15 de junho de 2003, 7 de março de 2021. Perto de 18 anos separam os dois dias, os dois atos eleitorais, em que Joan Laporta foi eleito presidente do Barcelona. Este domingo, o advogado de 58 anos venceu por larga margem os dois oponentes — teve até maior percentagem de votação do que na primeira eleição — e emergiu como o sucessor de Josep Maria Bartomeu, vogal na primeira direção blaugrana que liderou.
Esta segunda-feira, Joan Laporta voltou a ter um primeiro dia como presidente do Barcelona. Acompanhado por Rafael Yuste, que será o vice-presidente para o futebol — e depois de entrevistas quase obrigatórias à Catalunya Ràdio e à RAC1 –, visitou a Cidade Desportiva Joan Gamper para cumprimentar os jogadores da equipa principal e trocar algumas palavras com Ronald Koeman antes do primeiro treino da semana. Em seguida, visitou as sessões de treino da equipa B e da equipa feminina, onde voltou a saudar jogadores e treinadores antes de se dirigir a La Masia, o centro de formação do clube catalão, e ao treino da equipa de basquetebol. De acordo com o jornal Sport, a política de Laporta até ao final da temporada, no que toca ao futebol, será de simples gestão: apoiar a equipa até ao fim da época, esperar pelo que de melhor possa ser alcançado e só no verão, durante o mercado de transferências, começar a ponderar saídas e entradas com o objetivo de iniciar um novo capítulo. Nesta altura, o Barcelona está perto de ser eliminado dos oitavos de final da Liga dos Campeões (perdeu 4-1 em Camp Nou com o PSG na primeira mão), está no segundo lugar da liga espanhola a três pontos do Atl. Madrid e vai marcar presença na final da Taça do Rei.
No discurso de vitória, ainda este domingo, o novo presidente catalão sublinhou a necessidade de “manter a dignidade na Champions”, reconhecendo que a reviravolta contra o PSG é complicada mas não é impossível. É expectável que Joan Laporta já viaje com a equipa para Paris e assista à segunda mão dos oitavos de final, na quarta-feira, no Parque dos Príncipes, a convite do Comissão de Gestão que tem liderado o clube desde a demissão de Bartomeu. Outra das linhas vermelhas do agora presidente-eleito será a continuação de uma aposta forte na formação — algo que ficou claro na visita à equipa B e na conversa prolongada que acabou por ter com o treinador García Pimienta, depois de este domingo o conjunto ter conseguido uma importante vitória contra o Llagostera.
Talvez por acaso ou talvez não, a visita de Joan Laporta ao centro médico do Barcelona coincidiu com os exames de Pau Gasol, estrela do basquetebol que regressou recentemente a Espanha e aos catalães, que representou antes de voar para o Estados Unidos e para a NBA. Esta segunda-feira, o novo presidente também anunciou dois nomes fortes para os cargos de diretor executivo e diretor desportivo: Ferran Reverter, até aqui CEO do grupo MediaMarktSaturn, e Mateu Alemany, antigo presidente do Maiorca e diretor desportivo do Valencia. Ainda sem confirmação oficial, é expectável que Jordi Cruyff, ex-jogador e treinador e filho de um dos nomes mais respeitados no universo blaugrana, também assuma um lugar na estrutura desportiva da direção de Laporta. Certos estão já também os responsáveis pelo basquetebol (onde se inclui Juan Carlos Navarro, antigo jogador que também passou pela NBA), andebol, futsal, hóquei em patins, atletismo e hóquei em campo. O objetivo, conforme descrito no programa eleitoral, é bastante simples: “Voltar a ganhar as competições europeias com todas as equipas profissionais”.
Segundo a imprensa catalã, Joan Laporta não deve voltar a dirigir-se à comunicação social até à habitual conferência de imprensa depois de ser investido como novo presidente do Barcelona. Uma tomada de posse que, à partida, deve acontecer entre a próxima sexta-feira e a terça-feira da semana que vem. Dono de uma autêntica dinastia em Camp Nou, responsável máximo pela contratação de Pep Guardiola e pela equipa que em 2014/15 conquistou a liga espanhola, a Taça do Rei, a Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes, Laporta regressa ao sítio onde já foi muito feliz com o objetivo de reconstruir um clube que está diferente. Um clube embrenhado numa grave crise financeira, um clube embrenhado numa equipa de futebol instável e com uma figura que parece estar sempre na porta de saída, um clube embrenhado em problemas com a Justiça e fantasmas do passado. Mas a melhor maneira de descrever a segunda vida de Joan Laporta no Barcelona terá sido encontrada pelo El País.
“A emotividade pesa mais do que a racionalidade num momento de tanta desorientação geral no clube blaugrana e no país em que ninguém se preocupa com quem é que vai pagar o aval de 124,5 milhões de euros que tem de apresentar à La Liga para validar o cargo de presidente do Barcelona. Laporta funciona como se fosse o Rei Sol nos momentos de maior obscuridade em Camp Nou”, escreveu o jornalista Ramon Besa.