Margaret Mitchell, uma das principais investigadoras do departamento de ética em inteligência artificial da Google, foi despedida pela empresa, avança o The Guardian. Este é o segundo despedimento polémico de um cargo de topo desta equipa, depois de Timnit Gebru ter sido afastada em dezembro.
A saída de Mitchell surge após a investigadora ter feito algumas queixas internas, à semelhança do que aconteceu com Gebru, nas quais acusa a Google de fazer pouco para promover a diversidade na empresa. A gigante tecnológica defende-se, dizendo que Mitchell foi despedida depois de a empresa ter concluído (após uma investigação de várias semanas) que a antiga trabalhadora partilhou ficheiros internos fora da Google.
De acordo com uma fonte do The Guardian, Mitchell foi despedida pelo diretor de investigação de inteligência artificial da Google, Zoubin Ghahramani, e um jurista da empresa. Alex Hanna, que faz parte da equipa da gigante tecnológica, afirmou ao jornal que a Google está a promover uma campanha de difamação contra as investigadoras.
Em dezembro, a saída de Timnit Gebru, que é conhecida por ser uma das principais investigadoras negras de Sillicon Valley, motivou protestos de milhares de trabalhadores da Google, tendo sido partilhado uma carta aberta na qual os antigos colegas manifestaram solidariedade para com a investigadora. “Até dois de dezembro de 2020, a Dra. Gebru era uma das poucas mulheres negras investigadoras científicas da empresa, o que demonstra um triste número de 1,6% de funcionárias negras no geral”, lê-se no documento.
Em vez de ser abraçada pela Google como um colaborador excecionalmente talentoso e prolífico, a Dr. Gebru enfrentou uma atitude defensiva, racismo, manipulação psicológica, censura na pesquisa e, agora, uma demissão de retaliação”, escreveram os funcionários da Google.
Gebru liderou, em parceria com Mitchell, a equipa de ética para inteligência artificial da Google durante dois anos. À semelhança de Timnit Gebru, Mitchell manifestou internamente preocupação por a Google, alegadamente, estar a censurar investigação crítica para melhorar os seus produtos.
A saída de Mitchell parece ter sido igualmente controversa, à semelhança de Gebru. Em dezembro, a investigadora foi despedida depois de ter questionado uma ordem superior para não publicar um artigo científico a afirmar que a inteligência artificial poderá marginalizar populações.
Depois da saída de Gebru, a Google viu nascer um sindicato composto por mais de duzentos engenheiros no início de janeiro. O novo sindicato, denominado Alphabet Workers Union (uma alusão ao nome da empresa mãe da Google, a Alphabet), foi organizado em segredo durante quase um ano e só em dezembro é que os líderes foram eleitos.
A criação de um sindicato de trabalhadores é um fenómeno raro em Sillicon Valley e, como contou o The New York Times, foi interpretado como uma forma de os funcionários da empresa quererem estar mais protegidos de repercurssões de críticas que fazem quanto ao trabalho que têm de fazer.
No início deste mês, a Google foi ainda obrigada a pagar 3,8 milhões de dólares, cerca de 3,1 milhões de euros, na sequência de acusações de discriminação contra mulheres e asiáticas. A maior parte do montante, foi decidido pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, tem como objetivo compensar 2.565 mulheres empregadas pela Google em cargos de engenharia informática, assim como três mil candidatas femininas e asiáticas que não foram selecionadas em concursos de emprego.
Google aceita pagar 3,1 milhões de euros em caso de discriminação de mulheres nos EUA