“Próxima temporada? Por enquanto ainda não pensámos nisso mas o Cristiano tem mais um ano de contrato connosco, o que nos deixa satisfeitos. Estamos extremamente concentrados neste final de época. Ele já marcou muitos golos e é indiscutível”. Apenas uma hora antes do início do encontro da Juventus frente ao FC Porto, Fabio Paratici, diretor desportivo dos bianconeri, teve uma afirmação que quase parecia abrir a porta da saída ao jogador português até ao verão de 2022; depois, na sequência da nova eliminação precoce da Champions, era a imprensa transalpina que avançava com a hipótese de novas paragens ainda no verão de 2021; agora, uma semana e meia após esse encontro, Andrea Pirlo não tem dúvidas: fica pelo menos até ao verão de 2022. E se hoje essa hipótese se tornou uma questão é porque pelo meio houve mais um jogo – e mais um hat-trick na carreira.

Ronaldo foi mudando ao longo dos anos. Do Manchester United para o Real Madrid tornou-se um goleador, capaz de se envolver muito mais nas zonas de finalização e pisar menos os corredores laterais com exibições como aquela que lhe valeu o bilhete para a ribalta na inauguração do Estádio José Alvalade, em 2003. Do Real Madrid para a Juventus tornou-se mais letal, não no sentido dos golos (que até marca menos) mas na influência diferente que tem na manobra ofensiva e no menor número de ações com bola face à inevitabilidade de aparecer quase sempre no sítio certo à hora certa. Ainda assim, e nesse longo trajeto de duas décadas nos seniores, houve algo que nunca mudou: quando tem um momento mais baixo, responde sempre da melhor forma. E foi isso que aconteceu frente ao Cagliari, onde conseguiu o segundo hat-trick na Serie A com um golo a abrir de cabeça num canto, outro de pé direito numa grande penalidade e outro de pé esquerdo de bola corrida. Tudo em 32 minutos.

Num ápice tudo mudou e a semana continuou a ser positiva para o capitão da Seleção Nacional, que recebeu na noite desta sexta-feira o prémio de Melhor Jogador da Serie A em 2019/20, repetindo a distinção que ganhara na última temporada numa cerimónia virtual onde deixou uma mensagem de agradecimento. “Quero agradecer a todos os meus colegas de equipa que tornaram a minha vitória possível e a todos aqueles que votaram em mim. A consistência, a confiança, o trabalho e a paixão são os segredos para desfrutar do futebol. Todos estes fatores devem coexistir todos os dias, caso contrário é impossível jogar neste nível aos 34, 35, 36, 40 anos. É preciso motivação e muita disciplina. Foi um ano estranho mas a nível pessoal e coletivo foi positivo porque vencemos a liga. No início era difícil jogar em estádios vazios mas o nosso objetivo era ganhar a Serie A”, disse.

O resultado final do Campeonato terá o seu peso na atribuição do prémio referente à temporada de 2020/21 mas, a título individual, Ronaldo atravessava o melhor momento na Serie A antes desta receção ao Benevento: 51 golos nos últimos 50 jogos feitos, 23 golos noutros tantos jogos apenas esta época. Era isso que lhe valia quatro golos de avanço sobre Lukaku na lista dos melhores marcadores do calcio, era isso que continuava ainda sem valer uma aproximação real ao primeiro lugar do Inter, que viu o seu encontro com o Sassuolo desta jornada adiado por indicação das autoridades de Milão, que obrigaram a que as atividades da equipa fossem interrompidas até segunda-feira pelos quatro casos positivos já detetados na equipa. E mais uma vez foi isso que aconteceu: sendo o elemento que mais tentou remar contra a maré de total desinspiração da equipa e vendo as cinco boas chances para marcar saírem ao lado ou serem travadas pelo guarda-redes contrário, não evitou nova derrota caseira.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O encontro foi antecedido por mais um momento simbólico por parte da Juventus com Ronaldo, com o presidente Andrea Agnelli a oferecer ao português uma camisola especial com o número 770, total de golos que leva em jogos oficiais depois dos três marcados ao Cagliari e que permitiram ultrapassar o registo de Pelé (assumido por ambos os astros), com a inscrição G.O.A.T. – Greatest Of All Time. E bastaram poucos minutos para que a marca não aumentasse, com o avançado a fazer uma simulação de corpo que deixou Viola para trás na área antes do tiro cruzado a rasar o poste. No entanto, essa acabou por ser uma imagem errada daquilo que se viria a passar ao longo da primeira parte: uma Juventus a jogar a dez à hora, com poucas oportunidades e a ter apenas dois remates mais perigosos de Morata, o segundo numa recarga a cabeceamento de De Ligt após canto, até ao intervalo, antes de mais uma tentativa de longe de Ronaldo nos descontos para defesa mais apertada de Montipo.

O Benevento, que teve duas aproximações com perigo nos 45 minutos iniciais, chegava a Turim com uma série de 11 encontros consecutivos sem ganhar (cinco empates e seis derrotas, com o último triunfo a surgir a 6 de janeiro com o Cagliari) mas a Juventus voltava ao lado lunar demasiado frequente numa época marcada pela constante irregularidade não só nos resultados mas também nas exibições. E o pior estava ainda para vir: depois de mais de 20 minutos jogados praticamente no meio-campo dos visitantes ainda que sem grandes oportunidades, Arthur teve um erro enorme num passe errado para a zona central e Adolfo Gaich, avançado argentino que se destacou no último Mundial Sub-20 e que entrou no radar de algumas equipas portuguesas, inaugurou o marcador (69′).

A exibição em termos ofensivos era fraca, um jogo quase sem trabalho em termos defensivos ainda deu margem para sofrer um golo por culpa própria e a Juventus perdeu mesmo no Allianz Stadium apesar de três novas grandes defesas de Montipo em insistências de Ronaldo nos últimos 15 minutos do encontro e um pontapé acrobático do português após dominar no peito que saiu pouco ao lado mas que deixou um inchaço no lado esquerdo da cara do avançado, que levou com um defesa em cima na queda num lance que mostrou que não foi por falta de tentativas de todas as formas que não conseguiu chegar ao golo. O Benevento voltou a ganhar dois meses e meio depois e pode ter acabado de vez com a esperança dos bianconeri em revalidar pela décima vez um título que parece destinado a mudar de mãos. E se Pirlo for mesmo a opção da próxima época, tem mesmo muito que fazer…

https://twitter.com/goaaal746/status/1373662857053736970