Quando chegou, durante o mercado de verão, acabou por ficar algo embrulhado entre nomes mais conhecidos e nomes aparentemente mais necessários: Feddal era o central com experiência para fazer companhia a Coates, Nuno Santos tinha sido um dos elementos mais importantes do Rio Ave de Carlos Carvalhal, Pedro Gonçalves era uma das peças imprescindíveis do extraordinário Famalicão e a lista continuava com Adán, João Mário e até Bruno Tabata. De Pedro Porro, sem grande nome no futebol europeu mas com o selo de qualidade de ter sido emprestado pelo Manchester City, os adeptos do Sporting decoraram principalmente uma coisa — os calções rotos que vestiu no dia da apresentação.
“Vinha da praia, não tinha outra roupa. São histórias que um dia vou contar. Se o Sporting comprar o meu passe, apareço muito mais elegante”, explicou o lateral espanhol em entrevista ao jornal AS, que conversou com o jogador leonino sobre o período antes de vir para Portugal, sobre a decisão de vir para Portugal e sobre o facto de ser já um dos jogadores mais importantes naquele que é atualmente o líder da Primeira Liga em Portugal. Porro, cedido pelo Manchester City aos leões por duas temporadas, revelou que fez “autocrítica” na sequência de um empréstimo pouco conseguido ao Valladolid e acabou por aceitar juntar-se ao Sporting depois da conversa com Hugo Viana.
“Tive de a fazer. Foi um ano muito mau e não pode repetir-se. As lesões não apareceram sozinhas. Acredito que me sobrecarreguei um pouco. São coisas do futebol. Fiz essa autocrítica, concentrei-me no que fiz mal. Centrei-me naquilo em que tinha de me centrar, aprendi a lição e foquei-me no objetivo mais imediato. O meu agente explicou-me o interesse do Sporting e gostei muito do projeto. O desenho tático que tinham recordava-me dos tempos do Girona e nem pensei duas vezes. O Hugo Viana transmitiu-me uma confiança enorme”, revelou o espanhol de 21 anos, que realizou a formação entre o Rayo Vallecano e o Girona, representou os últimos de forma profissional e assinou pelo City em 2019, sendo cedido quatro dias depois ao Valladolid.
Um fan favourite desde o início da temporada, Pedro Porro entrou diretamente para o corredor direito da equipa de Rúben Amorim, foi considerado o melhor defesa da Liga em três meses consecutivos e tem sido um dos jogadores mais regulares, entre o acerto defensivo e a influência ofensiva. Uma influência que traz golos, incluindo o que valeu a conquista da Taça da Liga, na final contra o Sp. Braga. “Essa jogada estava conversada com o Inácio. Disse-lhe que podia pôr a bola ali porque joga com o pé trocado [é canhoto e joga à direita]. Vivo o futebol assim, imagino situações antes dos jogos, como essa, e às vezes acontecem”, revelou, reconhecendo que tem de melhorar no capítulo defensivo. “Falta-me muita coisa. Sou um extremo de origem mas nos últimos três anos enfrentei muitos dos melhores. Inclusivamente, mesmo no um para um, não me têm ultrapassado facilmente, porque sou rápido, mas é certo que tenho de melhorar a defender. É isso que vai fazer com que me torne um grande jogador (…) Aqui temos muito mais bola e posso jogar mais à frente, como sou rápido recupero logo a posição”, acrescentou.
“Estou muito contente. Desde que cheguei, desde o primeiro minuto, que me deram muita confiança aqui e isso vê-se em campo. Esse reconhecimento também é coletivo, porque sem a ajuda dos meus companheiros não seria possível. As coisas estão a sair-me bem”, disse Porro, garantido que o impacto de Rúben Amorim em Alvalade explica-se pelo facto de “ter as coisas muito claras” e que a equipa construiu um espírito de grupo durante “o dia a dia”. “Quando te juntas a uma equipa tão jovem, há sempre bom ambiente e há uma união grande que aparece no jogo”, atirou, elogiando ainda os momentos de Adán e Feddal, garantindo que o primeiro tem “um peso muito importante no balneário” e que o segundo “está a realizar um grande futebol”.
Sobre a eventual conquista do Campeonato, Pedro Porro junta-se ao discurso do treinador e garante “que ainda está longe”. “Só pensamos em ganhar o jogo seguinte. Lutamos todos os dias. Tudo isso está longe. Trabalhando como trabalhamos, conseguiremos grandes coisas. Não sei o quê, mas vai dar frutos”, ressalvou, não deixando de admitir que seria “bonito” ouvir o hino da Liga dos Campeões ao serviço dos leões. O ala, internacional Sub-21 por Espanha, explicou ainda que sempre teve “raça” e capacidade de “lutar até ao final”, algo que muito tem contribuído para ser um dos jogadores favoritos dos adeptos do Sporting, e voltou a comentar o momento depois do Clássico no Dragão em que Francisco Conceição recusou cumprimentá-lo.
“Já disse tudo nas redes sociais. É um lance do jogo em que tens a cabeça quente, eu também estava de cabeça quente. É normal. São coisas de um jogo, ficam ali e está tudo bem. Já disse que está tudo bem. Ele pelo lado dele, eu pelo meu e pronto”, concluiu, indicando ainda que era fã de Iniesta quando era mais jovem e que não quer pensar na possibilidade de ser convocado para a seleção espanhola, seja nos Sub-21 ou na equipa A. “Não quero olhar para longe, já cometi esse erro antes. Por ter feito isso durante dois anos lesionei-me e perdi o Europeu [Sub-21]. Por dizer que tenho isto e tenho aquilo. Chegou e lesionei-me, tenho essa espinha cravada. Seja o que for, vai ser muito bom. Ir com os Sub-21 é muito bom e com a equipa A é um sonho desde pequeno que se torna realidade. Mas não quero olhar para longe”, garantiu.