“Se não se devolver a palavra a todos os militantes qualquer solução ficará coxa”. É assim que Telmo Correia defende, num artigo publicado no jornal Público esta sexta-feira, que o CDS não pode “negar” a realidade nem “fazer política de avestruz” perante as demissões que ocorreram no partido e perante o cenário que as eleições presidenciais deixaram a descoberto. Devolver a palavra aos militantes, através de um congresso antecipado é, no seu entender, “inevitável”.
“O CDS, na minha opinião, não deve ignorar o facto de, não obstante ter apoiado o candidato vencedor nas eleições presidenciais, ter, ao mesmo tempo, visto surgir uma ondinha liberal (nada do que os próprios esperavam ou anunciavam) mas, sobretudo, ter visto um tsunami de eleitores descontentes entregarem o seu voto a uma candidatura populista de um partido à sua direita. Isso, por si só, obrigaria a uma reflexão e a uma reação. Negar o problema é sempre um erro“, lê-se no texto, onde Telmo Correia defende que o resultado das eleições presidenciais deveria obrigar a uma “reorganização” não só do CDS como também de todo o “centro direita”.
Trata-se de uma crítica implícita ao atual líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, que, na noite eleitoral, fez um discurso de vitória agarrando-se a Marcelo Rebelo de Sousa e ignorando a fuga de votos da direita para partidos como o IL e, sobretudo, o Chega. “Não podemos fazer política de avestruz e ignorar a realidade”, diz Telmo Correia, afirmando que a única forma de o CDS contar para uma solução alternativa ao PS é “fazer prova de vida” indo a votos e mostrando, dessa forma, a sua “força e vitalidade”.
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Ou seja, o problema não se resolve com uma moção de confiança no Conselho Nacional (órgão máximo do partido que vai reunir este sábado), mas apenas se resolve, no seu entender, com um congresso extraordinário que envolvesse todos os militantes e todas as correntes ideológicas e doutrinárias que têm assento no partido, dos democratas-cristãos aos liberais passando pelos conservadores.
Para Telmo Correia, independentemente das candidaturas que possam surgir para a liderança, ou mesmo mantendo-se Francisco Rodrigues dos Santos na liderança, o importante é não ignorar a realidade — perante as demissões que houve e a discussão que se instalou — e devolver a palavra aos militantes. Será “um erro” se o CDS e o seu presidente “se fecharem no reduto de uma cidade proibida virtual alheios à realidade do que diz a sociedade e a uma realidade política que exige respostas imediatas”, diz ainda, alertando Francisco Rodrigues dos Santos para uma liderança que ficará “coxa” se não for consagrada em congresso.
“Como temos visto a propósito desta pandemia que assola o país, adiar o inevitável é sempre um erro. E é por isso que, quaisquer que venham a ser as decisões dos próximos dias, há um facto que me parece incontornável: a realização de um congresso antecipado”, remata o líder parlamentar centrista.