Continua a confusão no Parlamento sobre quem deve ou não ser vacinado já nesta fase. Depois de uma primeira controvérsia entre Eduardo Ferro Rodrigues e os deputados do PSD, desta vez o grupo parlamentar social-democrata enviou uma carta ao Presidente da Assembleia da República onde pede lista enviada ao primeiro-ministro “seja de imediato anulada” e defende a realização de uma nova, “minimalista”, e feita em consenso com os restantes grupos parlamentares.

O líder parlamentar do PSD pede ainda, nessa lista mininal, um “respeito escrupuloso com a expressão de vontade de cada um”. Na missiva enviada esta segunda-feira, Adão Silva critica a gestão que Eduardo Ferro Rodrigues fez de todo o processo e lamenta a “falta de transparência” que dominou toda a discussão.

Tudo começou na sexta-feira à noite quando o Observador deu conta do nome dos 50 deputados que se mostraram disponíveis para ser vacinados. A partir daí, vários deputados do PSD fizeram chegar ao Observador protestos sobre a forma como estavam abusivamente incluídos na lista enviada por Ferro a António Costa.

Na origem dessa inclusão abusiva esteve, na verdade, uma falha de comunicação no próprio grupo parlamentar do PSD. Ao longo do dia de sexta-feira, de acordo com o que o Observador conseguiu apurar, foram vários os deputados que enviaram emails a Adão Silva, presidente da bancada, a dizer que entendiam que não deviam ser considerados prioritários na vacinação. Só que essa comunicação nunca chegou a Eduardo Ferro Rodrigues.

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Chegados a este ponto, existem agora duas versões contraditórias. Segundo o que garantiu fonte do gabinete de Eduardo Ferro Rodrigues ao Observador, o PSD foi “avisado várias vezes” que deveria enviar a lista, que havia um prazo claro — no final do plenário de sexta-feira –, e que o grupo parlamentar social-democrata “não chegou sequer a enviar” a lista dos deputados que abdicavam de receber a vacina.

Na ausência de resposta, e seguindo o protocolo definido em Conferência de Líderes, Eduardo Ferro Rodrigues assumiu que todos aqueles que, no PSD, obedecessem aos critérios pré-definidos pela Assembleia estavam dispostos a ser vacinados, incluindo Rui Rio, que sendo líder do maior partido de oposição é considerado a oitava figura do Estado. Adão Silva tem outra leitura do que aconteceu.

“Pelas 17h00 horas do dia 29 janeiro, o Grupo Parlamentar do PSD informou o gabinete de Vossa Excelência que não estávamos em condições de enviar os nomes dos Deputados que não aceitavam ser vacinados, neste momento. Apesar de tal impossibilidade, Vossa Excelência decidiu enviar a carta, incluindo nela nomes que, publicamente, já se sabia que não queriam ser vacinados, neste momento, e outros que, apenas durante a manhã do dia 30, referiram a sua indisponibilidade”, escreve o líder da bancada parlamentar.

A inclusão de vários deputados do PSD na lista dos que seriam vacinados já nesta fase motivou estupefação na bancada social-democrata. Quando Eduardo Ferro Rodrigues percebeu que, afinal, alguns dos parlamentares não queriam constar da lista, fez saber do seu desagrado dizendo estar “muito negativamente” surpreendido com os avanços e recuos de todo o processo. Na missiva que esta segunda-feira Adão Silva envia, o líder parlamentar do PSD devolve-lhe o mimo.

“Imagine como ficaram negativamente surpreendidos os Deputados do Grupo Parlamentar do PSD que, não querendo agora ser vacinados, constavam naquela lista. Imagine ainda como eu, presidente do Grupo Parlamentar, fiquei negativamente surpreendido, tanto com o envio da referida lista, como com o teor de um SMS que Vossa Excelência enviou ao deputado Luís Marques Guedes, que este fez circular pelos deputados do PSD, no qual se referia, sem mais, que o grupo parlamentar do PSD não tinha mandado lista nenhuma”, escreve o social-democrata.