A Liga Guineense dos Direitos Humanos disse esta terça-feira estar a acompanhar com “bastante preocupação” informações que indicam que o jornalista e editor do blogue “Ditadura de Consenso”, Aly Silva, foi sequestrado, espancando e abandonado em Bissau.
Neste momento, o jornalista está a receber tratamento médico numa clínica privada, em Bissau”, refere a organização não-governamental dos direitos humanos, em comunicado divulgado na rede social Facebook.
A Liga Guineense dos Direitos Humanos refere também que já contactou as autoridades policiais que afirmaram “desconhecer as circunstâncias que rodearam aquele ato criminoso“.
“A Guiné-Bissau é um Estado de Direito democrático onde a liberdade de expressão e de informação constitui a trave-mestra, sendo que qualquer delito resultante do exercício desse direito fundamental deve ser processado nos termos das leis vigentes no país”, salienta.
A Liga Guineense dos Direitos Humanos condena aquele “ato criminoso e exige das autoridades nacionais a abertura de um inquérito com vista à identificação e tradução à justiça dos autores daquele ato hediondo”.
A organização não-governamental apela também aos cidadãos do país para se “manterem firmes e vigilantes contra todos os atos que atentam contra os direitos fundamentais”.
Várias pessoas contactadas pela Lusa indicaram que António Aly Silva, que foi jornalista em Portugal, no jornal Independente, foi raptado, sequestrado e largado em Bolola, na zona industrial de Bissau.
Várias organizações da sociedade civil têm denunciado várias violações dos direitos humanos contra ativistas, políticos, deputados e jornalistas e órgãos de comunicação social.
Um dos casos mais recentes foi o de dois ativistas políticos do Movimento para a Alternância Democrática (Madem G15), segunda força política do país e que integra a coligação no Governo, que denunciaram publicamente terem sido espancados alegadamente por guardas da Presidência guineense, dentro do Palácio Presidencial, um caso a que o Ministério Público guineense ainda não deu seguimento, de acordo com a Liga dos Direitos Humanos.
PAIGC condena ato “cobarde e bárbaro” contra bloguer guineense Aly Silva
O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) condenou esta terça-feira o ato “cobarde e bárbaro” contra o bloguer Aly Silva.
“O PAIGC repudia e condena, veementemente, mais um ato cobarde e bárbaro, perpetrado pelos atuais detentores do poder na Guiné-Bissau, que, disfarçados em esquadrões de rapto e espancamentos, têm estado a incitar o uso da violência contra cidadãos indefesos, atos que podemos classificar de autêntico terrorismo de Estado”, referiu, em comunicado, a comissão permanente do PAIGC.
O partido considerou “inqualificável e intolerável”que num Estado de direito democrático “persistam atos de perseguição aos cidadãos que somente têm exercido uma das liberdades fundamentais, consagradas na Constituição e nas leis da República, nomeadamente liberdade de expressão”.
O PAIGC expressa a sua solidariedade para com o bloguista Aly Silva, vítima deste ato cobarde, estendendo-a a todos os jornalistas e ativistas que, assistidos pelos ditames da lei e da Constituição da República, têm lutado, com determinação e firmeza, para impedir a implementação da ditadura na Guiné-Bissau”, salientou o partido.
O PAIGC foi vencedor das eleições legislativas de 2019, mas o seu Governo foi demitido pelo atual Presidente do país, Umaro Sissoco Embaló.
O partido exige também a abertura de um inquérito para apurar os autores morais e materiais daquele “crime hediondo”.