A petrolífera Petrobras, maior empresa do Brasil, recuperou 5,3 mil milhões de reais (790 milhões de euros) do total desviado pela rede corrupta que adulterou as suas licitações durante cerca de uma década, informou esta segunda-feira a companhia.
O total de recursos recuperados foi atualizado após a estatal brasileira receber, na semana passada, 65 milhões de dólares (54 milhões de euros) da Samsung Heavy Industries, subsidiária do grupo coreano para construção de embarcações, que tinham sido desviados através de um contrato fraudulento.
A Samsung Heavy Industries, investigada por corrupção, chegou a um acordo com a justiça brasileira para assumir a sua responsabilidade e indemnizar a Petrobras pelos desvios, pelo que se comprometeu a devolver 705,9 milhões de reais (105,2 milhões de euros). Na semana passada, foi paga a primeira parcela desse total.
“Com o valor recebido [da Samsung], a Petrobras ultrapassa a expressiva marca de 5,3 mil milhões de reais em recursos recuperados por meio de colaborações judiciais, acordos de clemência e repatriações”, afirmou a petrolífera em comunicado.
A empresa acrescentou que só em 2020 recebeu 797 milhões de reais (118,7 milhões de euros) em valores recuperados pela Lava Jato, como é conhecida a maior operação anticorrupção da história do Brasil e que desmantelou uma gigantesca rede que desviou recursos da Petrobras durante vários anos.
“Essas indemnizações são produzidas pela condição da Petrobras como vítima dos crimes investigados pela Lava Jato. A empresa continuará a adotar as medidas necessárias para garantir a recuperação adequada dos prejuízos que lhe foram causados”, acrescentou a nota.
Como maior interessada no esclarecimento de crimes e na recuperação de desvios, a Petrobras atua como coautora do Ministério Público em 21 processos por irregularidades administrativas ainda em curso e como assistente da acusação em 76 processos penais por ilícitos investigados pela Lava Jato.
A Polícia Federal brasileira estima que o valor total do que foi desviado pela corrupção numa das maiores empresas da América Latina durante os quase 10 anos de funcionamento da rede criminosa que a atacou totaliza cerca de 42 mil milhões de reais (6.256 milhões de euros).
De acordo com a investigação iniciada há mais de sete anos e que desvendou o maior escândalo de corrupção da história do Brasil, um cartel formado por importantes construtoras distribuiu ilegalmente os contratos da estatal por mais de uma década. Os empreiteiros adjudicaram as licitações através do pagamento de subornos milionários distribuídas entre os altos funcionários da estatal e políticos, de quase todos os partidos, que amparavam o esquema de corrupção.
A investigação contra esses desvios já mandou para a prisão executivos de várias das maiores construtoras brasileiras, numerosos ex-dirigentes da estatal e políticos de destaque que se beneficiaram com a corrupção, incluindo o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
No entanto, o principal núcleo da Lava Jato (Paraná) deixou de existir no início de fevereiro último, passando a integrar o Grupo de Ação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Federal.