O ministro das Infraestruturas afirmou que Alfredo Casimiro tentou enganar o Estado e os trabalhadores na negociações para encontrar uma solução para a Groundforce. Para Pedro Nuno Santos, a revelação tardia de que as ações da empresa que poderiam servir de garantia ao empréstimo da TAP estavam penhoradas à banca foi o “primeiro momento infeliz em que um empresário decide enganar o estado e os trabalhadores. Mas não foi o único”.

Pedro Nuno Santos, que foi ouvido esta quarta-feira na comissão parlamentar de Obras Públicas, apontou ainda o dedo ao Governo do PSD/CDS por ter decidido “pagar para entregar a Groundforce ao privado”. Em resposta ao deputado centrista, João Gonçalves Pereira, explicou melhor o que quis dizer. Confirma que Alfredo Casimiro pagou 3,7 milhões de euros pela empresa que comprou em 2012 — como afirmou o empresário no Parlamento —, mas apenas em 2018. Em 2015, o dono da Pasogal já tinha recebido 5,4 milhões de euros em comissões de gestão e mais 2,2 milhões de euros nos anos seguintes, acrescentou.

“Recebeu 7,6 milhões de euros e pagou 3,7 milhões de euros. Quantos portugueses gostavam de fazer este negócio? Dez milhões”.

O titular da pasta das Infraestruturas assumiu também que as notícias de uma execução da penhora sobre as ações de Alfredo Casimiro (segundo o Expresso, o Montepio iniciou o processo), se se confirmarem, “abrem uma nova perspetiva de resolução do problema de Groundforce”. Isto “porque achamos sinceramente que um dos principais problemas é o atual acionista privado, que não está vendedor e também não tem dinheiro para meter”, disse em resposta à deputada do Bloco de Esquerda, Isabel Pires.

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Pedro Nuno Santos considerou que a contraproposta de aumento de capital feita pelo empresário foi uma “manobra de diversão” que não foi levada a sério porque quem a faz deve “dezenas de milhões de euros”. Mesmo quando foi possível chegar a acordo para a venda dos equipamentos da Groundforce à TAP em troca de um financiamento, Alfredo Casimiro absteve-se na votação e um outro gestor por si representado votaram contra.

Segundo Pedro Nuno Santos, o maior acionista da empresa de handling “esteve a mentir até ao fim e ainda gravou uma reunião com o ministro (que publicou sem autorização e que deu origem a uma queixa criminal). Não podemos fazer de conta que nada se passa e de que estamos perante um empresário igual aos outros”.

Dono da Groundforce “provou que não é sério”. O Estado tem de se defender

O ministro das Infraestruturas defendeu que o caso da Grounforce permite tirar “ilações sobre como se fazem privatizações e de como os empresários vivem nas costas do Estado”. Pedro Nuno Santos refere-se ao processo de venda da participação maioritária da TAP na empresa, conduzido em 2012 pelo Executivo de Passos Coelho, pelo qual, reafirma, o dono da Urbanos recebeu mais do que pagou. O governante referiu ainda que há empresários que olham para o Estado como multibanco, mas também há empresários que investem.

Pedro Nuno Santos defendeu ainda que estes processos devem ser transparentes. “Quando um privado faz a sua narrativa na praça pública, o Estado tem de se defender”. E sublinhou que dono da Groundforce “provou que não é sério”. Nestes casos, sublinhou, “não se pede recato, tem de se defender o Estado e o povo”.

Esta relação entre o Estado e as empresas, é “uma vergonha”, afirma em resposta ao deputado Carlos Silva do PSD que o confrontou com o braço-de-ferro público entre o Governo e mais um investidor privado que, do seu ponto de vista, dificulta as soluções. “O confronto só existe porque não fizemos a vontade ao empresário”, responde. Carlos Silva protesta e o ministro reafirma “aquele negócio é uma vergonha”, mas assegura que tem todo o respeito pelo Parlamento, apesar de alguns “momentos difíceis ” na interação com o deputado do PSD.

Pedro Nuno afasta nacionalização. “Estamos a procurar uma solução decente para Groundforce e para TAP

O deputado do PCP Bruno Dias corrige a informação dada ao Parlamento sobre a privatização de 2012. A privatização foi feita em 2003 e a TAP foi obrigada a recomprar a posição e parqueá-la na banca porque o serviço de handling estava um caos. E foi obrigada a vender por causa de imposições comunitárias. Deixa uma pergunta ao ministro: “O Governo está disponível para deixar cair a Grundforce? Parece que está”.

Pedro Nuno Santos afastou cenário de nacionalização, que seria sempre temporária e iria gerar litígio com o acionista privado. O ministro exalta-se com Bruno Dias e diz os deputados que estão numa posição fácil de dizer mal (quando são da oposição), e pergunta se deixaram de estar preocupados com a TAP para estar mais preocupados com a Groundforce.  “Estamos a procurar uma solução decente para a empresa e para TAP”, garantindo que o Governo não se esquece dos 1.400 trabalhadores.

O ministro remeteu ainda para os Ministérios da Economia e das Finanças a responsabilidade por aprovar o empréstimo de 35 milhões de euros com aval do Estado pedido há vários meses pela Grounforce, e cuja demora na aprovação tem sido atribuída ao atraso na entrega de informação financeira por parte da empresa.

“O empréstimo não depende do ministro. Ao contrário de mim que sou suspeito de ser comunista — pede desculpa a Bruno Dias (deputado do PCP) — os ministros da Economia e das Finanças não são suspeitos de o serem”.

TAP paga acima do preço de mercado. Contrato da Groundforce tem ser revisto

Pedro Nuno Santos clarificou ainda em resposta a Inês Sousa Real do PAN, que a informação completa só chegou a 4 de março aos bancos, a Caixa que faria o empréstimo e o Banco de Fomento que daria o aval, mas falta um plano de reestruturação que dê confiança às instituições bancárias. E o privado diz que não há plano enquanto não conhecer o plano de reestruturação da própria TAP que está a ser negociado com Bruxelas.

O ministro das Infraestruturas afirmou ainda que a TAP paga acima do preço de mercado à Groundforce pelo serviço assistência em aeroportos, o que tem consequências nas contas da companhia aérea e, por isso, o contrato tem de ser revisto.

“É óbvio que a TAP tem de rever o contrato que tem com a Groundforce”, afirmou. Pedro Nuno Santos considerou que, cobrando ao seu principal cliente “um preço que não existe no mercado”, “é fácil” para a Groundforce ter lucros, como os que vinha a apresentar até à crise provocada pela pandemia de covid-19.