A controvérsia fez correr muita tinta e, literalmente, algum sangue. Tudo começou na semana passada, quando o rapper Lil Nas X lançou o seu mais recente single, “Montero (Call Me By Your Name)”, em cujo vídeo se apresenta ora como anjo caído ora como um demónio em plena lap dance com o diabo. No rescaldo da novidade, conhecida na passada sexta-feira, Nas X brindava os seguidores no Twitter com outro lançamento, apontando para aqueles que em pouco tempo haveriam de ficar conhecidos como os “ténis satânicos”.
coming soon ❣️ https://t.co/Iq9Nf0aiHm
— ☆ (@LilNasX) March 26, 2021
O problema é que o acessório, o famoso modelo Air Max 97, foi modificado pelo coletivo de artistas MSCHF sem a autorização da marca Nike, cujo logo se mantém visível nos ténis — adornados com um pentagrama e uma gota de sangue humano na sola (este foi aliás outro dos pormenores que aqueceram a discussão em torno do acessório).
Segundo o grupo que o alterou, o sangue foi fornecido pelos membros do coletivo artístico que assina a transformação da peça. “Adoramos sacrificar-nos pela nossa arte”, anunciou o respetivo porta-voz e diretor criativo Kevin Wiesner, citado pela CNN, confirmando que cada sola inclui 60 centrímetros cúbicos de tinta encarnada e “uma gota” de sangue — e afastando qualquer envolvimento da Nike.
Esta segunda-feira, 29 de março, a edição limitada (apenas 666 unidades, o “número da besta”), que inclui uma referência bíblica (Lucas 10:18), voou em apenas um minuto. Cada par custava 1.018 dólares (qualquer coisa como 864 euros). O primeiro ficou nas mãos, ou nos pés, de Lil Nas X.
No rescaldo da polémica, esta segunda-feira, avança a CNN, a Nike decidiu avançar com um processo contra o coletivo artístico responsável pelos Lil Nas X Satan Shoes, o mesmo que em 2019 lançou os costumizados “Jesus Shoes”. A empresa de artigos de desporto acusa a MSCHF Product Studio, Inc. de infringir as regras de propriedade intelectual ao lançar 666 pares de ténis Nike modificados, tudo em colaboração com a voz de “Old Town Singer” — o nome de Lil Nas X, no entanto, não surge mencionado no processo.
Na sua queixa, a Nike pede que a MSCHF, que à semelhança do músico ainda não se manifestou sobre a ação legal, de “parar permanentemente” de responder a pedidos dos “não autorizados” Lil Nas X Satan Shoes, tendo por base os consideráveis danos que o impacto do produto provocou na marca ao longo dos últimos dias.
Nas redes sociais, vários utilizadores ameaçaram boicotar a Nike, acusada de “apoiar o satanismo”. A marca reforça, no comunicado enviado aos media norte-americanos, “não ter qualquer relação com Lil Nas ou com a MSCHF” e que “não desenhou nem lançou estes ténis nem os patrocina”. A empresa de artigos desportivos alega ainda que desde o lançamento daquele produto, a Nike “tem sofrido consideráveis danos”, com vários consumidores a acreditarem que a marca está a “apoiar o satanismo”.