Carmen Dolores foi muitas coisas para Diogo Infante — mãe, confidente, musa inspiradora –, mas será da amiga que o ator e encenador mais sentirá falta. Em declarações à Agência Lusa, Infante admitiu encontrar as palavras certas para fazer justiça ao que a atriz, que morreu os 96 anos, significa para si.
“Foi minha mãe, minha confidente, minha musa inspiradora, mas sobretudo minha amiga e é dessa de quem sentirei mais falta… Obrigado, querida Carmen, por tudo!”, disse numa mensagem enviada à Lusa. Enquanto se debate “entre a emoção por encontrar as palavras certas que façam justiça” a Carmen Dolores, “ao seu talento e ao seu legado” e expressem o seu “amor, carinho e gratidão”, Infante ouve-a dizer baixinho: “não exageres…”.
“Carmen será sempre lembrada como uma figura maior do teatro português, como uma atriz apaixonada pela sua arte, uma mulher de uma delicadeza e generosidade desconcertantes”, disse ainda o diretor artístico do Teatro da Trindade, onde em 2018 se realizou um espetáculo de homenagem à atriz, “Carmen”, inspirado no seu livro de memórias.
Foi também o “legado de humanidade” que a atriz e amiga Lídia Franco recordou em declarações à Rádio Observador: “Era uma grande artista, da qual podemos sempre recordar (…) o trato, a delicadeza, o amor, a compreensão, o pôr-se no lugar do outro. São exemplos que deixa para todos nós”, disse. “Acho que todos os meus colegas, sem exceção, a recordam como uma segunda mãe, não só na atenção que nos prestava sempre que nos aproximávamos dela ou quando sentia que precisávamos de alguma coisa, mas também no seu comportamento ético.”
Morreu Carmen Dolores, a “voz linda” que trocou a rádio pelo teatro
Diretor do Teatro Nacional D. Maria II destaca “enorme dignidade e elegância”
O diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II destacou o “extraordinário talento” e a “enorme dignidade e elegância” de Carmen Dolores.
“O extraordinário talento de Carmen Dolores andava de mãos dadas com uma enorme dignidade e elegância”, escreveu Tiago Rodrigues na sua página o Facebook, recordando os anos de atividade da atriz, o seu papel pioneiro no teatro independente, em particular através do Teatro Moderno de Lisboa, e o modo como desde o início da carreira esteve ligada ao Teatro Nacional.
Carmen Dolores “marcou as nossas vidas e a existência do Teatro Nacional D. Maria II, onde trabalhou desde o início dos anos 50 em inúmeras peças e até ao final dos anos 90”, disse. “Durante toda a sua carreira, sem esquecer a breve mas importantíssima aventura que foi o Teatro Moderno de Lisboa, Carmen Dolores foi um exemplo para todos nós. É com profunda tristeza, mas grande sentimento de gratidão, que lhe digo adeus.”
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Ministra da Cultura lembra “a voz inesquecível que trouxe poesia aos portugueses e o talento que ajudou a transformar o teatro em Portugal”
Num comunicado emitido durante a tarde desta terça-feira, Graça Fonseca lamentou “profundamente” a morte de uma “atriz de muitos recursos e talentos”, que teve um “papel fundamental na história do teatro contemporâneo em Portugal”, ajudando a transformá-lo.
Recordando a passagem da atriz pela companhia de Amélia Rey Colaço e o seu papel na fundação do Teatro Moderno de Lisboa, “uma instituição pioneira e marcante na história do teatro independente em Portugal”, a ministra da Cultura afirmou que “Carmen Dolores pertence a uma geração de atores que transformou o teatro em Portugal, entregando-lhe um saber e uma prática assentes numa relação de compreensão pela palavra, e a importância das suas consequências”.
“O seu percurso é marcado por exemplos onde o poder da interpretação não se extingue na relação entre o ator e o espetador, mas se prolongou numa luta constante entre a liberdade e a censura, entre a força e determinação em fazer vingar ideais e valores de defesa da dignidade humana, entre o político e a ação individual”, afirmou. “Carmen Dolores transformou o seu trabalho e o seu talento num legado único e num serviço de exceção à cultura portuguesa.”
Graça Fonseca fez ainda notar o papel de educadora de Carmen Dolores que, com a sua voz “única” e “inesquecível”, deu a conhecer “a diversidade e a riqueza da literatura portuguesa”.
António Costa: “Uma atriz de uma delicadeza rara, modesta para quem tão admiravelmente marcou o teatro português”
O primeiro-ministro reagiu no Twitter à morte de Carmen Dolores, “a atriz que amava a palavra”. Num tweet publicado ao final da tarde desta terça-feira, António Costa descreveu Dolores como “uma atriz de uma delicadeza rara, modesta para quem tão admiravelmente marcou o teatro português e inspirou nos outros o gosto pelo teatro”.
“Carmen Dolores, a atriz que amava a palavra, deixou-nos. Continuará connosco, no palco da memória”, escreveu o governante.
Era uma atriz de uma delicadeza rara, modesta para quem tão admiravelmente marcou o teatro português e inspirou nos outros o gosto pelo teatro. Carmen Dolores, a atriz que amava a palavra, deixou-nos. Continuará connosco, no palco da memória. pic.twitter.com/avIRMyCjFg
— António Costa (@antoniocostapm) February 16, 2021
Marcelo evoca “talento” e “carreira distinta” da atriz
Numa nota publicada esta terça-feira no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa evocou o “talento de Carmen Dolores, a sua carreira distinta” e “uma certa ideia” que a atriz tinha “de estar em palco e de estar no espaço público”. Lembrando a homenagem feita a Dolores no Teatro Trindade em 2018, o Presidente da República descreveu “esse reconhecimento, expressivo, simultâneo e constante, do público, dos pares e dos responsáveis políticos” como sendo “tão significativo quanto justo”.
Destacando o seu variado percurso artístico, que incluiu a interpretação rigorosa e elegante de “clássicos” e de “clássicos modernos”, “com uma presença que impressionou diferentes gerações”, Marcelo lembrou ainda o papel de Dolores na divulgação da poesia “e como autora de livros de memórias, o último dos quais intitulado Vozes Dentro de Mim. Vozes que se exprimiram na sua voz e dicção inconfundíveis, e que continuarão connosco e com os vindouros”, afirmou o Presidente, apresentando as “sentidas condolências” à família da atriz.
Sociedade Portuguesa de Autores: era “uma das maiores atrizes portuguesas do século XX”
A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) lamentou a morte de Carmen Dolores, recordando-a como “uma das maiores atrizes portuguesas do século XX” e uma mulher de grande sensibilidade e bom gosto”.
Num comunicado divulgado esta terça-feira, a SPA salientou “a importância da sua carreira — de mais de 60 anos – como grande atriz”, referindo que Dolores, que era membro da associação desde 1994, “foi figura destacada nas mais importantes companhias portuguesas”.