“O Sporting tem tem 50% do passe de Matheus Nunes e pagou 500 mil euros por essa parte. Tem a hipótese de comprar mais 40% por outros 500 mil euros. Temos todo interesse em comprar. Ele custou 500 mil. Do que eu já vi do Matheus Nunes, como está a treinar hoje com os colegas como Battaglia, Doumbia, Vietto… Não tenho dúvidas nenhumas de que vai pagar o Rúben Amorim. Só ele vai pagar o Rúben Amorim. Eu, para acertar no treinador, tem de ser competente e completamente em sintonia com a aposta nos jovens”.

A frase é de Frederico Varandas, em maio de 2020. Na altura, numa entrevista ao Canal 11, o presidente do Sporting lançava para o radar mediático um nome praticamente desconhecido da maioria dos adeptos: Matheus Nunes. O médio brasileiro era o exemplo dado por Varandas, ainda antes da retoma da temporada passada e em plena interrupção das competições, daquilo que era pretendido de Rúben Amorim. A aposta nos jovens, na formação, numa Academia que nos últimos anos tinha perdido influência na equipa principal. E Matheus, em conjunto com nomes como Tiago Tomás, Daniel Bragança, Gonçalo Inácio ou Eduardo Quaresma, estava na dianteira desse objetivo.

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Sete meses depois, o passo seguinte. O Sporting chegou a acordo com o Estoril, o clube ao qual tinha contratado o jovem médio em 2018/19, e adquiriu os restantes 50% do passe do jogador por 450 mil euros, ficando com a totalidade dos direitos desportivos de Matheus Nunes. Nessa altura, o brasileiro já se tinha estreado na equipa principal e assumido um papel regular no onze inicial de Rúben Amorim — durante a retoma, em conjunto com Wendel, era uma das peças quase constantes no meio-campo. A nova temporada chegou e Matheus Nunes perdeu a titularidade face às inclusões de João Mário e João Palhinha no plantel. Ainda assim, nunca perdeu minutos: tem sido opção regular para saltar do banco, para substituir um dos dois elementos do setor intermédio leonino, exibindo uma coerência exibicional acima da média. Esta segunda-feira, face à inicial ausência de João Palhinha, a titularidade do jovem médio foi lógica.

Matheus jogou os 90 minutos, ficou em campo quando Rúben Amorim lançou Palhinha — saiu João Mário — e mostrou sempre uma maturidade acima da média para quem, com apenas 22 anos, estava a liderar o meio-campo do Sporting contra o Benfica em Alvalade. Foi o pêndulo da equipa, entre o equilíbrio defensivo e o desequilíbrio ofensivo, e acabou por ver a enorme exibição ser recompensada com o golo da vitória, no segundo minuto de descontos.

Depois de ter sido dispensado do Oriental na sequência de uma lesão, o jovem médio chegou ao Sporting após dar nas vistas no Estoril — mas antes tinha passado pelo Ericeirense. Foi durante esse período que chegou a treinar à experiência no Leicester, no Lille, no Sp. Braga e no Benfica, sempre sem sucesso. Agora, e dias depois de os leões terem recusado uma proposta do Newcastle pelo jogador, Matheus Nunes foi o herói que deixou a equipa de Rúben Amorim a nove pontos dos rivais encarnados. Naturalmente considerado o Homem do Jogo, foi chamado à flash interview e garantiu estar a ter uma temporada “fantástica”.

“Muita felicidade. Este resultado é trabalho que vem de trás. Estou muito feliz, orgulhoso da equipa pelo trabalho que fizemos. É continuar. Estivemos bem desde o início do jogo e é uma vitória justa. Fizemos tudo o que o mister pediu”, explicou, acrescentando que os nove pontos de vantagem para o Benfica “não significam nada”. “Ainda há muito Campeonato pela frente, estamos no final da primeira volta e muita coisa pode acontecer”, concluiu.

A palavra de São Matheus é tudo menos milagre (a crónica do Sporting-Benfica)