Desenhados por Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci, os novos ténis da marca italiana não podem ser sentidos com as mãos. São virtuais e podem ser comprados para única e exclusivamente serem “calçados” através de realidade aumentada (RA), como se fossem um dos milhares de filtros atualmente disponíveis em redes sociais como o Instagram e o Snapchat.

O lançamento foi feito esta terça-feira, na app da Gucci, mas também na Wanna Kicks, plataforma parceira que tem explorado as potencialidades da RA no setor da moda. Os ténis custam 12,99 euros e, segundo o Business of Fashion, são o primeiro produto exclusivamente digital lançado pela empresa de tecnologia sediada na Bielorrússia, a Wannaby.

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No início de 2019, esta startup chegou às bocas do mundo. Através da realidade aumentada, começou por proporcionar a algumas das marcas mais conhecidas do mundo uma forma de aproximar o e-commerce dos seus clientes. A plataforma aperfeiçoou a possibilidade de experimentar calçado e relógios à distância, apenas com recurso à câmara do telemóvel, e pô-la ao serviço de gigantes como a Farfetch, a Adidas, a Lacoste e a Puma, entre outros.

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A relação com a Gucci vem de trás — no verão desse ano, altura em que a startup bielorrussa já tinha arrecadado um investimento de dois milhões de dólares, a marca de luxo anunciava que o seu modelo Ace podia ser experimentado através da app. Agora, ambas as empresas deram mais um passo ao apresentarem o primeiro modelo exclusivamente virtual.

Moda e realidade aumentada: um caso português

Para as marcas portuguesas de moda, a realidade aumentada continua a ser um universo por explorar, mas com exceções. Há cerca de um mês, a marca de calçado As Portuguesas lançou uma aplicação que possibilita aos utilizadores “experimentarem” os modelos à distância. Um investimento que superou os 45 mil euros, mas que leva a empresa a piscar o olho a um novo público.

“É muito importante ter moda, sustentabilidade e tecnologia aliadas”, resume Pedro Abrantes, sócio fundador e CEO da marca criada em 2016 e atualmente detida pela Kyaia e pela Corticeira Amorim. “Temos um modelo de negócio muito focado nos retalhistas, através dos quais exportamos para todo o mundo. Este investimento permite-nos trabalhar um novo público-alvo, a Geração Z”, completa em conversa com o Observador.

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Disponível para iOS, a aplicação é pioneira no universo de marcas portuguesas. Através da câmara do telefone, é possível ter uma imagem de como estas sapatilhas de sola em cortiça, nos seus diferentes modelos e cores, assentam no pé. No final, a plataforma permite a partilha em redes sociais, mas também pode direcionar o utilizador para a loja online da marca.

Desenvolvida em menos de um ano, a ferramenta contou com a colaboração de duas empresas tecnológicas internacionais, uma sediada na Rússia, outra em Londres. “Quando começou o primeiro confinamento, deparei-me com uma realidade completamente diferente — o mundo parado, lojas fechadas, não havia consumo. Já conhecia aplicações de realidade aumentada à moda, sobretudo em joias, mas não no calçado”, recorda o CEO.

São portugueses e com sola de cortiça. Os sapatos que António Costa levou a Haia

As experiências da Gucci foram, então, das primeiras a inspirar o empresário português. “O futuro passará sempre pela realidade aumentada”, remata Pedro Abrantes, que promete o lançamento de uma nova coleção, bem como de uma versão da aplicação para Android, até ao final deste mês. Embora garanta que o mercado português “tem sido uma agradável surpresa” — representa atualmente cerca de 8% das vendas e até já António Costa demonstrou a sua preferência pelas sapatilhas respiráveis –, são as exportações que representam o grosso da faturação d’As Portuguesas. Estados Unidos encabeçam a lista, com a marca presente em grandes cadeias e nos 50 estados, seguidores do norte da Europa.