Os profissionais da cultura da Madeira que se consideram “desprezados, banidos e ignorados pelo Governo Regional da Madeira” reuniram-se este domingo numa manifestação que juntou cerca de 20 pessoas numa vigília, no Funchal.

“É chegado o momento de os profissionais da cultura da Região Autónoma da Madeira (RAM), os que sobram e os que não estão silenciados, de saírem à rua em vigília para lembrar aos órgãos governativos locais o papel vital que a cultura tem para as sociedades, manifestando-se contra a forma como estes mesmos profissionais têm sido vedados à entrada, desprezados, banidos e ignorados pelo Governo Regional”, declarou o porta-voz da iniciativa, Luís Pimenta.

À semelhança do que vai acontecer a 21 de abril em várias cidades portuguesas, os trabalhadores da cultura madeirense, sob o mote “e se tivéssemos ficado sem cultura?”, reuniram-se este domingo pela segunda vez, 11 meses depois do primeiro protesto.

Segundo Luís Pimenta, o conjunto de profissionais que viu as suas produções adiadas e as suas vidas em pausa até que alguém decida quando podem voltar a exercer a sua profissão com dignidade, escolheram de forma simbólica reunir-se em frente à Sé Catedral, por se tratar de um espaço religioso.

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Com o intuito de demonstrar que as medidas impostas pelo Governo Regional “são discriminatórias e pouco claras”, já que os espaços religiosos podem “albergar até 50% da sua capacidade”, em contraste com os espaços culturais, reduzidos desde janeiro a cinco pessoas no público, independentemente do tamanho da sala ou da sua lotação máxima.

Ricardo Brito, criador e produtor independente, assume que a grande diferença entre a primeira vigília e esta é que os profissionais da Cultura e das artes estão mais “limitados”, lembrando que aqueles que necessitam da receita da bilheteira não têm como sobreviver.

O criador e produtor independente garante que no ano transato só realizou “trabalhos pontuais, com recursos muito escassos”, fazendo-se valer do apoio que a segurança social atribuiu para a quebra de atividade dos trabalhadores independentes, “coisa que este ano não se verifica”.

“Isto não é uma suspensão, é uma quebra de atividade profunda, às vezes com reduções na ordem dos 100%”, enfatizou Ricardo Brito.

O mesmo produtor ressalvou que, “não tendo havido um acompanhamento ao nível dos apoios, nem sequer uma equiparação àquilo que têm vindo a ser os apoios nacionais do Ministério da Cultura, que excluem as Regiões Autónomas”, não passa por dificuldades porque conta com a ajuda da sua família.

Cristina Nunes, atriz e figurinista, salientou a importância de “reivindicar a dignidade da cultura e dos trabalhadores da arte”, realçando que “as medidas de proteção social não estão a chegar aos artistas”.

A também estudante da área de saúde questionou a ausência de regulamentação no setor da cultura e das artes, contrastando com uma área que também conhece, a saúde, que “tem todas as suas áreas regulamentadas e existem normas e objetivos.”

“Se não há um órgão que se responsabilize pela proteção social, que se responsabilize pelo estímulo do desenvolvimento, pela normalização daquelas que deveriam ser as regras de génese, quem é que precisa de um Governo?”, continuou.

A atriz e figurinista assume que trabalhar neste momento na cultura é “reinventar-se”, o que se torna mais difícil sem “uma estrutura de apoio que crie oportunidades alternativas para que a cultura permaneça, exista e continue a existir”.

Os profissionais do setor vão fazer, em 21 de abril, em várias cidades do país, velórios por todos aqueles “que este Governo deixou para trás” no último ano, anunciou na semana passada o grupo informal Vigília Cultura e Artes.

O grupo informal Vigília Cultura e Artes surgiu em 21 de maio do ano passado para promover um protesto, homónimo, que decorreu em 17 cidades portuguesas.

“A única coisa que podemos fazer um ano depois é um velório, e vamos velar todos os profissionais da Cultura que foram deixados para trás por este Governo e por todos os deputados que estão sentados na nossa Assembleia da República”, afirmou a atriz Anaísa Raquel, em declarações à Lusa, em nome daquele grupo informal.

A paralisação da Cultura começou na segunda semana de março de 2020, depressa se estendeu a todas as áreas e, no final desse ano, entre ‘plano de desconfinamento’ e novos estados de emergência, o setor somava perdas superiores a 70% em relação a 2019.

Este ano, em 15 de janeiro, todos os equipamentos culturais voltaram a fechar, no âmbito das medidas decretadas pelo Governo para conter a pandemia da covid-19.

Entretanto, as atividades culturais começaram a ser retomadas, faseadamente, em 15 de março, dia em que puderam reabrir livrarias, lojas de discos, bibliotecas e arquivos.

No que ao setor da Cultura diz respeito, em 05 de abril puderam reabrir museus, monumentos, palácios, galerias de arte e similares.

Em 19 de abril, podem reabrir teatros, auditórios, salas de espetáculos e cinema, e podem também ser retomados os “eventos no exterior, sujeitos a aprovação da Direção-Geral da Saúde”.

Em 03 de maio, poderão voltar a realizar-se “grande eventos exteriores e interiores, sujeitos a lotação definida” pela Direção-Geral da Saúde (DGS), o que pode vir a incluir festivais.

Na apresentação do ‘plano de desconfinamento, em 11 de março, o primeiro-ministro, António Costa, salientou que o processo de reabertura “está sujeito sempre a uma reavaliação quinzenal, de acordo com a avaliação de risco” adotada.