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Missão "Perseverance" da NASA, em busca de vida extraterrestre, já chegou a Marte

Este artigo tem mais de 3 anos

Perseverance vai vasculhar Marte em busca de sinais de vida no passado marciano. Sobreviveu aos "sete minutos de terror" ao atravessar a atmosfera. Siga a histórica missão aqui.

As desérticas paisagens marcianas não intimidaram a agência espacial norte-americana a rumar ao Planeta Vermelho na primeira missão em busca de vida extraterrestre no passado de um corpo celeste desde o projeto Viking, há mais de 40 anos. “Perseverance”, o melhor rover marciano alguma vez construído, aterrou esta quinta-feira à noite, às 20h56 de Portugal Continental, em Marte, e continua a enviar dados para a Terra.

O momento da aterragem mereceu os aplausos e festejos dos engenheiros na sala de controlo: “It’s alive”, gritaram os engenheiros assim que a missão chegou a bom porto. As celebrações repetiram-se quando o rover Perseverance enviou a primeira imagem captada por ele em Marte para a Terra. Continue a seguir a cobertura da agência espacial norte-americana, com uma janela privilegiada para a sala de controlo da missão Mars2020.

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O Perseverance seguiu na companhia de um pequeno helicóptero, o “Ingenuity” — “Engenho” em português, outro nome sugerido por um estudante norte-americano. A funcionar, será a primeira vez que uma equipa de engenheiras coloca alguma coisa verdadeiramente a voar noutro planeta — algo que pode ser especialmente útil numa missão tripulada a Marte.

Mas é outra tarefa difícil: a atmosfera em Marte é muito rarefeita — tem um volume equivalente a 1% da atmosfera da Terra —, por isso é preciso gerar uma velocidade muito grande nas hélices para que o objeto se mantenha no ar. A solução foi criar hélices capazes de gerir a 1.200 rotações por minuto num voo que só durará até 90 segundos.

Aterrar em Marte é uma tarefa muito difícil. A missão teve de atravessar a atmosfera marciana a uma velocidade de 39,6 mil quilómetros por hora, mas teve de a diminuir estrondosamente em apenas sete minutos. São os “sete minutos de terror” porque, durante essa fase, nada está nas mãos da equipa da missão em Terra: tudo depende da capacidade que o rover tem para sobreviver à entrada na atmosfera marciana.

Nesta missão, a viagem torna-se ainda mais complicada: a máquina sobrevoou o terreno para escolher o local ideal para a aterragem, algo que nunca foi feito. Agora também vai recolher uma amostra do solo marciano para que, numa missão futura, ela possa ser recuperada e estudada em laboratórios na Terra.

Marte foi habitável. Mas terá sido habitado?

Desde os tempos das missões Mariner, nos anos 70, que os cientistas têm em mãos uma grande quantidade de evidências sobre como a água já correu em Marte — e talvez ainda corra, como sugerem os dados recolhidos pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter. Os vales e desfiladeiros observados desde então dizem que Marte já teve água. E se já teve água é possível que já tenha tido vida.

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Cinquenta anos mais tarde, o rover Perseverance vai em busca dela numa cratera com cerca de 49 quilómetros de diâmetro e a meio caminho dos locais de aterragem da missão Curiosity e Opportunity. Chama-se Jezero, o que em muita das línguas eslavas — como na República Checa ou Croácia, por exemplo — significa “lago”.

Em março de 2015, os investigadores da Universidade de Brown descreveram como a Jezero havia albergado há 3,5 mil milhões de anos um sistema de lagos que enchia a cratera de água de tempos a tempos através de dois canais, cada um deles com um delta — tudo características que ainda são visíveis no local e que já foram estudados através das sondas e orbitadores em Marte.

Acontece que, cá em Terra, seja em blocos de gelo subterrâneos ou oásis no meio do deserto, onde há água costuma haver alguma forma de vida, mesmo que seja microscópica. Se em Marte também for assim, é provável que a vida já tenha existido no Planeta Vermelho. Por isso é que a missão do Perseverance será a primeira projetada para farejar por sinais de vida microbiana no passado. Já sabemos que Marte chegou a ser habitável. Resta saber se foi mesmo habitado.

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A história da velha obsessão dos terráqueos por Marte

Durante muito tempo, para os terráqueos, Marte não passava de um dos pontos brilhantes no céu que se moviam contra o fundo das estrelas. Mas houve uma mudança radical na forma como as pessoas vêm o universo: aquele em que Nicolau Copérnico, o astrónomo polaco, tira a Terra do centro do universo e dá-lhe o estatuto de planeta — um simples corpo que gira em torno do Sol.

Foi este momento em que os astrónomos se começaram a questionar sobre o que as descobertas copérnicas diziam sobre o resto do mundo à sua volta, explicou Luís Tirapicos, historiador de ciência da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ao Observador: “Passando a Terra a ser um planeta, os astrónomos começaram a questionar-se sobre se os outros planetas não seriam como ela”.

Luís Tirapicos, investigador do Departamento de História e Filosofia das Ciências e Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

A analogia podia ser feita para outros corpos celeste, como Vénus. Mas Marte sempre alimentou mais o imaginário dos curiosos e as investigações astronómicas. É que Vénus, quando está mais próximo da Terra, esconde-se atrás do Sol. Marte pode ser observado a olho nu, sem a atrapalhação da luz solar, no momento de maior aproximação ao nosso planeta.

Há outro elemento que adensou a obsessão dos terráqueos por Marte: a invenção do telescópio, que começa a ser utilizado na astronomia no século XVII. No início, a ótica do telescópio tinha uma qualidade muito fraca. Mas no final do século, quando os telescópios começam a melhorar, os cientistas começam a reparar em detalhes noutros planetas, nomeadamente em Marte. E viram umas manchas escuras que lhes causaram estranheza.

Já no século XIX, em 1887 — ano em que o momento da oposição (quando Marte está do lado contrário ao Sol) coincidiu com o momento do periélio (quando Marte está mais perto da nossa estrela) — vários astrónomos juntaram-se para observações planeadas a Marte e obtiveram resultados interessantes. Um deles foi o italiano Giovanni Schiaparelli, que reportou ter avistado “estruturas lineares” em Marte.

Do outro lado do oceano Atlântico, o astrónomo amador americano Percival Lowell, matemático de profissão, teorizou que essas estruturas poderiam ser de origem artificial e ter saída das mãos de seres inteligentes. “A vida inteligente em Marte foi muito debatida nessa altura e inspirou muito projetos de ficção científica, de que a Guerra dos Mundos é o exemplo mais popular”, recorda o historiador.

Só quando a tecnologia começou a melhorar e as fotografias dos planetas passaram a ter maior qualidade é que as observações esclareceram que as estruturas não seriam fruto de vida extraterrestre. Mas a ideia de que Marte era habitado por aliens só foi abandonada quando as primeiras sondas chegaram ao Planeta Vermelho.

Ainda assim, nos anos 70, com as missões Viking, a NASA levou a teoria ao limite e realizou experiências biológicas que deram resultados ambíguos. A esperança de encontrar vizinhança em Marte reacendeu-se. Ainda hoje continua de pé a hipótese de o Planeta Vermelho albergar vida nos cantos mais inóspitos da sua superfície. Ou então de guardar vestígios dela em crateras como a Jezero.

Um astrobiólogo da missão Perseverance explica o porquê de ir a Marte

Alberto G. Fairen, do Centro de Astrobiologia de Madrid, um afiliado da NASA, está envolvido nesta missão. Foi ele quem desenvolveu o Mars Environmental Dynamics Analyzer (MEDA), um instrumento que vai caracterizar o tamanho e a morfologia da poeira, bem como o clima da superfície. São essas informações que a missão vai utilizar para saber onde está e onde aterrar.

Em entrevista ao Observador por e-mail, Alberto Fairen diz-se “otimista” com a missão: afinal, Marte é o único planeta telúrico do Sistema Solar além da Terra onde sabemos que a água líquida era abundante na superfície há milhões e milhões de anos. Na verdade, o ambiente em Marte nessa época era muito semelhante ao que existe atualmente na Terra. Isso pode dizer-nos muito sobre o passado marciano. E sobre o futuro terrestre.

Alberto Fairén, astrobiólogo do Centro de Astrobiologia de Madrid, envolvido na missão Mars2020

Cornell University

Mais: mesmo sem poder indicar se a vida ainda existe em Marte — é, de resto, uma hipótese muito remota e o rover não está equipado para a explorar —, esta missão abre novas possibilidades para o que se passa no resto do universo.  “Se encontrarmos sinais de vida em Marte, isso sugeriria que a vida é uma ocorrência comum no espaço”, nota Alberto Fairen.  Onde? Tão perto quanto Europa (lua de Júpiter), Encélado ou Titã (luas de Saturno), apostam os astrobiólogos.

A experiência que os cientistas têm a estudar o passado da vida na Terra é um bom ponto de partida para saber o que esperar em Marte, explica Alberto Fairen. Por cá, os vestígios de vida mais antigos são os estromatólitos, colónias de bactérias fossilizadas formadas há mais de 3,5 mil milhões de anos em águas rasas.

Ora, “se tais estruturas sobreviveram aqui, num planeta com uma atmosfera, hidrosfera, biosfera e técnica tão ativas por milhões e mlhões de anos, é razoável supor que, se estruturas semelhantes já existiram em Marte, elas ainda podem ser preservadas lá”, acrescenta o astrobiólogo. O problema é que, se esses vestígios são extremamente difíceis de encontrar na Terra, mesmo com cientistas em todos os cantos do planeta à procura deles, em Marte podemos esperar ainda mais complicações.

De resto, provar “sem qualquer dúvida” que a vida já existiu em Marte vai ser “muito desafiante”, classificou o cientista espanhol: “Mesmo na Terra, é difícil provar a origem biológica de estruturas semelhantes a estromatólitos”. Mas a missão do rover Perseverance nunca será um falhanço, ressalva Alberto Fairen: “O Perseverance também é um explorador geólogo e aprenderemos muito sobre a história de Marte. E não nos podemos esquecer que o rover é a primeira etapa na estratégia de retorno de amostra de Marte“.

Portugal desenvolveu e testou cápsula incorporada na missão

E Portugal também entra nesse esforço. O escudo de proteção da cápsula onde as amostras vão ser mantidas foi concebido e testado por um consórcio português liderado pela corticeira Amorim, com a empresa de certificação em engenharia ISQ, o instituto de investigação PIEP e a empresa Stratosphere, num projeto da Agência Espacial Europeia (ESA).

Com este projeto, as empresas portuguesas responsabilizaram-se pelo desenvolvimento de um escudo de proteção térmica e amortecimento de choques na aterragem. Num comunicado de imprensa, o ISQ explicou que realizou  uma parte dos ensaios de validação dos modelos de engenharia e tratou do ensaio final de impacto do demonstrador da cápsula.

Este ensaio final consistiu em reproduzir as condições reais em que a cápsula irá impactar o solo e foi realizado no Laboratório de Ensaios Especiais do ISQ, situado em Castelo Branco.  Este projeto foi concluído com sucesso: “Teremos uma participação portuguesa relevante, na procura de respostas a uma pergunta que a humanidade se coloca desde sempre, a possível existência de vida noutros planetas”, realça fonte oficial da empresa.

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