O antigo Presidente do Brasil, Lula da Silva, falou pela primeira vez desde que as suas condenações foram anuladas pelo Supremo Tribunal, afirmando que foi “vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história”.

Quanto à possibilidade de concorrer novamente à presidência, uma vez que recuperou os seus direitos políticos, Lula da Silva preferiu ser prudente e não anunciou, para já, que é candidato, referindo que esse anúncio acontecerá “quando chegar o momento”. “Vai ser bem para a frente que a gente vai discutir”, referiu Lula.

Momentos antes, no entanto, garantiu que se sente “muito jovem” e garantiu que não vai desistir da vida política. “Desistir, jamais. A palavra desistir não existe no meu dicionário”, referiu o ex-presidente.

“Não tenham medo de mim, eu sou radical porque quero ir na raiz dos problemas deste país”, atirou ainda o ex-presidente, garantindo que está disponível para dialogar com outros partidos políticos e com os empresários brasileiros.

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Referindo-se ao julgamento sobre a parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro e à anulação das suas condenações, disse que ficou “muito feliz” porque “a verdade prevaleceu”.

“Fiquei muito feliz porque, depois da divulgação de tanta mentira contra mim, (…) pela primeira vez, a verdade prevaleceu”, afirmou Lula da Silva numa declaração ao país, transmitida nas redes sociais do ex-Presidente brasileiro, a partir da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.

Condenações de Lula da Silva na justiça anuladas. Pode candidatar-se em 2022

O ex-Presidente falou “num dia gratificante” e disse estar agradecido ao juiz Edson Fachin, que anulou as suas condenações.

“Eu tinha a certeza de que esse dia chegaria. Esse dia chegou, com o voto de Fachin, que reconheceu que nunca houve crime cometido por mim”, sublinhou Lula. “Todo a amargura que passei, todo o sofrimento que passei, acabou. Estou muito tranquilo”, reiterou, criticando o juiz Sérgio Moro.

Vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito, porque ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do Brasil e ser considerado herói por aqueles que me queriam culpar”, atirou.

Apesar de se considerar vítima de uma “mentira jurídica”, Lula garante que não se sente magoado.

Adiado julgamento sobre suspeição de Sérgio Moro na condenação de Lula da Silva

“Se tem brasileiro que tem razão para ter muitas e profundas mágoas, sou eu. Mas não tenho. Sinceramente, não tenho, porque o sofrimento que o povo brasileiro está a passar, o sofrimento que as pessoas pobres estão a passar neste país, é infinitamente maior de qualquer crime que cometeram contra mim” afirmou Lula da Silva. “A dor que sinto não é nada”,  disse Lula, referindo-se às  vítimas da pandemia.

Lula falou ao país a partir do local onde começou a sua carreira política e no mesmo sítio onde, há quase três anos, foi detido pela polícia federal, tendo depois cumprido um ano e meio de prisão em Curitiba, tendo sido libertado no final de 2019.

O ex-presidente Lula da Silva recuperou os seus direitos políticos na passada segunda-feira, depois de o juiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, ter anulado as suas condenações no âmbito do caso Lava Jato, por considerar que 13 ª Vara Federal, que julgou o ex-Presidente, não tinha competências para o julgamento.

A decisão não significa que Lula da Silva seja inocente das acusações de que foi alvo, e o caso pode voltar a ser julgado por outro tribunal.

No Supremo, decorre também um julgamento sobre a suspeição do antigo juiz Sérgio Moro na condenação de Lula da Silva. O processo foi adiado na terça-feira, depois de o juiz Nunes Marques ter pedido um adiamento. O voto de Nunes Marques, cuja data para ser conhecido é uma incógnita, vai desempatar a votação, uma vez que dois juízes consideraram que Moro foi parcial no julgamento de Lula, enquanto outros dois (entre eles Fachin, que anulou as condenações de Lula) defenderam o também antigo ministro de Bolsonaro.

Caso o Supremo considere que Moro foi parcial, as provas contra Lula seriam anuladas, o que seria visto como uma grande vitória para o ex-presidente, que acusou Sérgio Moro de agir com intenções políticas ao condenar Lula da Silva.

Ataques a Bolsonaro

Após discorrer sobre a anulação das suas condenações, Lula da Silva apontou baterias ao Presidente do Brasil e ao seu “desgoverno”, sobretudo na gestão da pandemia.

“Muitas mortes poderiam ser evitadas, se tivéssemos um governo que tivesse feito o elementar. A arte de governar não é fácil. É a arte de saber tomar decisões. Um Presidente da República que se respeitasse e que respeitasse o povo brasileiro, a primeira coisa que teria feito em março do ano passado, era criar um comité de crise”, disse Lula, criticando Bolsonaro por desvalorizar a pandemia.

“Esse não é um papel, num mundo civilizado, de um Presidente da República”, atirou.

“Este país não tem governo, este país não cuida da economia, não cuida do emprego, não cuida do salário, não cuida da saúde, não cuida do meio ambiente, não cuida da educação, não cuida do jovem, não cuida da menina da periferia”, acrescentou Lula.

“Este país não tem governo. Este país não tem ministro da Saúde. Este país não tem ministro da Economia. Este país tem um fanfarrão”, acusou.

O ex-presidente revelou que vai ser vacinado na próxima semana e apelou ao povo brasileiro para não seguir “nenhuma decisão imbecil do Presidente da República ou do ministro da Saúde”. “Tome vacina”, apelou Lula, defendendo também  o uso de máscara de álcool gel.

Lula criticou ainda prioridades do Presidente brasileiro, particularmente no que diz respeito à flexibilização da compra de armas.

“Um Presidente da República não é eleito para falar bobagem de fake news. Ele não é eleito para a compra de armas, como se estivéssemos a necessitar de armas. Quem está a precisar de armas, são as nossas forças armas e a nossa polícia, que saiu para as ruas para combater a violência”, afirmou o antigo Chefe de Estado.

“Não são os milicianos que estão a precisar de armas para fazer terrorismo na periferia deste país, para matar meninos e meninas, sobretudo meninas e meninos negros, as maiores vítimas das armas e das balas perdidas deste país”, acrescentou.