a recuperação do mexicano. “Não vamos correr quaisquer riscos. Temos de ser mesmo pacientes e tomar as decisões certas e isso vai ter de ser feito pelo cirurgião, pelos exames que vai fazer ao crânio. Ele continua a ser a mesma pessoa, sempre sorridente e consciente do processo que vai ter de atravessar para poder voltar mais forte. Mas temos agora de ver como é que o cérebro vai reagir à aceleração, à desaceleração, aos saltos, ao impacto, isso é outra questão. Isso virá com o tempo”, completou o técnico português.

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Certo é que, com o eventual regresso de Raúl Jiménez, o Wolves pode voltar a contar com aquele que ainda é o melhor marcador da equipa — mesmo sem jogar há oito semanas. Desde que o avançado lesionou, o conjunto de Espírito ganhou apenas uma partida para a Premier League e perdeu seis dos nove que disputou. Esta quarta-feira, depois de eliminar o modesto Chorley na Taça de Inglaterra, o Wolves tinha outro desafio: uma visita ao Chelsea, em Stamford Bridge. Um Chelsea que, do seu lado, também tinha uma quota parte de problemas.

Numa série de cinco partidas consecutivas sem vencer para a Premier League, os blues estão já no 10.º lugar e a mais de 10 pontos do topo da tabela. Frank Lampard não resistiu e foi despedido na segunda-feira e Thomas Tuchel, associado ao clube antes ainda antes de o lugar estar vago e logo depois de sair do PSG, foi o escolhido para suceder ao inglês. Anunciado esta terça-feira, orientou o primeiro treino na véspera da estreia e esta quarta-feira já escolhia o primeiro onze ao comando dos londrinos: um onze que incluía Thiago Silva, que orientou no PSG, mas deixava de fora Pulisic, em quem apostou no Borussia Dortmund. De início, jogavam ainda Azpilicueta, Jorginho e Giroud, com Tuchel a dar a ideia de querer resguardar-se em elementos experientes na estreia na Premier League, em detrimento de nomes mais jovens com Mason Mount, Tammy Abraham ou Timo Werner.

Do outro lado, o destaque era o regresso de Daniel Podence, que voltava ao onze depois de uma lesão. Rui Patrício, Rúben Neves, Nélson Semedo e Pedro Neto também eram titulares, a par de Adama Traoré, com Moutinho, Vitinha e Fábio Silva a começarem na condição de suplentes. No banco, estava também Willian José, avançado brasileiro que chegou esta semana ao Wolves emprestado pela Real Sociedad. Numa primeira parte que terminou sem golos, Thomas Tuchel não mexeu muito no sistema de Lampard e lançou uma linha defensiva de quatro, com dois médios mais recuados, Havertz enquanto falso ’10’ e Hudson-Odoi e Ziyech no apoio mais direto a Giroud. Os blues dominaram por completo o quarto de hora inicial, com a primeira linha de construção na zona do meio-campo, e impediam o Wolves de sair a jogar com uma pressão muito forte ao portador da bola.

Ainda assim, o Chelsea não conseguiu criar qualquer oportunidade de golo e perdeu intensidade à chegada aos 20 minutos. O Wolves teve a primeira aproximação à baliza de Mendy nessa altura, com um livre direto de Rúben Neves que passou por cima (22′), e o jogo tornou-se equilibrado a partir daí. Até ao intervalo, os blues tinham mais bola mas não conseguiam fazer absolutamente nada com ela: a equipa de Nuno Espírito Santo defendia muito bem, em bloco e de forma compacta, e não permitia qualquer progressão ao adversário, sendo Hudson-Odoi o principal inconformado do conjunto de Londres. A melhor ocasião do primeiro tempo pertenceu mesmo ao Wolves, com um cabeceamento por cima de Dendoncker na sequência de um cruzamento de Neto (40′), mas o jogo chegava ao intervalo com muito pouco para contar.

Ao intervalo, Espírito Santo tirou Aït-Nouri, que tinha tido muitas dificuldades para parar Hudson-Odoi durante  a primeira parte, e lançou Ki-Jana Hoever. A lógica da primeira parte, porém, teimava em repetir-se. O Chelsea tinha praticamente toda a posse de bola, passava a maioria do tempo no meio-campo adversário mas não tinha criatividade suficiente para ultrapassar a organização defensiva do Wolves; o Wolves defendia muito bem mas não conseguia aproximar-se da baliza contrária, errando sempre na hora do último passe e da última decisão. As melhores jogadas da partida até aí apareceram já para lá da hora de jogo, com um remate por cima de Chilwell (61′) e outro de Giroud para as mãos de Rui Patrício (64′), e os blues conseguiram nesse período desbloquear as linhas compactas do Wolves.

Logo depois da melhor oportunidade do jogo, uma tentativa de chapéu de Pedro Neto que bateu na trave (71′), Nuno Espírito Santo voltou a mexer e lançou o reforço Willian José para o lugar de Podence. Tuchel respondeu com Pulisic e Abraham, retirando Chilwell e Giroud, e a partida entrou nos últimos dez minutos com o resultado em aberto mas sem que nenhuma das equipas estivesse a merecer claramente um golo. Até ao fim, Mount e Moutinho ainda entraram mas o resultado ficou mesmo em branco. Ambas as equipas prolongaram as séries sem vitórias que atravessam e ambas as equipas parecem ainda longe de resolver os problemas que têm. Thomas Tuchel teve uma estreia em falso e precisa de assentar ideias e processos, principalmente no setor ofensivo. Já Nuno Espírito Santo continua a acreditar no regresso no Raúl Jiménez ainda esta temporada: porque precisa desesperadamente de voltar a ter uma equipa e não um grupo de jogadores.