Mais de 20 anos, 327 jogos depois. O momento negativo do Tottenham era demasiado evidente, com apenas duas vitórias em dez jogos que levaram a equipa da liderança partilhada da Premier League com o Liverpool ao oitavo lugar (nono a meio desta 23.ª jornada depois do triunfo do Aston Villas frente ao Arsenal). No entanto, houve outro ponto baixo ainda mais sintomático após o desaire caseiro dos spurs a meio da semana com o novo Chelsea de Thomas Tuchel: pela primeira vez na carreira de mais de duas décadas, José Mourinho perdeu encontros seguidos em casa. Nunca tinha acontecido, provavelmente muitos não acreditavam que fosse acontecer mas as lacunas voltaram a sobrepor-se às virtudes, ainda para mais com a referência Harry Kane de fora por lesão.

“Eu coloco pressão sobre mim todos os dias. Todos os dias. Não preciso da pressão dos outros. Desde 2012 que não sofríamos três derrotas consecutivas? E há quanto tempo é que não vencemos a liga? Talvez eu possa dar um título [ao Tottenham]”, atirou o português, instado a comentar mais um marco negativo na caminhada dos londrinos mas dando como resposta o longo jejum de vitórias no Campeonato da equipa que leva já 60 anos, sendo que a equipa está ainda na Taça de Inglaterra (joga a meio da semana fora com o Everton), na Taça da Liga (está na final com o Manchester City, em abril) e na Liga Europa (defrontar o Wolfsberger nos 16 avos da competição).

As opiniões dividem-se. Rio Ferdinand, antigo internacional inglês e figura do Manchester United, considerou no jogo com o Chelsea que Mourinho iria sofrer mais com adeptos no estádio, dizendo que a equipa não mostra um padrão de jogo para superar os principais desafios. Jermaine Jenas, outro ex-internacional e que passou pelo clube, mostrou-se convicto que a hipótese de saída do português não existe, recordando os objetivos que podem ainda ser ganhos até ao final da temporada. No entanto, e ao contrário do que acontecia há dois meses quando estava no topo dos elogios para levar a equipa à liderança da Premier League com exibições sólidas que mostraram a “vitória” de uma fórmula tática com Höjberg com Sissoko e Ndombelé no meio, o treinador vive dias complicados.

Por atravessar essa “fase”, tudo o que envolva o seu nome é notícia, como aconteceu com Sahil Arora. O indiano de 29 anos de Nova Deli, assumido adepto do Manchester United, ganhou cerca de 6.000 euros numa aposta com a derrota sofrida pelo Tottenham frente ao Brighton e aproveitou parte do prémio para comprar uma página de um jornal local do norte de Londres para publicar um anúncio com um texto irónico. “Caro José, este anúncio foi pago com as 5.000 libras que ganhei graças à derrota dos spurs com o Brighton. Aqui fica um troféu especial para lhe agradecer – deve ser o único troféu que vai ganhar esta época”, escreveu, num texto acompanhado com uma taça com picotado à volta para ser recortada. Este domingo, o português “deixou” uma dica aos apostadores: quando Harry Kane está em campo, como voltou a acontecer após lesão, as possibilidade de vitória em jogos da Premier League sobem de 30% para 51%. E foi o avançado que fez a diferença no triunfo por 2-0 com o WBA.

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Abdicando do habitual triângulo no meio-campo trocando Sissoko por uma unidade mais ofensiva como Lamela, o Tottenham preparou-se para chocar contra um WBA sem vergonha em estacionar um autocarro de dois andares à frente da baliza e num espaço de pouco mais de 20 metros. E oportunidades não faltaram, apesar de nem sempre os londrinos terem apresentado as melhores soluções para furarem a muralha contrária. Ainda assim, entre uma bola no poste de Harry Kane (15′), remates perigosos de Lamela e Son e duas grandes defesas de Johnstone, o nulo manteve-se mesmo até ao intervalo, com Diagne a ter a única chance da equipa de Sam Allardyce em cima dos 45 minutos, com um cabeceamento na área ao segundo poste travado em cima da linha por Lloris.

Logo a abrir o segundo tempo, Johnstone voltou a evitar com o pé o golo inaugural de Son mas o Tottenham iria mesmo chegar à vantagem e com Höjberg, a grande contratação da presente temporada, a encontrar Kane num passe que saltou linhas e que deu oportunidade ao avançado de trabalhar para o remate sem hipóteses (54′). O WBA tinha como objetivo único não sofrer, a partir daí tinha também de juntar a isso a meta de marcar. E foi entre essas duas ideias quem apenas quatro minutos depois, Son aumentou a vantagem e colocou o conjunto de José Mourinho com outro conforto a gerir a vantagem a pensar também no próximo jogo da Taça de Inglaterra, entre dois golos bem anulados aos visitados nos únicos dois lances em que chegaram com sentido ao último terço e a estreia de Dane Scarlett, de 16 anos, que entrou para o lugar de Son já no período de descontos.