Durante o primeiro confinamento em França (de 15 de março a 9 de maio de 2020), a proporção de crianças no ensino pré-escolar que teve contacto com o vírus SARS-CoV-2 foi menor do que o da população em geral na região de Paris (10%), concluiu um estudo publicado na revista científica The Lancet. O trabalho verificou ainda que os funcionários do estabelecimento de ensino apresentavam um risco de ser infetados semelhante ao dos profissionais de saúde que não estavam em contacto direto com doentes Covid-19 ou com crianças (grupo de controlo).
As crianças incluídas neste estudo eram consideradas de alto risco, por serem filhos dos profissionais de saúde de primeira linha ou de outros serviços essenciais no combate à pandemia, mas a conclusão foi que a proporção de crianças que apresentavam anticorpos contra o coronavírus, nas quatro a oito semanas depois de terminado o confinamento, era baixa.
Segundo os investigadores, o principal fator associado à presença de anticorpos nas crianças, que determina que houve uma infeção prévia com o SARS-CoV-2, foi haver pelo menos um caso confirmado de infeção no agregado familiar. Os resultados parecem indicar que não houve um aumento de transmissão nos estabelecimentos que se mantiveram abertos para acolher estas crianças, conclui a equipa de Camille Aupiais, médica no Hospital Jean Verdier (França).
Também é verdade, que foram implementadas medidas preventivas estritas, como aumento da desinfeção, contactos exclusivos dentro da bolha familiar ou do pequeno grupo na turma e uso de máscara pelos funcionários. Também foi recomendado que as crianças com sintomas não frequentassem a escola.
Os funcionários dos estabelecimentos de ensino pré-escolar também não estiveram expostos a um maior risco de serem infetados com o coronavírus, concluem os autores. A proporção de funcionários infetados foi equivalente à dos profissionais de saúde que não tinham contacto direto com doentes Covid-19 nem com crianças. A maior parte destes funcionários apresentou sintomas ligeiros e o mais provável é que tenham sido infetados por um elemento do agregado familiar do que na escola, escrevem os investigadores.
Os investigadores reconhecem limitações no estudo, mas dizem também que está em linha com conclusões de trabalhos anteriores em que se excluía que as crianças fossem o principal fator de transmissão na comunidade ou que fossem o primeiro caso de infeção dentro do agregado familiar (ou seja, não eram eles que levavam o vírus para casa). Trabalhos anteriores também referiam que as infeções são menos frequentes nas crianças do que nos adultos e que a taxa de transmissão nas escolhas e estabelecimentos de ensino para crianças com menos de seis anos é baixo.