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25.04.2021, o dia em que Coates deu a liberdade a uma equipa e a um clube (a crónica do Sp. Braga-Sporting)

Este artigo tem mais de 3 anos

Sp. Braga entrou melhor, jogo teve apenas uma baliza a partir da expulsão de Inácio (18') mas Coates agarrou numa equipa que brilhou na transpiração à espera do momento de inspiração de Matheus (0-1).

Sporting resistiu durante mais de uma hora com menos um elemento antes de Matheus Nunes marcar o golo que decidiu jogo em Braga
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Sporting resistiu durante mais de uma hora com menos um elemento antes de Matheus Nunes marcar o golo que decidiu jogo em Braga

Jose M. Alvarez/JARSportimages.com

Sporting resistiu durante mais de uma hora com menos um elemento antes de Matheus Nunes marcar o golo que decidiu jogo em Braga

Jose M. Alvarez/JARSportimages.com

Rúben Amorim nunca chegou verdadeiramente a sentir a bipolaridade que caracteriza os adeptos do Sporting na generalidade quando enfrentam situações limite. Porque apenas uma semana depois de assumir o comando da equipa o mundo parou devido à pandemia. Porque desde aí todos os encontros foram realizados sem público nas bancadas. Porque, apesar de uma eliminação precoce da Liga Europa, a equipa soube reerguer-se, conseguiu ser regular no Campeonato e ganhou pelo meio a Taça da Liga. Depois, e com três empates em quatro encontros, as coisas mudaram. Aquilo que parecia ser uma euforia desmedida passou a um mar de dúvidas. E o mar de dúvidas poderia desaguar na depressão. Havia uma linha entre esses estados, três pontos que iriam balizar três estados ao longo de 90 minutos. Essa linha era a deslocação a Braga. E Rúben Amorim percebia isso mesmo.

Sp. Braga-Sporting. Gonçalo Inácio expulso por acumulação (0-0, 29′)

“Se este é o pior Sporting da época? Para mim, não. Perdemos mais pontos mas não acho que seja o pior. Olho para tudo e temos sinais bons. O pior Sporting da época continua invencível. Estamos a criar muitas ocasiões, são fases e podemos dar a volta”, destacou após a igualdade frente ao Belenenses SAD, defendendo a equipa de todas as chamadas de atenção pelos resultados recentes com a produção que os golos não traduziram. “Estamos na primeira posição, com quatro pontos de avanço e… numa crise intensa. É um sinal que o Sporting voltou ao seu lugar”, atirou na antecâmara do jogo com os minhotos, depois de se mostrar satisfeito em ocasiões anteriores por haver tanto ruído quando os leões empatavam um jogo, algo que não acontecia até à sua chegada face à crise desportiva que o clube atravessava. Nas entrelinhas, o técnico ia recordando o ponto de partida da equipa e a situação onde se encontrava. E essa defesa passou do coletivo para o individual, na figura de Paulinho.

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A defesa do mais caro de sempre, por Rúben Amorim: “Paulinho, para mim, continua a ser o melhor avançado português”

“Se é um desafio para mim? Se estamos a criar mais oportunidades, [agora] é rematar melhor à baliza. Se criamos mais e concedemos menos… Quando os resultados não aparecem é normal que as pessoas tenham dúvidas mas eu não vou mudar. Sou assim porque acredito, acredito que este é o caminho. Em relação ao Paulinho, em relação aos outros. No início era porque o sistema era sempre o mesmo… Estou blindado, baseio-me nas pessoas que tenho aqui, naquilo que penso e escolho de acordo com isso (…) Não somos ingénuos, mas não, não é um jogo decisivo. Não é para o Sporting, muito menos é para o Paulinho. Ele para mim é o melhor avançado português, continua a ser o melhor avançado português, está a fazer bem o trabalho dele. A opinião mais importante é a minha. Não é a mais válida mas é a mais importante porque eu é que os ponho a jogar”, defendeu o técnico, após uma semana marcada pelas críticas ao avançado nas suas redes sociais.

Na altura das principais decisões, a equipa tremeu. Amorim pode não ter redes sociais, pode dizer que não vai mudar, pode dizer que está blindado a tudo mas os jogadores foram acusando o aproximar do final da Primeira Liga, entrando na espiral mais complicada da temporada após sofrerem o golo do empate no minuto 90 frente ao Moreirense naquele que foi o único remate enquadrado dos cónegos ao longo do jogo. Por isso, não sendo uma partida decisiva, ia marcar todas as restantes decisões: para o Sp. Braga, um triunfo aumentaria a pressão sobre o Benfica a duas jornadas do clássico dos encarnados diante do FC Porto mas uma derrota ditava não só o fim do sonho do segundo lugar mas também um atraso na luta pela terceira posição; para o Sporting, uma vitória iria estabilizar a equipa perante a aproximação do FC Porto mas um desaire, não colocando em causa a liderança, deixaria os leões sem margem para mais deslizes se quisesse continuar a depender de si.

Também por isso, os onzes iniciais não apresentaram surpresas. Depois da boa resposta dada pela equipa frente ao Boavista, a conseguir a reviravolta após ter estado a perder, Carvalhal decidiu manter a mesma equipa para o encontro frente aos leões, numa escolha que tão depressa abria possibilidade de avançar para o 4x2x3x1 com Sequeira como lateral e Galeno como ala, como poderia levar a equipa para um 3x4x3 tendo Sequeira como terceiro defesa e Galeno a cumprir todo o corredor esquerdo. Do lado verde.e branco, duas alterações mas que já eram esperadas: Feddal, após recuperar de problemas físicos, assumiu de novo a titularidade na defesa em vez de Matheus Reis, enquanto Nuno Santos, que teve uma entrada importante frente ao Belenenses SAD, ocupou a vaga de Tiago Tomás no tridente ofensivo, levando Pedro Gonçalves mais para o corredor direito. Tudo passaria pelas dinâmicas, pelos momentos e pela inspiração individual, num encontro que seria de forma inevitável à semelhança do que aconteceu no Campeonato em Alvalade (2-0) e na final da Taça da Liga (1-0).

Este era o plano teórico, tudo foi diferente na prática depois da expulsão de Gonçalo Inácio ainda antes dos 20 minutos iniciais. O encontro teve apenas uma baliza e uma equipa apostada em marcar, o Sp. Braga. Que tentou tudo, que procurou várias combinações, que falhou em demasia na finalização, que caiu num único momento de desconcentração. Até lá, entre várias intervenções de relevo de Adán depois de um encontro onde falhou de forma crassa, foi Coates que voltou a segurar a equipa com uma exibição gigante como central mais à direita ou mais ao meio. Na verdade, esteve em todo o lado. E ainda chegou a tentar duas jogadas em que foi a tentar fintar o mundo para explicar aos restantes companheiros como se procura a sorte. No dia 25 de abril, foi de novo o capitão que se destacou para dar a liberdade a uma equipa e a um clube que por uma noite fintou o destino que estava traçado e conseguiu uma improvável vitória perante as circunstâncias que coloca o título mais perto e que permite ao próprio clube fugir à sina de vários anos a fio de falhar nos momentos em que não podia.

Ficha de jogo

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Sp. Braga-Sporting, 0-1

29.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Braga

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

Sp. Braga: Matheus; Ricardo Esgaio, Tormena, Raúl Silva, Sequeira (Borja, 78′); Castro (Al Musrati, 67′), Fransérgio; Ricardo Horta (Lucas Piazón, 78′), Nico Gaitán (André Horta, 67′), Galeno (Rui Fonte, 83′) e Abel Ruíz

Suplentes não utilizados: Tiago Sá, Zé Carlos, Rolando e João Novais

Treinador: Carlos Carvalhal

Sporting: Adán; Gonçalo Inácio, Coates, Feddal; Pedro Porro, João Palhinha, João Mário (Matheus Reis, 64′), Nuno Mendes (Gonzalo Plata, 90′); Pedro Gonçalves (Tiago Tomás, 64′), Nuno Santos (Luís Neto, 46′) e Paulinho (Matheus Nunes, 46′)

Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, João Pereira, Daniel Bragança e Jovane Cabral

Treinador: Rúben Amorim

Golo: Matheus Nunes (81′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gonçalo Inácio (10′ e 18′), Fransérgio (17′), Gaitán (64′), Tiago Tomás (76′), André Horta (78′), Jovane Cabral (82′, no banco), Ricardo Esgaio (90+4′) e Pedro Gonçalves (90+4′, no banco); cartão vermelho por acumulação a Gonçalo Inácio (18′) e direto a Vital no banco (90+5′)

O encontro começou sem grandes motivos de interesse junto das balizas mas com o Sp. Braga a mostrar outro perigo e capacidade nas aproximações ao último terço verde e branco, jogando num bloco médio que obrigava os leões ou a explorar a profundidade ou a correr mais riscos que depois eram aproveitados pelos minhotos para sair em velocidade antes de subir linhas e provocar o erro ainda no primeiro terço visitante. Ainda assim, o primeiro lance com algum perigo surgiu junto da baliza de Matheus, com Pedro Porro a marcar um canto no lado direito do ataque, Paulinho a desviar de cabeça ao primeiro poste e Pedro Gonçalves a não conseguir no lado contrário encostar para o golo (14′). Logo de seguida, foi a vez dos minhotos terem também uma boa chance na baliza de Adán, com Fransérgio a aproveitar um erro de Nuno Mendes num corte, a isolar Abel Ruíz mas o toque a desviar a bola do guarda-redes a sair demasiado longo e a tirar todo o ângulo de remate (15′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Sp. Braga-Sporting em vídeo]

No entanto, e mesmo sem ter ainda remates à baliza, a estratégia dos arsenalistas surtiu efeito noutro sentido, com as zonas de pressão mais altas feitas no lado de Gonçalo Inácio por Galeno e Gaitán a resultarem nos lances que iriam funcionar como momento capital do jogo: numa primeira jogada, o argentino caiu em cima do central, ganhou a bola e obrigou à falta (10′); numa segunda jogada, o brasileiro cortou bem a linha de passe, recuperou a posse, fez uma diagonal em progressão e foi de novo carregado pelo jovem defesa. Apenas com 18 minutos de jogo, as duas faltas do Sporting resultaram numa expulsão precoce por acumulação de amarelos, obrigando o conjunto verde e branco a reorganizar-se sem substituições com a passagem de Nuno Mendes para a linha de três defesas (e consequente arrastamento de Feddal para o meio e de Coates para a direita) e o desvio de Nuno Santos para fazer todo o corredor lateral esquerdo. Dava para aguentar sem bola, nunca esticou em posse.

O Sporting não mais voltou a aparecer em termos ofensivos, não conseguindo sequer ligar três passes do meio-campo para a frente a não ser numa iniciativa de Nuno Mendes que travou nos pés de João Mário quando o lateral pedia bola no ataque à rutura que estava a fazer em profundidade. O jogo resumiu-se à insistência do Sp. Braga na tentativa de chegar à baliza de Adán, com os laterais muito subidos, Galeno a desequilibrar de fora para dentro e Fransérgio a surgir sempre em zonas de finalização. Apesar desse domínio quase total, só por duas vezes a baliza de Adán esteve em perigo e no mesmo minuto: Fransérgio cabeceou em jeito para defesa vistosa do espanhola e, na sequência do canto, Galeno apareceu ao segundo poste nas costas de Nuno Mendes para rematar de primeira mas a ver mais uma vez o guardião leonino a travar o primeiro golo (38′).

Ao intervalo o Sporting mexeu, depois da reentrada o Sp. Braga reajustou. Por forma a tentar equilibrar no plano defensivo a equipa, Rúben Amorim abdicou de Nuno Santos e Paulinho e lançou Luís Neto e Matheus Nunes, montando uma estrutura de 3x4x2 sem referências ofensivas onde Matheus Nunes partia mais da direita e Pedro Gonçalves na esquerda para eventuais saídas que contassem com o apoio dos laterais ou dos médios centro, João Mário e João Palhinha. E foi perante esse posicionamento que Carvalhal não demorou também a mexer nas suas peças, assumindo de forma mais clara a linha de três defesas para dar mais largura ao jogo com Esgaio e Galeno nas alas, ter outra presença em zonas de finalização com Ricardo Horta e Fransérgio e recuar Gaitán na construção. As balizas continuavam a ser duas, os objetivos estavam resumidos só a uma – a de Adán.

Apesar de ter o domínio do jogo, o Sp. Braga sentia dificuldades em encontrar a melhor forma de visar a baliza de Adán, tendo apenas uma oportunidade flagrante de Galeno, de cabeça, para grande defesa de Adán com a ponta dos dedos (62′) entre sete foras de jogos no total. E foi também nesse momento, que coincidiu com um canto que deu oportunidade ao Sporting para “respirar” antes de um lance em que Coates ficou a reclamar um empurrão de Raúl Silva na área, que Amorim voltou a mexer com as entradas de Matheus Reis e Tiago Tomás para as saídas de João Mário e Pedro Gonçalves e o adiantamento no terreno de Nuno Mendes. Quase em paralelo, Carvalhal promoveu também as primeiras mexidas na equipa em busca de outro critério na zona de construção, tirando Castro e Gaitán para lançar Al Musrati e Andre Horta no corredor central: o primeiro atirou ao lado de seguida, numa meia distância que saiu perto (68′), o segundo assistiu o irmão Ricardo numa diagonal que acabou com um remate forte mas às malhas laterais da baliza verde e branca (75′).

O encontro entrava na sua fase de decisões e foi aí que entroncou o verdadeiro golpe de teatro na partida: no minuto seguinte a mais um bom lance dos minhotos, com Fransérgio a aparecer bem nas costas de Luís Neto para cabecear à figura de Adán (80′), Matheus Nunes inaugurou o marcador num lance com semelhanças ao que deu a vitória aos leões na final da Taça da Liga, com Pedro Porro a assistir o médio brasileiro num momento de desconcentração da defesa dos arsenalistas para o remate cruzado que fez o 1-0 no primeiro tiro enquadrado do Sporting em todo o encontro, que coroou num lance de inspiração todo um jogo de muita transpiração.

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