Oitenta e um eurodeputados pediram esta terça-feira a demissão do Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, após a sua visita a Moscovo, que qualificam de “humilhante”.

Numa carta endereçada à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, os 81 signatários mostram-se “muito preocupados com os desenvolvimentos humilhantes” decorrentes da visita de Josep Borrell a Moscovo e pedem que Von der Leyen “tome medidas”.

O erro de julgamento de Borrell ao decidir, proativamente, visitar Moscovo, e a sua incapacidade em defender os interesses e os valores da UE durante a sua visita, causaram danos graves à reputação da UE e à dignidade do cargo de Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros. Acreditamos que a presidente da Comissão Europeia deveria tomar medidas, se Borrell não se demitir por sua própria vontade”, lê-se na missiva.

Frisando que o chefe da diplomacia europeia decidiu deslocar-se a Moscovo “pela sua própria iniciativa”, mostrando “desconsideração pelos crimes cometidos pelo regime de Putin contra os seus opositores políticos”, os signatários referem também que Borrell não “defendeu os interesses da UE”.

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“Em vez de condenar veementemente a detenção de Navalny e visitá-lo na prisão, Borrell declarou erradamente que não tinha havido discussões sobre sanções da UE [à Rússia] devido ao encarceramento de Navalny. Esta declaração estava incorreta já que vários Estados-membros, ao mais alto nível, apelaram [a que sejam introduzidas] sanções”, apontam.

Os eurodeputados criticam ainda a postura de Borrell durante a conferência de imprensa conjunta com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, acusando o Alto Representante de não ter reagido enquanto o ministro russo “criticava ferozmente” os Estados Unidos e a UE.

“Lavrov até disse que os líderes da UE estão iludidos e são culturalmente arrogantes ao acusarem a Rússia de tentativa de homicídio de Navalny. Em vez de enfrentar Lavrov, Borrell atacou o nosso principal aliado, os Estados Unidos, sobre a questão de Cuba”, destacam.

No que se refere à expulsão de diplomatas da Alemanha, Polónia e Suécia da Rússia – uma decisão anunciada pelo Kremlin na sexta-feira passada, quando Borrell se encontrava em Moscovo – os eurodeputados afirmam também que o chefe da diplomacia europeia foi incapaz de “enviar um sinal resoluto” ao não terminar a sua visita nesse momento.

Além das “transgressões” referidas, os signatários salientam ainda que o Alto Representante “não mencionou a guerra em curso no leste da Ucrânia”, aproveitando, em contrapartida, “a oportunidade para apoiar a vacina russa contra o coronavirus, Sputnik V, ainda que não tenha sido aprovada pela Agência Europeia do Medicamento”.

Os 81 eurodeputados pedem assim que o Alto Representante se demita ou que a Comissão Europeia o retire das suas funções.

Josep Borrell deslocou-se à Rússia entre 4 e 6 de fevereiro, uma visita que ficou marcada pela expulsão de diplomatas da Alemanha, Rússia e Polónia por Moscovo.

Numa nota publicada no domingo no blog do Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE), Borrell qualificou a visita de “muito complicada”, marcada por uma “conferência de imprensa agressivamente encenada” e pela indicação de que “as autoridades russas não querem aproveitar” a oportunidade para “ter um diálogo construtivo com a UE”.

O meu encontro com o ministro Lavrov e as mensagens emitidas pelas autoridades russas durante a minha visita confirmam que a UE e a Rússia estão a distanciar-se. Parece que a Rússia está a desconectar-se progressivamente da Europa e a ver os valores democráticos como uma ameaça existencial”, lê-se na nota do chefe da diplomacia.

O PE, reunido esta semana em sessão plenária, irá discutir esta tarde o “tumulto político” na Rússia, incluindo a detenção do opositor russo Alexei Navalny e as manifestações em seu apoio “em todo o país”, com Borrell.