Foi a principal notícia que saiu da Comissão Europeia em janeiro de 2020: para diminuir o “lixo eletrónico”, o Parlamento Europeu, sob proposta da Comissão, começou a discutir a obrigação de as empresas terem um carregador com entrada igual para todos os smartphones. A Apple, que usa uma entrada própria para os iPhone — chamada de lighting — tem sido a principal opositora. Agora, a empresa norte-americana trocou as voltas à Comissão. Porquê? Porque os futuros iPhone podem nem precisar de qualquer cabo. Como conta o El País, isto atrasou os planos europeus uns meses e ainda são precisos dois novos estudos para perceber o impacto que uma medida destas pode ter.
UE quer carregador igual para todos os telemóveis. Apple discorda: “Sufoca a inovação”
A Comissão Europeia quer criar um padrão de conectores de carregamento de aparelhos eletrónicos para reduzir o desperdício tecnológico. A Apple, que utiliza o lighting, tem defendido que uma medida assim “sufoca a inovação, em vez de incentivá-la, e isso prejudicaria os consumidores na Europa e a economia como um todo”. Quando a Nokia era a empresa dominante no mercado, na década de 2000, o comum era cada fabricante ter o seu tipo de carregador.
Para já, como tudo o que tem a ver com novidades de futuros smartphones da Apple, um iPhone sem qualquer entrada para cabos ainda é apenas um rumor. Mas não é por isso que a Comissão não tem de se preparar. Em janeiro deste ano, a Bloomberg avançava que a Apple “estava a decidir remover por completo a entrada para carregamento por cabo”, decisão que poderá mudar o futuro do mercado de telemóveis.
Em 2017, com o lançamento do iPhone 7, a Apple lançou o seu primeiro modelo sem entrada para auriculares tradicionais com fios. Depois disto, esta ausência de conetor passou a ser a norma entre as principais marcas nos seus equipamentos topo de gama. Hoje em dia, o mais comum no mercado é estes equipamentos só contarem com uma entrada para carregar o telemóvel ou ligar aparelhos externos.
É pelo motivo descrito acima que Bruxelas precisa de mais tempo para perceber se uma lei que obriga as tecnológicas a usar o mesmo conector pode mudar o mercado. Neste momento, tirando os iPhone da Apple, o padrão na indústria é o USB-C. Como conta o periódico espanhol, os dois estudos necessários para esta decisão só vão ser publicados em junho. Ou seja, ficou mais longe um futuro em que qualquer carregador servirá para carregar qualquer, independentemente da marca. Isto se ainda não for fã de carregamento sem fios, uma funcionalidade de carregamento transversal a todos os smartphones e aparelhos que cada vez mais se vê no mercado. Desde 2017 que todos os telemóveis da Apple têm esta funcionalidade.
Ao jornal espanhol, Chema Molina, fundador da Frenetic, uma empresa espanhola de carregadores, diz que o carregador lighting é um dos mais eficientes no que concerne ao consumo de energia. Mesmo assim, defende que isso apenas não é motivo para acabar com os planos da Comissão Europeia. Porém, se a solução passar por impor carregamento sem fios para todos os equipamentos — atualmente é a única verdadeira solução transversal a todas as marcas –, a opinião de Molina muda. “Neste momento seria um grande erro decidir que esta é a solução. Usaríamos 20% a mais de energia a cada carga do telefone“, afirma.
Foi em 2007 que o padrão do Micro USB surgiu e os telemóveis começaram a, lentamente, ter mais ou menos o menos carregador. Contudo, os iPhone sempre tiveram entradas próprias. Apesar de a Apple utilizar o seu conector lighting para a maioria dos seus equipamentos, em 2018 a empresa lançou um iPad, o Pro, que passou a utilizar uma entrada USB-C.