Ainda só passaram poucas horas desde a transmissão da polémica entrevista que Meghan Markle e o Príncipe Harry deram a norte-americana Oprah mas já são mais que muitas as reações àquilo que os Duques de Sussex revelaram. Da negligência face à saúde mental de Meghan aos pensamentos de suicídio e as acusações de racismo, vários foram os pontos por onde pessoas como o apresentador Piers Morgan ou a tenista Serena Williams quiseram pegar.

Morgan, por exemplo, que sempre foi um defensor acérrimo da monarquia britânica, faz parte da minoria — pelo menos até agora — que vai contra o jovem casal. Na sua conta de Twitter o apresentador do “Good Morning Britain” disse de tudo um pouco: “Esta entrevista é uma inacreditável traição à Rainha e à Família Real”, “Harry quer que os EUA e o resto do mundo odeiem a sua família, a Monarquia e o seu país”, “Ainda vamos a tempo de uma nomeação para os Oscares? [referindo-se a Meghan Markle]”.

Também na mesma linha com a opinião de Morgan — se bem que menos inflamada — encontra-se a opinão da colunista política do Washington Post e biógrafa de Nancy Regan, Karen Tumulty, que em jeito de brincadeira escreveu um tweet onde se lê: “Se a Oprah me entrevistasse também vendia a minha família toda”, referindo-se à posição de Harry, em específico, que tem sido acusado de trair o pai, a avó e toda a sua família.

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No extremo oposto temos a mensagem que a tenista Serena Williams partilhou nas suas redes sociais, em defesa da sua “amiga altruísta”. Num longo texto, a desportista ressalva que as palavras de Meghan “ilustram a dor e crueldade que enfrentou” e defende que sabe bem o que é o “sexismo e racismo que as instituições e os media usam para difamar e minimizar mulheres e pessoas de cor” e, por isso mesmo, reforça a necessidade de “criticar o jornalismo tabloide malicioso e os rumores infundados”. A campeã termina dizendo que quer que a sua filha e a filha de Meghan vivam numa “sociedade guiada pelo respeito”.

Curiosamente, é também do mundo do ténis que chega outra opinião em defesa de Meghan Markle e Harry. A icónica Billie Jean King — que soma a defesa dos direitos das mulheres ao seu histórico de tenista campeã — diz que “entre as revelações da entrevista de Meghan e Harry está a luta de Meghan com a saúde mental” e espera que a “honestidade” da duquesa a falar sobre o assunto leve a uma “maior aceitação e mais ajuda” para todos aqueles que precisarem.

É também no tema da saúde mental que incide o comentário do ator Hugh Jackman, que no Twitter diz recomendar a entrevista “corajosa” dos duques de Sussex. “Quando alguém corajoso o suficiente pede ajuda, devemos ouvir.” O comentário precede a referência a uma organização dedicada à saúde mental e acompanha um curto vídeo onde a estrela de “X-men” diz que ele e a mulher viram a entrevista com “espanto” por ver Meghan e Harry falarem “tão abertamente” e com “tanta dignidade” sobre o “momento mais difícil das suas vidas”.

Ainda numa mesma nota, a assessora da Casa Branca, Jen Psaki, elogiou o príncipe Harry e Meghan Markle por falarem abertamente sobre as dificuldades face à saúde mental durante a entrevista com Oprah, tema com o qual também Joe Biden, presidente norte-americano, se identifica. “Isso exige coragem”, disse, recusando fazer mais comentários dado que Meghan e Harry são “cidadãos privados”, mencionado ainda a “parceria especial” dos EUA com o governo britânico.

Meghan McCain, filha do senador John McCain, comentadora e apresentadora de televisão, simplesmente deixou uma afirmação na sua conta de Twitter: “A monarquia é um conceito arcaico e tóxico desde 1776”. Já Jada Pinkett Smith, atriz norte-americana, usou a sua conta de Instagram para partilhar uma montagem onde Isabel II aparece sentada à mesa do seu programa, “Red Table Talk”, que se dedica a comentar e resolver vários problemas sociais motivados por divergências geracionais.

A autora e ativista pelos direitos das mulheres Glennon Doyle também já saiu em defesa dos Sussex chegando, entre vários posts no twitter sobre a entrevista, a dizer que “Harry é o marido que Diana precisara” nos momentos difíceis que precederam a morte da ex-mulher do Príncipe Carlos.

Nazir Afzal, célebre procurador geral da justiça britânica especializado em casos de exploração sexual de crianças e de violência contra mulheres, preferiu destacar a importância da saúde mental e da respostas a problemas deste género dando o caso de Diana como exemplo. Num post partilhado na sua conta de twitter (que foi repartilhado, já agora, pela ativista Jameela Jamil), Afzal realça que “há quem não aprenda nada com o tempo”, especialmente depois de todos os problemas do foro psicológico que tanto assombraram a vida da princesa Diana.

Uma das teorias mais comentada pelos defensores do jovem casal é a de que esta entrevista e todo o Megxit acabou por ser “útil” à Casa Real britânica ao desviar atenções do caso que envolve o príncipe André e as acusações de abuso sexual de menores. Nas redes sociais têm sido várias as opiniões que fazem essa associação e a já mencionada Jameela Jamil chega a fazer um comentário sarcástico sobre o assunto, partilhando uma foto antiga de André com uma jovem dando-lhe como legenda a frase: “Não acredito que a Meghan viajou no tempo para fazer isto acontecer”. A citação joga com a teoria de que Meghan é a culpada de tudo de mal que tem sido associado À monarquia.

O que diz a imprensa?

A imprensa britânica também tem um papel importante em todo o desenrolar e fundamentar do Megxit e polémicas acessórias daí o rescaldo da entrevista com Oprah Winfrey ter dominado a esfera mediática desta segunda feira.

Para o jornal The Times, por exemplo, “o que quer que a família real esperasse da entrevista, foi pior”, lê-se num artigo de análise sobre a entrevista e suas eventuais repercussões. “Meghan sofreu de tendências suicidas. Ela estava preocupada com seu bem-estar mental. Chorou durante um compromisso oficial. E a família real não ajudou”, acrescentou o diário.

Olhando para o Daily Telegraph, outro artigo de análise diz mesmo que à família real britânica não chega “esconderem-se atrás do sofá” para fugir das revelações de Harry e Meghan, é mesmo preciso “um colete à prova de bala”. Para o jornal, os Sussex mostraram “munições suficientes para afundar uma frota” e “possivelmente” terão infligido “estragos à monarquia britânica”.

“É justo dizer que esta entrevista indiscreta de duas horas é o pior cenário possível para aquilo que o casal tem repetidamente referido como a Firma”, lê-se no artigo. “Firma” é a alcunha dada à monarquia.

Também o canal ITV inspirou-se no mundo militar para fazer alegorias sobre o impacto desta entrevista, dizendo que “o casal, na prática, carregou um bombardeiro B-52, voou sobre o Palácio de Buckingham e descarregou o arsenal todo em cima”. Já a BBC, mais contida, fala de “uma entrevista devastadora” que revela “as terríveis pressões dentro do palácio” e esboça “a imagem de indivíduos insensíveis perdidos numa instituição indiferente”.

No campo dos tabloides, o Daily Mirror insiste na “imensa tristeza” do príncipe Carlos e de William. Já o Daily Express é mais incisivo e acusa mesmo o casal de utilizar a conversa com Oprah para “servir os seus próprios interesses”.

Movimento #AbolishTheMonarchy domina as redes sociais

À boleia desta polémica entrevista, e ainda dentro do seu impacto num ponto de vista mais político, os movimentos abolicionistas da monarquia britânica ganharam fôlego e já circula uma petição que pede o fim do regime no Reino Unido.

O #AbolishTheMonarchy ‘viralizou’ nas redes sociais após a entrevista explosiva feita por Oprah Winfrey e onde argumentos como Harry a sugerir que a sua família estava com ciúmes da popularidade de Meghan, por exemplo, terão colocado em xeque a Casa Real britânica. À boleia disso, também, o grupo de campanha “Republic”, que soma quase 26 mil seguidores no Twitter, lançou uma petição para que a monarquia seja abolida e substituída por uma república — rotulando, pelo meio disso, a família real de “instituição podre”.