A procura da imagem perfeita nas redes sociais, através da utilização de filtros nas selfies, está a fragilizar a autoestima das jovens e tem levado a uma procura crescente de cirurgias plásticas, segundo um inquérito divulgado esta terça-feira

A “Dismorfia do ‘snapchat” é um transtorno psicológico que afeta cada vez mais jovens em todo mundo, que se desencadeia por influência das redes sociais e as leva a realizarem cirurgias plásticas para ficarem como aparecem nas selfies em que usam filtros que mudam a aparência.

Um estudo da Academia Americana de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva Facial mostrou que 72% dos cirurgiões sentiram o aumento da procura por estes procedimentos em 2019, mais 15% do que em 2018.

Tendo em conta este contexto foi conduzido em Portugal o estudo Detoxify Beauty da Dove, um inquérito online que envolveu 510 raparigas portuguesas, dos 10 aos 17 anos, e que decorreu em 10 países.

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O grande objetivo do estudo foi perceber de que forma é que estas jovens estão a distorcer a sua imagem nas redes sociais e perceber qual é o impacto dos filtros das redes sociais na sua autoestima, no seu comportamento, na sua identidade e na sua vida quotidiana”, disse à agência Lusa a psicóloga Filipa Jardim da Silva.

Cerca de metade das jovens portuguesas inquiridas dizem que desejavam sentir-se mais autoconfiantes e sete em cada 10 afirma que gostavam de ter mais orgulho no seu corpo, realçou.

Em média, passam mais de duas horas por dia nas redes sociais, sendo que devido ao contexto pandémico, 70% passaram a estar ainda mais tempo.

Apenas 50% das inquiridas consideram que as redes sociais são um fator positivo nas suas vidas, enquanto 41% afirmam que não conseguem ser elas mesmas e 25% lamentam que na vida real não possam assemelhar-se à pessoa que mostram ‘online’.

Segundo o inquérito que decorreu em março, 76% das raparigas com 13 anos usam filtros ou recorrem a aplicações para mudar a sua aparência nas fotografias. Em média, têm 12 anos quando utilizam pela primeira vez este tipo de funcionalidades.

Quase dois terços dizem que tentam editar ou esconder pelo menos uma característica do seu corpo antes de publicarem uma fotografia e 86% afirmam que publicam selfies para receberem comentários e likes.

“Elas não referem que publicam selfies porque lhes dá prazer, porque é uma forma de se expressarem, de terem uma presença ‘online’ de encararem uma personagem. Não, elas assumem que é com vista a serem aceites, a serem apreciadas e se sentirem integradas e populares”, sublinhou.

Para a psicóloga clínica, os resultados do estudo “não são positivos, mas não foram surpreendentes: vêm muito alinhados com aquilo que seria a nossa expectativa”.

“Por ser um tema tão pertinente e ter tantas repercussões em tantas dimensões surgiu esta iniciativa”, que se enquadra na nova campanha “Selfie Invertida”, uma iniciativa do Projeto pela Autoestima da Dove.

Segundo a porta-voz do estudo, observa-se “uma correlação” entre a utilização dos filtros e pressão para a perfeição no ‘online’ com “uma maior incidência de distúrbios alimentantes, de ansiedade, de depressão”.

“Estes resultados atestam, por um lado, a pertinência do estudo e a pertinência de continuar a trabalhar na área da autoestima dos jovens”, mostrando também que “temas que aparentemente podem ser até algo ligeiro ou supérfluos são temas que alavancam doença psicológica”.

Para a psicóloga, “a família e a escola têm um papel fundamental na construção da autoestima dos jovens”, sendo “importante que os adultos de referência valorizem cada jovem, ajudando a que descubram as suas forças e talentos e respeitando a sua individualidade, mais do que fomentar comparações injustas”.

“Separar os comportamentos da identidade pessoal e valorizar mais o processo de aprendizagem do que o resultado concreto são dois princípios essenciais na construção de uma boa autoestima”, defendeu Filipa Jardim da Silva.