Quem o disse foi o diretor de áreas de suporte da Agência Lusa, Joaquim Carreira, numa reunião entre a comissão de trabalhadores e a administração da agência no dia 21 de janeiro. Joaquim Carreira admitiu ainda que “a situação de tesouraria não é fácil”, estando a agência a aguardar uma solução “o mais rapidamente possível” do lado do ministério das Finanças, liderado por João Leão. O mesmo diretor, que frisou que a situação “é recorrente”, adiantou que a Lusa só tem tesouraria para um mês e meio. É que mesmo com uma transferência – de cerca de 600 mil euros – que entretanto foi feita, a situação apenas está equilibrada até ao final de fevereiro. O Observador teve acesso a um comunicado enviado pela Comissão de Trabalhadores a todo o quadro, a dar conta de todos estes números.
A situação financeira da Agência Lusa foi um dos pontos mais debatidos naquela reunião entre trabalhadores, direção e administração. O presidente do conselho de administração, Nicolau Santos, adiantou, numa reunião que se realizou por vídeo-conferência, que a Lusa “ainda não tinha à data recebido qualquer verba referente aos 1,5 milhões de euros aprovados pelo parlamento em acréscimo ao orçamentado para 2020”. Na verdade, após a reunião o Governo acabaria por transferir parte da verba, mais concretamente 604 mil euros, relativos ao pagamento da inflação devida.
No entanto, mesmo com a transferência deste montante “a situação de tesouraria não é fácil”. Este valor, lê-se no comunicado enviado aos trabalhadores, equilibra a tesouraria da Agência Lusa apenas por um mês e meio, ou seja, apenas “até ao final de fevereiro”.
O Orçamento do Estado para 2021 prevê uma indemnização compensatória de 12,8 ME acrescida de 300 mil euros de compensação pela inflação. No entanto, ainda não há um novo contrato-programa assinado com o Estado, pelo que – tal como no ano passado – a solução poderá passar por uma resolução do Conselho de Ministros a autorizar a transferência da verba para a Lusa.
E mesmo esse valor é considerado insuficiente pelos altos quadros da Lusa. O diretor de áreas de suporte, Joaquim Carreira, sublinhou que os 12,8 milhões de euros, acrescidos de 300 mil euros (relativos à inflação), são “insuficientes para as necessidades futuras da Lusa”, o que justifica que – no ano de 2020 – tenha sido pedido o reforço de 1,5 milhões de euros. O mesmo diretor admitiu também que – se a situação não se alterar – a Lusa poderá terminar o ano em prejuízo, o que já poderia ter acontecido em 2020, não fosse a excecionalidade do ano. “Já não há mais cortes e poupanças que se possam fazer”, disse Carreira, citado no comunicado.
“Numa situação normal, se calhar, no ano passado já teria soado o alarme de outra maneira para o Estado”, concluiu o responsável.
Alterações na composição acionista da Lusa também preocupam trabalhadores
O presidente do conselho de administração Nicolau Santos escusou-se a fazer comentários, pela sua posição de administrador delegado da agência, sobre a anunciada venda da participação acionista da Impresa na Lusa ao empresário Marco Galinha, do grupo Bel, que entrou também na composição acionista da Global Media. Disse que não foi chamado pela tutela [para discutir o assunto], mas que tem feito, junto do Ministério da Cultura, de Graça Fonseca, um acompanhamento informal do negócio, ainda não concretizado.
Joaquim Carreira sublinhou que nada na lei impede que a transação se conclua e que, por não estar legalmente previsto, o Estado não pode invocar qualquer direito de preferência na compra.
Nicolau Santos disse ainda que a relação da Lusa com os acionistas não se confunde com a relação com os clientes, ainda que tenham essa dupla condição. Disse ainda ter conhecimento de “uma disposição” para que a Global Media comece a pagar faseadamente a dívida que tem para com a agência.