Um ano. Há precisamente um ano, Bruno Fernandes era apresentado como reforço do Manchester United depois de uma novela que se arrastava desde o verão anterior e que manteve o médio no Sporting na primeira metade de 2019/20. O internacional português chegava a Old Trafford num ótimo momento de forma, depois de uma época em que se tinha tornado o médio europeu mais goleador de sempre num único ano e com a responsabilidade de melhorar uma equipa que parecia perdida na própria identidade. Bruno, porém, fez muito mais.

Apesar de ter enfrentado desde logo a imprevisível paragem das competições, que congelou o futebol durante quase três meses, o médio português teve um impacto inegável na equipa, jogou e fez jogar, tornou-se um líder claro dentro do relvado e uma extensão de Solskjaer no relvado. E era por tudo isso que o Manchester United, este sábado, assinalava um ano da chegada de Bruno Fernandes como se já falasse de uma lenda do clube. Para além de resumir os números impressionantes do jogador de 26 anos no espaço de um ano — 52 jogos, 28 golos, 10 assistências –, o United partilhava uma fotografia nas redes sociais e deixava a descrição: “Neste dia em 2020, um certo magnífico português tornava-se um red“. Mas a verdadeira prova da influência de Bruno nos red devils ficava patente num dos comentários feitos à publicação, por um adepto. “Capitão”, lia-se simplesmente, numa ideia que já conta com quase mil likes.

Na antevisão da visita deste sábado ao Arsenal, Solskjaer fez o que fez sempre — não poupou elogios ao jogador português, que chegou numa altura em que o treinador norueguês já era colocado em causa. “Brilhante. Desde o primeiro dia que quis mudar o ambiente na equipa, a forma de jogar, o próprio staff… Foi uma grande contratação. É muito humilde e trabalha duro. Todos já viram o que ele faz dentro de campo”, explicou Solskjaer, garantindo estar “muito satisfeito” com o primeiro ano do médio em Inglaterra. “Estou muito satisfeito com o primeiro ano dele, que possa continuar assim durante muito tempo. Quanto mais acima na liga, mais pressão teremos em cima de nós. Os holofotes estão sobre ele, mas tenho a certeza de que consegue lidar com a pressão”, acrescentou, deixando ainda a ideia de que Bruno Fernandes nunca deixa de pensar em futebol.

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“Tem opinião própria, é um vencedor. Gosta de ser influente nos jogos, não gosta de falar apenas depois. Quer muito vencer e sabe muito de futebol. Vê todos os jogos que dão na televisão, especialmente jogos grandes. Se lhe perguntarem o que vê à noite, ele diz que vê sempre o jogo, seja ele qual for. Isso vai permitir-lhe tirar o máximo da sua carreira”, assegurou Solskjaer, terminando com a garantia de que o jogador português “encaixa na equipa e a equipa encaixa nele”. Este sábado, e como não poderia deixar de ser, Bruno Fernandes era titular contra o Arsenal, num jogo em que os red devils iam tentar voltas às vitórias depois da surpreendente derrota a meio da semana, em casa e contra o Sheffield United, e encurtar novamente a distância para o líder Manchester City, que horas antes já tinha derrotado o mesmo Sheffield.

Cavani e McTominay eram titulares, com Martial e Matic a começarem no banco, e Lindelof e Luke Shaw voltavam ao onze depois de terem sido poupados na jornada anterior, em detrimento de Alex Telles e Tuanzebe. Do outro lado, o Arsenal recebia o United num dos melhores momentos da temporada, com cinco vitórias nas últimas seis jornadas da Premier League, e Mikel Arteta lançava Cédric Soares na esquerda da defesa, enquanto que o recém-chegado Odegaard estreava-se nas convocatórias dos gunners e estava no banco de suplentes.

Numa primeira parte que terminou sem golos, a grande história até ao intervalo foi um duelo inesperado entre dois portugueses: Bruno Fernandes e Cédric, ambos antigos jogadores do Sporting, envolveram-se em duas discussões que deixaram o médio do Manchester United, principalmente, algo desconcentrado. Tudo começou logo nos instantes iniciais, quando Bruno ficou a pedir uma grande penalidade depois de ser desarmado por Cédric na grande área (8′); tudo piorou ainda antes de estar completo o primeiro quarto de hora, quando Cédric acertou com a mão na cara de Bruno durante uma disputa por uma bola pelo ar (13′). O médio atirou-se ao lateral, visivelmente irritado, e a discussão ficou a muito pouco de se tornar mais grave antes de ser interrompida por outros jogadores.

Arsenal v Manchester United - Premier League

Bruno Fernandes teve uma entrada muito dura sobre Xhaka, o capitão do Arsenal

Bruno Fernandes, claramente irritado, ainda arriscou quase tudo com uma entrada muito dura sobre Xhaka (15′), que o árbitro considerou acidental. Para lá da ausência de golos e da discussão entre os dois portugueses, a primeira parte do jogo foi muito interessante do ponto de vista tático: o Manchester United estava melhor, tinha mais bola e pressionava alto e de forma intensa, com Bruno e Pogba a serem preponderantes nas incursões pela corredor central; o Arsenal resguardava-se no próprio meio-campo mas aproveitava todas as recuperações de bola para soltar transições rápidas, normalmente conduzidas por Smith-Rowe. As melhores oportunidades pertenceram a Fred, que viu Bernd Leno roubar-lhe o golo com uma enorme defesa (20′), e a Pépé, que atirou ao lado na sequência de um contra-ataque (30′), mas Bruno Fernandes também ficou perto de marcar com um remate cruzado (34′). Antes do intervalo, Solskjaer ainda foi forçado a mexer pela primeira vez, devido a uma lesão de McTominay, e surpreendeu ao lançar Martial, um avançado, puxando Pogba em definitivo para o centro do terreno.

Na segunda parte, Arteta mexeu logo ao intervalo e trocou Gabriel Martinelli por Willian. A lógica da primeira parte, a partir daí, inverteu-se: o Arsenal aplicou uma pressão muito alta, uma intensidade muito acima da que tinha mostrado no primeiro tempo e dominou, em linhas gerais, o jogo. A melhor oportunidade dos gunners apareceu de livre direto, com Lacazette a bater de pé direito e a bola a esbarrar na trave da baliza de De Gea (65′), e ficava a ideia de que o Manchester United tinha sentido demasiado a saída de McTominay. Mesmo com Pogba no centro do terreno, a equipa não conseguia ter o equilíbrio no meio-campo que durante o primeiro tempo lhe garantiu superioridade e tinha falta de ideias e criatividade na primeira zona de construção. A entrada de Willian, por outro lado, fechou por completo o corredor direito que até ao intervalo tinha sido o grande filão do United, com o brasileiro a fazer uma dupla perfeita com Cédric tanto na transição defensiva como na movimentação ofensiva.

Solskjaer só mexeu a dez minutos do fim, ao trocar Rashford por Greenwood, e Odegaard estreou-se no Arsenal ao substituir Smith-Rowe já nos instantes finais. A ponta final da partida não teve grande discernimento tático e técnico, entre muitas paragens e alguns erros defensivos, e acabou por ficar marcada pela lesão de Lacazette, que saiu depois de um choque violento com Maguire. No fim, e num jogo que pode ser dividido entre as duas partes e aquilo que cada equipa mostrou em cada uma delas, não existiram golos. O Manchester United somou a segunda jornada sem ganhar e voltou a perder terreno para o City, estando agora a três pontos da liderança; o Arsenal tropeçou no melhor período que está a atravessar desde o início da temporada e mantém-se no oitavo lugar, entre o Chelsea e o Everton.