Alfredo Casimiro aceita “considerar um aumento de capital” da Groundforce, mas em condições diferentes daquelas propostas pela TAP. Para começar, esse aumento de capital tem de ser “reservado a acionistas” e, depois, as novas ações terão de ser subscritas a um valor por ação baseado numa avaliação de 2018 feita pela Sycomore, mas ajustado à perda de valor por causa da crise da Covid-19.

Numa carta da Pasogal a que o Observador teve acesso, o maior acionista da Groundforce começa por explicar a sua posição ao longo do processo, mas conclui que está disponível “para considerar a realização de um aumento do capital social da SPdH, reservado a acionistas, na modalidade de aumento de capital por novas entradas em dinheiro, com emissão de novas ações, a subscrever a um valor por ação baseado na avaliação da SPdH [Groundforce] já feita em 2018 pela Sycomore Corporate Finance”.

Alfredo Casimiro indica que essa avaliadora foi “sugerida pela TAP SGPS e Portugália e aceite pela Pasogal” e indica que essa avaliação seria adaptada “em função dos impactos da Covid-19”, embora não dê mais detalhes. “Esse aumento de capital, a deliberar oportunamente em Assembleia Geral da SPdH (Sociedade Portuguesa de Handling, o nome formal da Groundforce), para cuja realização desde já abdicamos dos prazos e formalidades prévias de convocação, terá, naturalmente, como pressuposto a reunião das condições necessárias à preservação e continuidade da empresa, pois só dessa forma se poderá garantir, de forma sustentada, a manutenção dos 2.400 postos de trabalho da SPdH”.

A carta enviada por Alfredo Casimiro – que surge com o timbre da Pasogal, e não da Groundforce – surge no mesmo dia em que o Ministério das Infraestruturas pediu uma resposta formal por parte do maior acionista da Groundforce à proposta de aumento de capital feita pela TAP.

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Por sua vez, o ministro Pedro Nuno Santos reagia a declarações anteriores de Alfredo Casimiro ao jornal Eco, que já se mostrava disponível para avançar com o aumento de capital, mas em termos distintos que não explicava. A empresa de handling tem uma parte dos salários de fevereiro em atraso e não tem, neste momento, assegurados os recursos para pagar as remunerações de março.

“É importante que o sócio maioritário da Groundforce responda oficialmente à proposta do Grupo TAP com aquelas que são as suas intenções neste processo, para que se possa o quanto antes resolver a situação dramática que se vive na empresa”.

“Os trabalhadores da Groundforce não podem continuar à espera que Alfredo Casimiro viabilize, de uma vez por todas, a resolução desta situação, uma vez que a perda de salário afeta cerca de duas mil famílias neste momento”.

Em declarações ao jornal Eco, Alfredo Casimiro, que controla 50,1% da Grounforce, afirmou que estava disponível para convocar uma assembleia geral para deliberar um aumento de capital na empresa que poderia vir a acompanhar. No entanto, sublinha que está aberto a uma operação nos “termos da lei”, sem esclarecer qual a resposta concreta à proposta feita pela TAP.

Este domingo a TAP, acionista minoritária e principal cliente da Groundforce, propôs injetar 6,9 milhões de euros na empresa em dificuldades financeiras, via aumento de capital que seria exclusivamente subscrito pela transportadora aérea. Nos termos propostos, a TAP passaria a ser a maior acionista da empresa de handling com consequências a nível da gestão da Groundforce.

Apesar da proposta divulgada excluir à partida a participação do acionista maioritário, a Pasogal de Alfredo Casimiro, fonte conhecedora do dossiê explicou ao Observador que existe abertura para negociar um aumento de capital subscrito pelas duas partes que não resulte necessariamente numa diluição da participação do empresário. No entanto, existe também a dúvida sobre a disponibilidade financeira da Pasogal (ou vontade do seu acionista) em acompanhar a operação, na medida em que apenas a TAP, acionista minoritária, tem vindo a avançar fundos à Groundforce através do pagamento adiantado de serviços de handling.

O impasse que se vive na empresa, e cuja consequência mais visível é o não pagamento total dos salários de fevereiro, resultou da TAP e do Governo terem recusado continuar a avançar dinheiro à Groundforce sem obter a contrapartida de uma garantia para esses empréstimos. E depois de se ter verificado que as ações que Alfredo Casimiro tinha na empresa já não podiam ser dadas como colateral porque estavam hipotecadas a outros credores.