Uma nova travessia sobre o Douro, uma nova linha do Metro do Porto e a extensão de uma linha já existente. António Costa vai ao Porto com o Ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, para dar um sinal daquilo que pode ser o aproveitamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que misture a construção de novas infraestruturas com o eixo da transição climática. Ainda assim, ao Observador, Matos Fernandes ressalva que, “o PRR também quer dizer pressa na execução para recuperar a economia, mas há coisas que não se fazem depressa, nomeadamente uma ponte. Aqui, não podendo andar depressa, começámos mais cedo“.
O ministro com a tutela dos transportes públicos explica que o governo quis “começar o projeto cedo, lançando um concurso de ideias” para a construção de uma travessia sobre o Rio Douro, que deverá começar em 2023 e que vai ligar Campo Alegre, no Porto, a Vila Nova de Gaia. “A travessia é a obra superlativa face à extensão do Metro do Porto”, explica Matos Fernandes em entrevista ao Observador, antes de explicar que o executivo procura “uma obra igualmente distinta, num rio que é também valorizado pelas suas pontes”. Para escolher a melhor ideia para a travessia o governo vai reunir um conjunto de onze especialistas, com o arquiteto Eduardo Souto Moura a ser um dos nomes mais fortes.
[Ouça aqui a entrevista ao Ministro do Ambiente na Rádio Observador]
A par da travessia, também vão ser assinadas as obras de extensão do Metro do Porto, com a criação de uma linha rosa — com quatro estações que vão ligar São Bento à Casa da Música, passando pelo Hospital de Santo António, Pavilhão Rosa Mota e as faculdades do Campo Alegre, entre outros locais –, bem como a extensão da linha amarela que vai permitir ligar Santo Ovídio a Vila d’Este, reforçando assim a cobertura em Vila Nova de Gaia e construindo, entre as duas linhas, sete novas estações. O objetivo, diz o titular da pasta, é “tirar 17 mil carros das estradas da Área Metropolitana do Porto“.
O investimento para estas obras superam os 400 milhões de euros, com o financiamento a surgir do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) — europeu — e também do Fundo Ambiental. Este ano, este fundo tem a maior dotação de sempre. São mais de 570 milhões de euros, o que representa um crescimento superior a 21% face ao ano de 2020. Ainda assim, uma parte deste aumento pode ter que ser direcionada para compensar as perdas das empresas públicas de transportes. Com a queda do número de passageiros, Matos Fernandes diz que “o governo está preparado para ter que compensar as empresas“. O Programa de Apoio à Redução Tarifária vai passar de “138 para 198 milhões de euros e pode ainda ser reforçado com mais 30 milhões caso seja necessário“, esclarece o Ministro do Ambiente.
Matos Fernandes acrescenta que, “os transportes públicos ao contrário dos outros setores nunca pararam. O governo exigiu aliás o contrário, mantendo as rotas menos lucrativas durante quase todo o período da pandemia”, o que naturalmente terá que ser compensado financeiramente, admite. Os dados que o executivo adianta ao Observador dão conta de que em janeiro deste ano a procura dos transportes públicos é de apenas 27% face a janeiro do ano passado, antes do inicio da pandemia.
Ministros “preocupados com saúde e economia”
Reforçando que “nunca falará sobre o que se passa nos debates do Conselho de Ministros”, João Pedro Matos Fernandes diz que “o Plano de Recuperação e Resiliência tem que arrancar depressa e este projeto da travessia e da extensão do metro é um excelente sinal“, procura reforçar.
Se a norte o sinal está dado, em Lisboa, Matos Fernandes afasta a discussão sobre uma terceira travessia sobre o Tejo. “Quem tem a tutela desses projetos pode estar a discuti-los, no Ministério do Ambiente não”, esclarece o governante, que atira mais um conjunto de obras: “O prolongamento do metro até Alcântara ou o metro de superfície entre Odivelas e Loures, mas em nenhum deles consta uma nova travessia sobre o Tejo“. Esse é um projeto ainda assim falado há vários anos, mas sobretudo para a componente rodoviária, algo que no Porto também existirá com um projeto entre a Câmara do Porto e a Câmara de Vila Nova de Gaia.
Para já, esta terça-feira, um dia depois do inicio do calendário de desconfinamento, o primeiro-ministro e o Ministro do Ambiente vão lançar este concurso público internacional nos Jardins do Palácio de Cristal, no Porto, procurando apontar e centrar a agenda também na recuperação económica.