O grupo chinês de telecomunicações Huawei revelou na quarta-feira que as suas vendas e lucros aumentaram, em 2020, mas ao menor ritmo dos últimos 20 anos, devido às sanções impostas pelos Estados Unidos.

A primeira marca de tecnologia global da China informou que as vendas de telemóveis, equipamento para redes de telecomunicações e outros produtos e serviços aumentaram 3,8%, em relação a 2019, para 891,4 mil milhões de yuans (136 mil milhões de euros).

O crescimento das vendas foi o mais fraco desde 2000. Nesse ano, a indústria da tecnologia foi abalada pelo colapso dos preços das ações das empresas da Internet, listadas no índice Nasdaq. Em 2019, as vendas da empresa aumentaram 19,1%, em termos homólogos, impulsionadas pela subida de 15,4% na China, enquanto as vendas em outros mercados diminuíram.

A Huawei está a tentar manter o acesso aos mercados globais, depois de a anterior administração dos Estados Unidos ter cortado o acesso da empresa a tecnologia norte-americana, incluindo chips para processadores ou os serviços da Google. “Esta é uma situação muito injusta para a Huawei. Isto prejudicou-nos em muito”, disse o presidente Ken Hu, em conferência de imprensa, na sede da Huawei, em Shenzhen, no sul da China.

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A Huawei, que nega acusações de estar sujeita a cooperar com os serviços de inteligência chineses, vendeu já a sua marca de telemóveis de baixo custo, a Honor, na esperança de recuperar as vendas, poupando-a das sanções impostas à empresa-mãe. E disse que tem uma reserva de chips para os seus telemóveis de última geração, mas os executivos admitiram que esta deve esgotar em breve.

Washington ampliou as sanções, ao proibir os fornecedores globais, no ano passado, de usar tecnologia dos EUA para produzir chips para a Huawei. O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, disse em fevereiro passado que há poucas hipóteses de que as sanções sejam suspensas. Apesar de a nova administração norte-americana ter mudado a retórica em relação à China, a política de rivalidade deve manter-se com Joe Biden.

Ken Hu disse que os fornecedores norte-americanos perderam entre 10 a 20 mil milhões de dólares em vendas anuais para a Huawei. Hu expressou confiança de que as vendas globais irão recuperar assim que a pandemia do coronavírus for controlada. “Estou bastante otimista quanto ao desempenho de 2021 em regiões fora da China, mas não posso dar uma previsão definitiva”, apontou.

O confronto com Washington levou o Partido Comunista da China a apontar como objetivo para os próximos anos aumentar a autonomia do setor tecnológico, visando depender menos de fornecedores estrangeiros. O Ministério das Finanças da China anunciou, esta semana, que os fabricantes de chips passam a estar isentos de impostos de importação sobre equipamentos e matérias-primas até 2030.

A Huawei disse que os lucros, em 2020, subiram 3,2%, para 64,6 mil milhões de yuans (8,5 mil milhões de euros), desacelerando em relação ao crescimento de 5,6%, em 2019.

As vendas de telemóveis e outros produtos de consumo aumentaram 3,3%, em relação a 2019, para 487 mil milhões de yuans (63 mil milhões de euros). Em 2019, as vendas daquela unidade registaram um crescimento homólogo de 34%.

Numa demonstração da capacidade técnica da empresa, a Huawei lançou um telemóvel dobrável, em fevereiro passado, com uma tela de 20 centímetros de largura. Este modelo, o Mate X2, será apenas vendido na China, possivelmente refletindo a escassez de chips. Os gastos com pesquisa e desenvolvimento, que já estão entre os mais altos de qualquer empresa, subiram para 141,9 mil milhões de yuans (18,4 mil milhões de euros), ou cerca de 16% das receitas da empresa.

As vendas de equipamentos para redes de telecomunicações permaneceram estáveis, ascendendo a 302,6 mil milhões de yuans (39,6 mil milhões de euros), depois de Washington ter pressionado os países aliados a excluírem a Huawei das redes de quinta geração (5G).

As autoridades chinesas acusam Washington de usar falsas acusações sobre segurança nacional para prejudicar uma empresa concorrente. À medida que mais pessoas trabalharam a partir de casa, as vendas de tecnologia para fabricantes, cuidados de saúde e outras empresas saltaram 23%, em 2020, para 103,4 mil milhões de yuans (13,1 mil milhões de euros). A Huawei diz que pertence aos funcionários chineses, que representam metade da sua força de trabalho, de 197.000 pessoas, distribuídas por 170 países.

A empresa começou a relatar os resultados financeiros há uma década, numa tentativa de neutralizar as preocupações sobre segurança.