O ex-bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Aranda da Silva, garantiu esta quarta-feira que o setor farmacêutico europeu e mundial apresenta capacidade excedentária de produção, numa altura em que vários países se debatem com escassez de vacinas da Covid-19.

“Como é que é possível falar-se em dificuldades na produção [de vacinas], quando se sabe que há capacidade excedentária, ao nível europeu e mundial”, questionou o antigo bastonário num debate sobre as vacinas contra o vírus SARS-CoV-2 promovido pelos eurodeputados do Bloco de Esquerda (BE), Marisa Matias e José Gusmão.

José Aranda da Silva, que foi administrador da Agência Europeia do Medicamento entre 1994 e 2000, salientou que várias farmacêuticas concretizam a “maior parte da sua produção em terceiros”, apontando o exemplo dos Estados Unidos, onde vacinas da Pfizer e da Moderna vão ser também produzidas em infraestruturas da Merck.

Não se percebe o que anda a fazer na Europa a Comissão Europeia e a Presidência da União Europeia, que é portuguesa”, sublinhou o antigo bastonário, para quem as vacinas “são o instrumento público mais importante mesmo produzido por entidades privadas” no combate à Covid-19.

“Há bens privados que, em certos momentos históricos, se tornam em bens públicos”, afirmou José Aranda da Silva, ao realçar que foi o investimento público de vários países que permitiu o “encurtamento do prazo” na investigação, na avaliação e na produção das vacinas contra a Covid-19.

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No debate virtual promovido pelo BE, o ex-presidente do Infarmed alertou ainda que, ao nível da produção das vacinas, um dos estrangulamentos tem a ver com o enchimento de frascos de pequeno volume.

“Isso podia ser feito em Portugal, que tem capacidade para fazer esse tipo de enchimento, o que permitiria encurtar, se isso fosse feito nos países europeus, a produção em alguns meses”, assegurou Aranda da Silva.

Segundo o farmacêutico, não se prevê, a médio prazo, o aparecimento de um medicamento específico para o vírus SARS-CoV-2, sendo também necessário que não se “fique focado nas vacinas das grandes companhias internacionais”, já que “há outras vacinas no mercado”.

Suerie Moon, copresidente do Fórum Global para a Governação do Instituto de Saúde Global de Harvard, alertou ser “muito importante tomar ações imediatas” para aumentar a produção das vacinas, um objetivo que é do próprio interesse da Europa por razões económicas, mas “também um ato de solidariedade”, porque este fármaco está “ainda muito longe de ser um bem público global”.

Para Suerie Moon, a Europa ainda está “em emergência” devido à pandemia, sendo “claro que a Covid-19 vai estar presente a longo prazo e vão ser necessárias vacinas para o longo prazo”.

Temos de ter presente que temos de aumentar a produção de vacinas ao nível global nos próximos anos, não apenas nos próximos dois, três ou seis meses. Temos de assegurar que há vacinas suficientes para a Covid-19, mas também para outras doenças importantes”, preconizou Suerie Moon.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.611.162 mortos no mundo, resultantes de mais de 117,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 16.617 pessoas dos 811.948 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.