A associação ambientalista MilVoz alertou para a morte de centenas de aves nas redes de explorações de aquacultura na Figueira da Foz e criticou “a inação” do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
As redes usadas pelas explorações de aquacultura da Figueira da Foz, para proteger os peixes da predação (especialmente por corvos marinhos), têm levado à morte de “centenas de aves por ano”, estima o presidente da associação, Manuel Malva, salientando que não há nenhum estudo sistemático sobre o problema.
A associação divulgou na rede social Facebook imagens de várias aves que ficaram presas nessas redes de nylon, acabando a maioria por morrer.
https://www.facebook.com/MilVozNatureza/posts/762072667781359
“Estas redes são tão problemáticas que acabam por vitimar das mais pequenas aves limícolas às grandes aves de rapina, muitas delas com estatuto de conservação desfavorável, como a águia-de-bonelli, o bufo-real, a águia pesqueira ou a coruja-do-nabal”, disse à agência Lusa Manuel Malva.
Segundo o responsável, “a grande maioria não é removida das redes e morre por esgotamento, ficando os cadáveres pendurados”. Quando as aves se conseguem libertar, os ferimentos registados são graves, como golpes profundos, asas ou patas partidas, não estando nenhuma delas “apta para ser devolvida à natureza”. De acordo com Manuel Malva, têm sido muito poucas as aves feridas em explorações de aquacultura no Estuário do Mondego que acabam por dar entrada em centros de recuperação.
Face às denúncias, o presidente da MilVoz referiu que o ICNF convocou um grupo de trabalho em fevereiro de 2020, em que esteve presente a associação ambientalista, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), representantes das explorações de aquacultura e a Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM).
“Como conclusão da primeira reunião, foi unânime que era necessário tratar do problema e todas as entidades comprometeram-se em encontrar uma solução”, referiu. A solução definitiva seria a substituição das redes de nylon transparentes por “redes escuras e mais grossas”, mas percebeu-se que “os aquacultores não teriam a capacidade financeira para uma transição de redes, sem pelo menos haver um apoio”, explicou. “Ficou então definido trabalharmos em medidas de mitigação do problema, enquanto não conseguíamos arranjar condições para implementar a solução definitiva. E essas medidas de mitigação foram discutidas, desde fitas coloridas ou uns papagaios de papel que simulam a silhueta de aves de rapina, a artefactos que produzem sons dissuasores”, frisou Manuel Malva.
O responsável da MilVoz salientou que os produtores mostraram-se “sempre disponíveis para colaborar na solução”, com as críticas a serem dirigidas à DGRM e ao ICNF. “A situação no terreno permanece exatamente na mesma e as aves continuam a morrer nas redes”, realçou. Segundo Manuel Malva, o ICNF nunca mais respondeu a contactos e sugestões por parte do grupo de trabalho desde setembro.
Questionado pela agência Lusa, o ICNF salienta que em novembro de 2020 a Direção do Centro do ICNF “iniciou a implementação de um programa de monitorização com vista a recensear e caracterizar a utilização que as comunidades de aves fazem das instalações dos estabelecimentos de aquacultura e avaliação da afetação das comunidades de aves (lesões e mortalidade) causada pelos dispositivos utilizados naquelas explorações para diminuir os prejuízos causados pela predação das aves”. Esse programa, esclareceu, vai permitir também definir “as características técnicas que devem possuir as redes ou outros dispositivos que minimizem a mortalidade/ferimento das aves e que simultaneamente evitem/diminuam a predação das aves nos tanques das pisciculturas”.
“Este programa está a ser realizado em articulação com as empresas titulares dos estabelecimentos de aquacultura e é do conhecimento da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos e das ONGA [organizações não-governamentais da área do ambiente]”, frisou o ICNF. O ICNF salientou ainda que a Direção Regional do Centro tem desenvolvido “ações de sensibilização dos gestores e dos operadores da exploração para as boas práticas que minimizem a atração das aves aos locais”.