A Presidência russa minimizou esta quinta-feira a importância das concentrações de quarta-feira em apoio ao opositor Alexei Navalny, detido e em greve de fome, que implicaram 1.800 detenções em diversas regiões da Rússia.

“Não vemos um motivo válido para comentar”, considerou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, acrescentando que “no seu conjunto, estas ações estavam à margem da lei porque não foram autorizadas”.

Para o porta-voz, “o principal acontecimento” de quarta-feira foi o discurso à nação de Vladimir Putin.

Milhares de manifestantes protestaram na noite de quarta-feira após um apelo dos apoiantes de Navalny, em greve de fome desde 31 de março e cujo estado de saúde tem suscitado inquietações, para denunciar as suas condições de detenção.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os ativistas pró-Navalny apelaram a protestos numa centena de cidades, no dia do discurso ao país do Presidente russo Vladimir Putin.

Nas suas declarações, Putin advertiu os rivais estrangeiros sobre uma “resposta dura” a qualquer ação que ponha em causa os interesses da Rússia, num contexto de crescentes tensões com o ocidente em torno do caso Navalny e da Ucrânia.

Sem surpresa, não se referiu à situação do opositor, cujo nome próprio nunca pronunciou.

A mobilização dos apoiantes da oposição na quarta-feira foi inferior aos protestos que se seguiram à detenção de Navanly em janeiro, e a reação da polícia claramente menos repressiva, em particular na capital Moscovo.

De acordo com a OVD-Info, uma Organização não governamental (ONG), a maioria das cerca de 1.800 detenções (806 pessoas) registaram-se em São Petersburgo, onde ocorreram algumas ações policiais.

Numa reação aos protestos, o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, denunciou esta quinta-feira uma “perseguição insuportável” contra Navalny e seus apoiantes.

[Se o opositor morrer na prisão], decidiremos as necessárias sanções e responsabilizaremos (…) por este drama Putin e as autoridades russas”, acrescentou.

Na quarta-feira, quatro peritos dos direitos humanos mandatados pela ONU indicaram que Navalny está em “grave perigo” e consideraram que deve ser enviado para o estrangeiro.

O principal opositor de Putin foi preso em janeiro ao regressar da Alemanha, onde esteve cinco meses em recuperação após um alegado envenenamento, atribuído ao Kremlin, por um agente neurotóxico, acusações que as autoridades russas rejeitaram.

A prisão de Navalny desencadeou uma onda de protestos em toda a Rússia, na maior demonstração de desafio ao Kremlin dos últimos anos.

Após a prisão, um tribunal condenou Navalny a dois anos e meio de prisão por um caso de corrupção ocorrido em 2014 e que os seus apoiantes denunciaram como politicamente motivado, enquanto o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos considerou a sentença “arbitrária e manifestamente irracional”.

Em março, o político foi transferido para uma colónia penal a leste de Moscovo, conhecida pelas suas duras condições de detenção.