Um em cada três euros que existem em crédito empresarial no país está sob moratória, ou seja, tem o pagamento de prestações suspenso. São cerca de 24 mil milhões de euros, dos quais 8,4 mil milhões de euros dizem respeito aos setores mais afetados pela crise pandémica, tais como a restauração e a hotelaria. Os dados atualizados foram divulgados esta quarta-feira pelo Banco de Portugal, que vai passar a divulgar todos os meses um relatório sobre como estão a evoluir as moratórias no setor bancário português. Quanto às famílias, um quinto do crédito terá de voltar a ser pago já a partir do fim deste mês, com o fim da moratória privada (onde estão 3,7 mil milhões de euros).
Segundo os dados do Banco de Portugal, no final de janeiro havia um total de 45,7 mil milhões de euros em crédito sob moratória – um valor que diz respeito não aos montantes que ficaram por pagar mas, sim, ao montante total em crédito que está com os pagamentos suspensos. Este é um valor que se divide entre cerca de 24 mil milhões de euros em crédito empresarial e 20 mil milhões a famílias/particulares (além de uma pequena franja de outras situações).
Ora, o dado mais preocupante diz respeito às empresas, já que se trata de 33,2% do crédito empresarial total existente no sistema financeiro nacional (o total é 73,5 mil milhões de euros). Em contraste, quando se fala das famílias, a proporção do crédito sob moratória representa 16% dos empréstimos existentes.
No campo do crédito a particulares e famílias, dos 20 mil milhões de crédito sob moratória em particulares 17,1 mil milhões dizem respeito a crédito à habitação. Entre os 20 mil milhões totais, 3,7 mil milhões estão em moratória privada, que foi organizada pela Associação Portuguesa de Bancos (APB). É, portanto, cerca de um quinto do total.
Recorde-se que a moratória privada termina já no final de março, ao passo que a moratória pública termina mais tarde. Na moratória pública, para quem aderiu até 30 de setembro de 2020, a duração (que estava prevista até 31 de março de 2021) foi alargada até 30 de setembro de 2021. Para quem aderir até 31 de março de 2021, a moratória tem a duração de nove meses, terminando, caso o crédito não tenha beneficiado de nenhuma moratória, no limite até 31 de dezembro de 2021.
Se olharmos não para o valor total mas para a percentagem de devedores: 8,8% dos devedores particulares têm pelo menos uma moratória (408 mil pessoas ou famílias), ao passo que nas empresas são 22,4% dos devedores, ou 54 mil empresas. Mais de metade – 57% – diz respeito aos setores do alojamento e restauração, um dos setores mais penalizados nesta crise.
Moratórias bancárias. Vai ficar (quase) tudo bem, garantem os bancos
O Banco de Portugal vai passar a divulgar mensalmente dados sobre as moratórias, com montantes (saldos em fim de mês), número de devedores e peso relativo de cada segmento (empresas, famílias, habitação, consumo etc.). O relatório sairá sempre no último dia útil de cada mês, com dados relativos ao mês antecedente.