O responsável pela delegação do Norte do INEM apresentou a demissão depois de ter sido noticiado que o instituto tinha vacinado contra a Covid-19 funcionários de uma pastelaria no Porto, confirmou à Lusa fonte do instituto. O conselho diretivo do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) “aceitou o pedido”.
Segundo noticiou este sábado o Correio da Manhã, a delegação regional do Norte do INEM incluiu os proprietários e funcionários de uma pastelaria do Porto no grupo de profissionais que foi vacinado na primeira fase do plano de vacinação.
Em declarações esta tarde aos jornalistas, António Rui Barbosa, o médico responsável pela delegação, explicou que só tinha duas opções: vacinar cidadãos não prioritários ou “deitar ao lixo” as 11 doses da vacina.
De acordo com o responsável, que admite ter tomado pessoalmente a decisão de vacinar proprietário e funcionários de uma pastelaria vizinha do edifício do INEM no Porto, a ordem foi dada porque o processo já estava “limitado pelo tempo” e não restavam naquela delegação do instituto quaisquer funcionários por vacinar.
“Eu sou médico, tenho um código deontológico, tenho princípios morais, éticos, que tenho de cumprir, e naturalmente a minha decisão não poderia ser outra a não ser dar a indicação para administrar a 11 cidadãos que estivessem em proximidade para o fazer”, assegurou António Rui Barbosa.
“O facto de serem estes obedeceu única e simplesmente ao princípio de segurança, de proximidade e disponibilidade das pessoas, portanto não foi indicado nominalmente ninguém”, prosseguiu, garantindo que apenas deu indicação aos funcionários do INEM para irem até à porta do edifício procurar 11 voluntários para receberem as doses em excesso.
No entanto, segundo avançou entretanto a Visão, o proprietário e os dez funcionários da pastelaria São Jorge não foram os únicos a receber a vacina contra a Covid-19. Júlio Magalhães, dono do Transturística, um restaurante nas imediações, especializado em francesinhas, terá sido contactado pelo INEM no início de janeiro, via telefone, para saber se teria disponibilidade e vontade de tomar a vacina da Pfizer. “É lá que muitos de nós vamos comer todos os dias há muito tempo”, disse à revista um dos técnicos envolvidos no processo de vacinação do instituto.
Depois de ter respondido afirmativamente, Júlio Magalhães terá recebido a primeira dose da vacina contra a Covid-19 na primeira semana de janeiro. Esta sexta-feira, dia 29, recebeu a segunda, acrescenta ainda a Visão.
Na quinta-feira, uma denúncia da Associação Nacional de Emergência e Proteção Civil (APROSOC) de que o instituto teria incluído na vacinação contra a Covid-19 profissionais não prioritários fez com que INEM viesse negar “todas e quaisquer acusações de favorecimento pessoal” no seu processo de vacinação.
Na altura, em comunicado, o instituto explicou que “solicitou apenas vacinas para os profissionais prioritários, tendo recebido as 1.174 doses de vacina anti-covid-19 Comirnaty® (Pfizer-BioNTech) solicitadas, que foram administradas a todos os profissionais prioritários que manifestaram interesse em ser vacinados”.
“Iniciado o processo de vacinação, foram identificados profissionais prioritários que não preenchiam os critérios para poderem receber a primeira dose da vacina, de acordo com as indicações de segurança do fabricante (Pfizer), nomeadamente por apresentarem contraindicações, com diagnóstico ou presença de sintomas indicadores de Covid-19, ou que tinham estado doentes com Covid-19 há menos de 90 dias”, referia a nota.
Na explicação, o INEM acrescentava ainda: “Considerando o tempo reduzido para administração da vacina, que após a descongelação deve ser administrada no prazo máximo de 120 horas, bem como as recomendações da Agência Europeia do Medicamento de que qualquer vacina não utilizada deveria ser descartada após a diluição, acrescido do facto de ser possível extrair seis doses por frasco, e não apenas as cinco doses inicialmente estipuladas (de acordo com as indicações do INFARMED), foi possível administrar as doses sobrantes aos profissionais do INEM que dão suporte à atividade de Emergência Médica, para evitar o desperdício destas”.
“Desta forma, para além das 1.174 vacinas solicitadas, foi possível administrar mais 92”, acrescentou.
Na mesma resposta, o INEM disse ainda que “os prazos estipulados para administração das vacinas após descongelação e diluição, bem como a logística de todo este processo de vacinação, nomeadamente a exigência de condições de assepsia na sua preparação, não permitiriam a administração destas doses sobrantes a pessoas externas, e em ambientes externos ao INEM”.