Antes do início do jogo, sobravam sorrisos. João Palhinha, que subiu ao relvado antes do aquecimento para ver o estádio onde alinhou na última temporada, andou de forma descontraída pela zona mais perto do túnel e ainda teve tempo para trocar uns abraços com algumas figuras dos minhotos. Paulinho, que há uns meses estava ao serviço dos arsenalistas, cumprimentou de forma mais “distanciada” Fransérgio mas deu um grande abraço a Matheus, com quem ficou alguns segundos à conversa. Borja, antigo lateral dos leões que começou no banco dos visitados, brincou com Pedro Gonçalves, falou com Coates e foi dar o inevitável abraço a Paulinho, técnico de equipamentos dos verde e brancos. Tudo num bom ambiente. Calmo, descontraído. Até começar o jogo.

25.04.2021, o dia em que Coates deu a liberdade a uma equipa e a um clube (a crónica do Sp. Braga-Sporting)

Num dos camarotes da Pedreira, Rúben Amorim, que teve mais uma vez a seu lado o adjunto Adélio Cândido a comunicar com o banco, começou por ficar sentado durante o aquecimento mas não aguentou os nervos durante o encontro, andando de pé de um lado para o outro como é costume. Quando Gonçalo Inácio foi expulso por acumulação de amarelos, bateu palmas; quando Matheus Nunes marcou o único golo do encontro, bateu palmas; no final da partida, bateu palmas. Pelo meio, a polícia chegou mesmo a ir ao camarote onde estava o técnico, neste caso depois de Hugo Viana, diretor desportivo dos leões, ter invadido o espaço que estava destinado para o canal online dos minhotos, o Next, trocando palavras mais azedas com um comentador. “Polícia? Foi-me dizer que tinha de pôr a máscara… Esqueci-me que estava a ver o jogo e às vezes sou mais um adepto. Confirmem com a polícia para ver que estou a dizer a verdade”, comentou o treinador mais tarde, na conferência de imprensa.

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Os ânimos estiveram sempre tensos, com o Sporting a queixar-se de constantes provocações dos elementos da casa e o Sp. Braga a apontar o comportamento dos responsáveis leoninos, nomeadamente Hugo Viana, como o fator da confusão gerada. Certo é que, no final de um encontro que reforçou a liderança dos leões e deixou os minhotos mais longe dos lugares de acesso à Champions, tudo acabou por serenar. E foi também isso que Rúben Amorim pediu aos adeptos verde e brancos, serenidade, mesmo depois de uma vitória que reforçou a liderança na Liga, que permitiu igualar a maior série de sempre do clube sem derrotas e colocar também os leões apenas a um jogo de igualar as maiores séries de sempre de uma equipa no Campeonato sem perder.

“É preciso dar mérito aos jogadores num jogo muito complicado contra uma excelente equipa. A partir dos 20 minutos, ficar com menos um jogador, soubemos sofrer. Somos bons a defender num bloco mais baixo. Até aos 20 minutos o jogo foi dividido. Tivemos duas oportunidades seguidas. O Sp. Braga também teve, numa distração do Nuno Mendes. A partir dos 20 minutos não houve jogo. Houve uma equipa a atacar, outra a defender e a tentar sair. Acabámos por fazer o golo, ganhámos e é seguir em frente”, começou por resumir Rúben Amorim na conferência de imprensa, antes de voltar a recusar uma candidatura do conjunto leonino ao título.

“É possível não assumir uma candidatura? É possível porque perdemos muitos pontos nesta fase e o que não podemos fazer é andar nesta montanha russa que toda a gente anda. ‘O Sporting vai perder os pontos. Agora é candidato, agora vai perder os pontos’. Temos de ter os pés bem assentes na terra. Podemos perder pontos em qualquer jogo. Portanto, isso tem de estar na nossa cabeça. Temos de trabalhar muito. Temos de preparar bem o Luís Maximiano, que o Adán levou o quinto amarelo. Outro momento para a história, não me lembro de um guarda-redes levar cinco amarelos… O Max não tem tantos jogos mas tem muito talento. É assim que os jogadores crescem. Temos de recuperar os jogadores, que jogaram tanto tempo com menos um. A fadiga do jogo, temos de recuperar. O Nacional é mais um grande jogo onde podemos perder pontos. Temos de dar o máximo, é o que esta equipa faz, e o resultado é o que tiver de ser”, salientou o técnico leonino.

“Jogo decisivo? Só no fim é que vamos ver. Até os empates que tivemos, esse ponto pode fazer a diferença. No fim vamos fazer essas contas. Também diziam que não perdendo no Dragão o Campeonato estava decidido, temos de ter plena noção… Tendo estes exemplos todos, seria um erro para nós. É uma prova para todos os adeptos, para toda a gente no Sporting. Sei que estão a sofrer, compreendo, mas tem de ser jogo a jogo. Quando estivermos, ou se estivermos, a três pontos do título, seremos candidatos. Nós entramos sempre para ganhar, nada mais do que isso. Tivemos uma fase em que empatámos dois jogos. Fomos a Faro e ganhámos. Os rivais perderam pontos. Já toda a gente estava muito otimista, voltámos a perder pontos com o Belenenses. Não podemos andar nesta montanha russa de emoções. Compreendo os adeptos mas cabe-me a mim manter algum discernimento num grupo de jogadores tão jovem. É uma boa vitória. não vamos esconder, a jogar aqui com menos um nesta fase da época. Nós queremos muito…”, reforçou Amorim, numa mensagem mais interna.

Por fim, o treinador do Sporting explicou também o que queria com a entrada de Matheus Nunes ao intervalo, numa opção que acabou por valer o triunfo em Braga: “O Luís Neto é um jogador muito forte e está habituado a jogar com os outros dois centrais. Para mim o Coates é o melhor a tirar bolas de cabeça e, estando numa zona central, não era puxado por ninguém para fora dessa zona. Aí defendemos melhor. Passámos muitas horas a treinar assim, o treinar com menos um já o fizemos muitas vezes. É possível e temos de estar preparados. Temos de melhorar na parte ofensiva com menos um. O Matheus foi mais o que se passou no Dragão e com o Sp. Braga em Alvalade. É um jogador que defende bem e depois tem grande capacidade de ir à frente. Ganha muito metros, conduz a bola. Foi isso que tentámos. Umas vezes resulta, outras não, acabou por resultar”, concluiu.