Os rebeldes ameaçaram esta quarta-feira depor o filho do Presidente do Chade, que faleceu na terça-feira, depois de aquele ter assumido a liderança do país para o período de transição, até às próximas eleições.

Desta forma, os rebeldes levantaram o espetro de uma luta de poder potencialmente violenta, segundo a agência de notícias britânica Associated Press.

Esta quarta-feira, a incerteza é grande sobre quão longe estão os rebeldes de N’Djamena, a capital do país, uma cidade de um milhão de pessoas, e se os militares permaneceriam leais a Mahamat Idriss Déby, no rescaldo da morte do seu pai, após três décadas no poder.

O grupo rebelde que os militares culparam pela morte do Presidente, Idriss Déby Itno, disse, na terça-feira, que as suas forças estavam “a dirigir-se para N’Djamena neste preciso momento”.

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O “Chade não é uma monarquia”, disse, em comunicado, o grupo conhecido como Frente para a Mudança e a Concórdia no Chade. Por isso, “não pode haver uma sucessão dinástica de poder no país”.

A afirmação do grupo de que estava a avançar em direção à capital não pôde, no entanto, ser confirmada por fontes independentes, mas gerou imediatamente o pânico em N’Djamena, cidade que outro grupo rebelde atacou em 2008.

Responsáveis do Conselho Militar de Transição, liderado pelo filho de Idriss Déby Itno, disseram que a luta ainda não tinha terminado pelo controlo do país.

A situação de segurança permanece muito grave dada a persistência e magnitude da ameaça terrorista”, afirmou o vice-presidente do Conselho, Djimadoum Tiraina, acrescentando que os militares devem agora “evitar que o país se afunde no caos e na anarquia”.

O porta-voz militar do Chade disse, na terça-feira, que o Presidente morreu durante uma visita às linhas da frente da batalha contra o grupo rebelde. Os rebeldes estavam baseados na vizinha Líbia até ao início deste mês, mas, segundo as autoridades, terão atravessado para o Chade no dia das eleições no país, 11 de abril.

Presidente do Chade morreu vítima de ferimentos na frente de combate um dia depois de ser reeleito

O Presidente Déby tinha sido reeleito para um sexto mandato, após ter enfrentado nas eleições uma oposição mínima, depois de vários opositores terem optado por não participar, prevendo que a votação fosse fraudulenta.

Ao longo dos anos em que esteve no poder, o Presidente sobreviveu a numerosas rebeliões armadas e conseguiu manter-se até à insurreição liderada pela Frente para a Mudança e a Concórdia no Chade.

As circunstâncias da morte de Déby, nesta terça-feira, ainda não puderam ser confirmadas independentemente, devido à localização remota dos combates.

Alguns observadores recearam, inicialmente, a ocorrência de um golpe de Estado, uma vez que os militares entregaram imediatamente o poder ao filho do Presidente para um período transitório de 18 meses, em vez de seguirem o protocolo constitucional.

O filho do Presidente, Mahamat Idriss Déby, 37 anos, é mais conhecido como comandante de topo das forças chadianas que ajudam na missão de manutenção da paz da ONU no norte do Mali.

“Há uma grande incerteza sobre a forma como os acontecimentos no Chade se irão desenrolar: se o exército permanecerá leal ao filho de Déby e continuará o esforço para repelir os rebeldes, em avanço”, disse Cameron Hudson, um membro sénior do Centro Africano do Conselho Atlântico.

Os chadianos fartos, após 30 anos de domínio de Déby, também poderão alinhar-se com as exigências de uma mudança de liderança, afirmou.

“Qualquer dos cenários apresenta um elevado risco de baixas civis e uma probabilidade de que a fuga de civis ou soldados possa exportar a instabilidade do Chade para estados vizinhos”, acrescentou Hudson.

As Nações Unidas têm cerca de 1.800 funcionários no Chade e estão “a observar a situação hora a hora”, disse em Nova Iorque Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.

O general Mahamat Idriss Déby, chefe do Conselho Militar de Transição (CMT), criado terça-feira após a morte do seu pai, “ocupa o cargo de Presidente da República” do Chade, de acordo com uma Carta de Transição publicada esta quarta-feira. A Carta de Transição revoga a Constituição anterior e será executada como “lei fundamental da República”, de acordo com o documento.

O general, que é agora também “o chefe supremo das Forças Armadas”, nomeou na terça-feira, por decreto, 14 outros generais, todos muito próximos do seu falecido pai, para o CMT, entidade que governará o país num período de transição de 18 meses até à realização de “eleições livres e democráticas”.

Ainda segundo a carta publicada , Mahamat Idriss Déby lidera “o Conselho Militar de Transição, o Conselho de Ministros e os conselhos e comissões superiores de Defesa Nacional”.

O novo chefe de Estado promulga as leis adotadas pelos 69 membros do Conselho Nacional de Transição, que são nomeados diretamente por Mahamat Idriss Déby.

A Carta Transitória do Artigo 95 também garante a liberdade de “opinião, consciência e culto”.

De acordo com o documento, é estabelecido um Governo de transição, cujos membros são nomeados e demitidos por Mahamat Idriss Déby. “Os membros do exército chamados ao Governo de transição são exonerados de todas as funções militares”, declara-se na carta.

Idriss Déby Itno, 68 anos, um oficial militar de carreira que tomou o poder em 1990 num golpe e foi promovido ao posto de marechal de campo em agosto último, tinha sido reeleito no passado dia 11 para um mandato de seis anos com 79,32% dos votos, de acordo com os resultados provisórios anunciados na segunda-feira à noite pela comissão eleitoral nacional.