É um revés nas ambições liberais. O candidato da Iniciativa Liberal à câmara municipal de Lisboa, Miguel Quintas, deixa a corrida autárquica por “razões pessoais”, apurou o Observador junto de fontes ligadas ao processo. Miguel Quintas tinha sido anunciado no sábado de manhã após a IL ter decidido avançar com uma candidatura própria à maior autarquia do país, dando uma nega ao acordo proposto por Carlos Moedas. A decisão está a ser debatida esta noite em órgãos do partido, que — após o afastamento de Quintas — não abdicam manter uma candidatura própria em Lisboa, embora liderada por outro protagonista.
O presidente da IL, João Cotrim Figueiredo, ainda chegou a negociar com Carlos Moedas na perspetiva de os liberais virem a integrar uma grande coligação não-socialista, mas essa opção acabou por cair. Apesar do bom relacionamento entre Cotrim e Moedas, não houve negociações com Rui Rio e houve uma pressão do núcleo da candidatura para Lisboa que acabou por prevalecer.
A chamada de Rio que nunca chegou e as divisões internas. O que falhou para a IL rejeitar Moedas
A direção da IL decidiu então lançar Miguel Quintas como candidato autárquico. João Cotrim Figueiredo admitu na altura: “Adecisão não é fácil, mas é a certa”. O líder liberal acrescentou na altura que “a maior parte dos partidos tem uma tentação de ter sucessos eleitorais imediatos” e que para o partido “estes sucessos eleitorais só têm sentido sem atalhos e com coerência”. Cotrim Figueiredo admitia ainda que a decisão tinha “óbvios riscos mediáticos e eleitorais”, mas a “coragem” de os correr falou mais alto. No mesmo dia foi apresentada a antiga vice-presidente da Aliança, Ana Pedrosa-Augusto, como a número dois da candidatura a Lisboa.
Apenas algumas horas após ter apresentado a candidatura, Miguel Quintas enfrentou a primeira polémica. Enquanto a IL tem na privatização da TAP uma das grandes bandeiras, o seu candidato a Lisboa tinha considerado a “nacionalização da TAP” uma “excelente opção”. A saída, ainda com contornos pouco definidos, não está relacionada com esta polémica.
Candidato da IL a Lisboa admitiu que nacionalização da TAP podia ser “excelente opção”
Dois dias depois, na última segunda-feira, Miguel Quintas veio esclarecer a posição sobre a TAP, dizendo que o artigo que escreveu a defender a nacionalização da companhia era apenas “um título”, que não demonstrava a “plenitude” da visão que tem para a TAP.
A Iniciativa Liberal tem agora de procurar um novo candidato para encabeçar a lista de Lisboa. O Observador tentou contactar Miguel Quintas ao longo do dia, mas não obteve resposta.
Após notícia do Observador, a Iniciativa Liberal emitiu um comunicado a confirmar que Miguel Quintas se retirou por razões pessoais e que a “decisão foi aceite pelos órgãos locais e nacionais da Iniciativa Liberal, a quem agora compete ponderar e decidir sobre o novo candidato do partido no processo autárquico em Lisboa“.
O comunicado da IL lembra ainda que “no âmbito do Núcleo de Lisboa da Iniciativa Liberal, Miguel Quintas utilizou a sua vasta experiência profissional e competência na elaboração do programa eleitoral autárquico” e que foi “em apreço por este serviço ao partido” que foi “escolhido para ser o candidato à Câmara Municipal de Lisboa, dando cumprimento à estratégia da Iniciativa Liberal de apresentar candidaturas próprias”.
O antigo candidato da Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves, já reagiu e classificou esta saída de Miguel Quintas como “um sério revés em Lisboa”. Deixa depois uma mensagem de motivação para dentro do partido: “Eu sou um exemplo de quão rápidas podem ser as curvas de aprendizagem na IL”.
Um sério revés em Lisboa, evidentemente. Vamos prosseguir, aprendendo com isto. Eu sou um exemplo de quão rápidas podem ser as curvas de aprendizagem na IL.
— Tiago Mayan (@LiberalMayan) March 9, 2021
Artigo atualizado às 23h53 com comunicado da Iniciativa Liberal, que confirma a notícia do Observador, e às 00h10 com a reação de Tiago Mayan Gonçalves