Na primeira metade de 2017, o Vancouver Whitecaps do Canadá e o Tigres do México encontraram-se nas meias-finais da Liga dos Campeões da CONCACAF. Os mexicanos venceram os dois jogos da eliminatória e seguiram para a final, onde acabaram derrotados pelo Pachuca, também do México. No final da segunda mão da meia-final, porém, o jovem lateral dos Whitecaps, de apenas 16 anos, pediu ao experiente avançado do Tigres para trocarem de camisola — um pedido que lhe foi concedido. O jovem lateral era Alphonso Davies e o experiente avançado era André-Pierre Gignac.

Ora, mais de três anos depois, na antecâmara do jogo dos quartos de final da Liga dos Campeões em que o Bayern Munique goleou escandalosamente o Barcelona por 2-8, no Estádio da Luz, Alphonso Davies falou sobre a felicidade de jogar contra Lionel Messi, alguém que considerava um ídolo. “Poder jogar na Liga dos Campeões, contra um dos meus jogadores favoritos no mundo inteiro, é incrível. Honestamente, nem tenho palavras. É um sonho tornado realidade”, disse o lateral canadiano. Ora, poucas horas depois, e num momento de claro sentido de humor, Gignac recorreu ao Twitter para recordar a fotografia de Davies com a sua camisola na mão, em 2017, e escreveu: “Pensei que eu é que era o teu ídolo! Brincadeira! Que nível a que tu chegaste, fantástico!”.

Quatro anos depois da meia-final da Liga dos Campeões e seis meses depois da curiosa interação nas redes sociais, Alphonso Davies e Gignac voltavam a encontrar-se. Bayern Munique e Tigres defrontavam-se na final do Mundial de Clubes, depois de terem eliminado Al Ahly e Palmeiras, respetivamente, e o treinador dos alemães não subvalorizava os mexicanos. “Vi a meia-final e fiquei impressionado pela forma como jogaram. Jogam de forma muito intensa e têm muita qualidade ofensiva pelas laterais. Vão exigir o máximo de nós. Vai ser um jogo difícil. Temos de estar atentos. O Tigres sabe construir e desenvolver bem o seu jogo, tem velocidade nas faixas e, no ataque, dispõe de jogadores que marcam golos. Temos de estar totalmente concentrados desde o início do jogo e aproveitar as ocasiões que construimos”, explicou Hansi Flick.

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O Bayern Munique disputava a final do Mundial de Clubes pela segunda vez, depois de em 2013 ter conquistado o troféu ao vencer os marroquinos do Raja Casablanca, e tinha a oportunidade de continuar o percurso impressionante que dura desde a temporada passada: e que passa por ganhar todas as competições em que está envolvido. Depois da Bundesliga, da Taça da Alemanha, da Supertaça alemã, da Liga dos Campeões e da Supertaça Europeia, os bávaros podiam continuar a saga ao acrescentar o Mundial de Clubes. Sem Boateng, que regressou a Munique devido a assuntos pessoais, mas também sem Goretzka, Javi Martínez e Müller, que testaram positivo para a Covid-19, Flick lançava Sané, Coman e Gnabry no apoio mais direto a Lewandowski. O jovem português Tiago Dantas estava no banco dos alemães e, do outro lado, destacava-se a titularidade de Diego Reyes, central que passou pelo FC Porto. Davies e Gignac, os dois velhos conhecidos, estavam também nos onzes de cada uma das equipas.

Numa primeira parte que terminou sem golos, o Bayern Munique foi naturalmente superior e criou as únicas verdadeiras oportunidades. Os alemães ainda festejaram, graças a um remate de fora de área de Kimmich que bateu Guzmán e entrou na baliza (18′), mas o lance foi anulado depois de o árbitro analisar as imagens do VAR: no entender da equipa de arbitragem, Lewandowski estava fora de jogo na grande área e, apesar de não ter tocado na bola, fez uma simulação que teve influência na jogada. Salcedo, central do Tigres, anulou um lance de perigo desenhado por Davies na esquerda com um grande corte (24′) e Coman, logo depois, atirou de longe para obrigar o guarda-redes adversário a uma grande defesa (25′).

Na ida para o intervalo, com tudo ainda empatado, ficava a ideia de que o Bayern era claramente melhor — contudo, os alemães perderam velocidade e intensidade com o passar dos minutos e chegaram ao fim da primeira parte já sem grande presença no último terço mexicano. O Tigres fazia uma partida de enorme desgaste, quase sempre sem bola e quase sempre a defender — com Gignac numa posição muito recuada e a ser o primeiro defesa da equipa –, mas mostrou a espaços que podia surpreender com um passe vertical colocado na profundidade de Aquino ou Quiñónes.

Na segunda parte, sem que nenhuma das equipas tivesse feito qualquer substituição ao intervalo, a dinâmica do primeiro tempo manteve-se e Gnabry foi o autor da primeira oportunidade, com um remate por cima da trave (51′). O momento que acabou por marcar a final, porém, estava reservado para Pavard e para um remate à passagem da hora de jogo: Kimmich cruzou para a grande área, Lewandowski fez-se à bola e atrapalhou Guzmán e a bola sobrou para o francês, que atirou para a baliza deserta (59′). O lance começou por ser anulado, inicialmente por alegado fora de jogo de Pavard, mas o recurso às imagens do VAR mostrou que o lateral estava em posição legal.

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Flick reagiu à vantagem com a entrada de Tolisso para o lugar de Gnabry e a partida entrou numa espécie de velocidade-cruzeiro, com o Bayern a manter a larga maioria da posse de bola e o Tigres sem conseguir contestar o resultado, sempre muito longe da baliza de Neuer e com os setores demasiado distantes. Musiala, Choupo-Moting e Douglas Costa ainda entraram nos alemães, o treinador dos mexicanos só mexeu a dez minutos do fim, ao trocar Rodríguez por Quiñones, e o relógio foi avançado até ao fim do tempo regulamentar. Tolisso teve nos pés a confirmação da vitória, com um remate ao poste (81′), Gignac falhou a bola e pontapeou o ar quando já estava na pequena área (83′) e a final terminou com a vitória previsível do Bayern — apesar de os alemães nunca terem sido esmagadores.

O Bayern Munique conquistou o Mundial de Clubes, voltou a não perder uma final e juntou mais um troféu aos recentes Bundesliga, Taça da Alemanha, Supertaça alemã, Liga dos Campeões e Supertaça Europeia, sucedendo ao Liverpool no topo da competição internacional de clubes e chegando ao sexto título referente ao ano de 2020. O Tigres lutou até ao fim, sempre comandado por Gignac, mas não conseguiu eliminar a vantagem dos europeus — que de teórica foi a factual, sendo esta a oitava edição consecutiva do Mundial a ser conquistada por uma equipa europeia.