O sucesso de Chloe Zhao, primeira mulher asiática e segunda mulher a ganhar um Globo de Ouro de Melhor Realização, pelo filme “Nomadland – Sobreviver na América”, foi recebido com cautela na China, o seu país natal. A consagração da cineasta nascida em Pequim foi ofuscada por uma reação nacionalista, em torno da sua cidadania e identidade.
A censura chinesa removeu várias referências ao seu filme das redes sociais, suscitando dúvidas sobre se será exibido nos cinemas chineses. Na semana passada, internautas chineses questionaram se Zhao, que foi educada no Reino Unido e nos Estados Unidos, ainda é cidadã chinesa e se pode ser considerada chinesa, face a um comentário crítico que fez sobre o país em 2013.
Apesar de alguns internautas terem comemorado a vitória, outros recuperaram comentários feitos anteriormente para a acusar de ter “insultado a China”. Publicidade sobre o filme foi já removida das redes sociais chinesas e pelo menos duas ‘hashtags’ relacionadas com a obra foram desativadas.
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Pesquisar ‘#data de lançamento de Nomadland’ e ‘#sem terra para confiar’ (o título chinês do filme) no Weibo, o equivalente ao Twitter na China, resulta na mensagem: “De acordo com as leis, regulamentos e políticas relevantes, esta página não existe“.
No Douban, a aplicação que os internautas chineses usam para discutirem livros, filmes e programas de televisão, o poster chinês oficial do filme, bem como a data de lançamento na China, foram também apagados. No centro da controvérsia estão dois comentários de Zhao, feitos em duas entrevistas separadas, e que internautas chineses reproduziram na Internet do país. “Isto remonta a quando eu era adolescente, na China, um local onde há mentiras por todo o lado”, afirmou a diretora, em 2013.
A segunda citação veio de uma entrevista que Zhao deu ao portal australiano news.com.au, em dezembro do ano passado, na qual afirmou que os “Estados Unidos são agora o meu país”. Embora o portal de notícias tenha atualizado a entrevista, em 03 de março, com a correção daquela afirmação para “os Estados Unidos não são o meu país”, foi a versão anterior que circulou amplamente na Internet chinesa. Não se sabe se o filme ainda será lançado na China. O lançamento estava previsto para 23 de abril, segundo a imprensa local.
Comentadores nacionalistas dizem que Zhao traiu o seu país, acusando-a de ter “duas caras” e de ter saído da China devido à riqueza do pai, o antigo diretor de uma empresa estatal chinesa. Outros observadores pediram que o debate permanecesse focado no seu filme. O popular crítico de cinema Chu Mufeng elogiou Zhao e o seu filme no Weibo, onde tem três milhões de seguidores, observando que “não apenas foi a primeira cineasta de etnia chinesa a ganhar o globo como melhor diretora, mas também a primeira mulher asiática”.
No entanto, um dos principais comentários reagiu assim: “Uma diretora de cinema americana, obrigada, mas não a elogie muito”. Chu respondeu: “Se um ‘chef’ de etnia chinesa fosse excelente na culinária, você perguntaria de onde ele é? Trate um bom filme como se fosse um banquete, tudo o que tem de fazer é aproveitar”.