“Somos as pessoas anónimas nestas grandes ocasiões, mas provavelmente somos das que mais fazem barulho”, diz Jeremy Pratt. A 29 de abril de 2011, o tocador de sino fez parte do grupo que tirou o pó aos sinos da Abadia de Westminster, em Londres, para assinalar aquele que continua indiscutivelmente a ser um dos casamentos do século. No dia em que Kate Middleton subiu ao altar para casar com William, 24 milhões de telespectadores, só no Reino Unido, sintonizaram as televisões para acompanhar a cerimónia digna de um conto de fadas. E além dos 2.000 convidados que ocuparam lugar na abadia estiveram rostos anónimos como Pratt, que ainda hoje recorda, em entrevista à Town & Country, o nervosismo e o entusiasmo que sentiu em iguais proporções.
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O casamento do príncipe William, herdeiro da coroa britânica, com a namorada plebeia foi há uma década. Em dez anos muita coisa mudou — a família cresceu e os duques de Cambridge são agora pais de três filhos —, mas o pouco afeto público entre os dois continua a marcar a relação que permanece nas boas graças dos fãs da monarquia britânica. As contidas demonstrações de carinho entre Kate e William são há muito conhecidas e encaradas como uma forma que ambos encontraram para manter o profissionalismo. Ainda assim, para assinalar os 10 de casamento, os duques divulgaram duas fotografias, tiradas esta semana no Palácio de Kensington, onde surgem mais românticos do que o habitual — numa delas, William abraça carinhosamente a mulher, numa clara alusão à fotografia oficial aquando do noivado — , e também um vídeo ternurento onde mostram momentos passados em família. Mas para a história fica também o famoso beijo do casal na varanda do Palácio de Buckingham aquando do casamento, bem como o vestido da noiva, desenhado por Sarah Burton para a Alexander McQueen, e a sua irmã, Pipa Middleton, protagonista de um fenómeno espontâneo de popularidade. O pedido de casamento acontecera cinco meses antes, durante umas férias no Quénia, com William a oferecer à noiva um anel que em tempos pertenceu a Diana.
À semelhança do que Harry faz de forma mais visível com Meghan Markle — e disso são exemplo as ações judiciais encetadas contra jornais —, também William tentou desde cedo escudar Kate da atenção mediática (consta que terá sido por isso que o namoro entre ambos sofreu uma breve interrupção em 2007, quando William terminou o relacionamento pelo telefone). Afinal, também William perdeu a mãe após o carro onde esta seguia se ter despistado em Paris, quando tentava fugir dos paparazzi. A mesma mãe que, antes de morrer, deixou um conselho ao filho mais velho: “O quer que faças, certifica-te de que a pessoa com quem casas é, em primeiro lugar, a tua melhor amiga”. William e Kate terão começado a namorar em 2001 quando ambos estudavam na Universidade de St Andrews, na Escócia. E antes de serem um casal, eram amigos.
De “Waity Kaitey” ao “Kate effect”
A vida de casados trouxe responsabilidades acrescidas a ambos. Naquele que foi o primeiro compromisso real após a lua-de-mel, Kate deu nas vistas pelos alegados nervos com que recebeu os Obama, à data no poder, que visitaram o Palácio de Buckingham em maio de 2011 (a primeira visita oficial do casal foi ao Canadá e aos EUA). Ao contrário de Meghan Markle, a duquesa veio para o seio da família real sem qualquer experiência no papel de figura pública, tanto que deu a sua primeira entrevista a solo apenas em 2016. Com o tempo, Kate haveria de ganhar confiança e atualmente mostra-se mais à vontade — como futura rainha consorte, Middleton é um membro sénior da família real e, ao longo dos anos, tem participado em vários jantares de estado com líderes mundiais, viagens reais e eventos de caridade. Tem tido, até, um papel cada vez mais ativo nos compromissos da casa real: desde o início da pandemia, por exemplo, tem participado em várias reuniões virtuais, onde fala ou sozinha ou acompanhada do marido.
Além do papel que tem vindo a desempenhar na monarquia britânica — há quem defenda que está a contribuir para a humanização da “Firma” —, a duquesa de Cambridge tornou-se numa espécie de ícone de moda e o termo “Kate effect” ganhou o seu próprio espaço depois das peças de roupa por ela usadas em público esgotarem sucessivamente num ápice. A preferência por estilistas britânicos tem sido notada ao longo dos anos, com a duquesa a impulsionar a indústria da moda britânica em mil milhões de libras. Os seus gostos fizeram sobressair a imagem da família real, garante Bethan Holt, jornalista e autora do livro “The Duchess of Cambridge: A Decade of Modern Royal Style” que destaca a sua “figura glamorosa” e o facto desta ter ajudado “a assegurar a próxima geração da família real britânica”.
Dez anos depois a popularidade de Kate é indiscutível, uma realidade algo longe de quando era conhecida pela alcunha “Waity Kaitey”, dada pelos tablóides britânicos, devido ao longo namoro com William (ao contrário de Carlos, o duque de Cambridge nunca se sentiu desconfortável com a fama da mulher). A fotografia é outro dos hobbies e paixões de Kate, sendo responsável por muitos dos retratos dos seus três filhos — a mais recente imagem de George na companhia do avô Filipe, que morreu a 9 de abril aos 99 anos, foi também captada pela lente da duquesa.
20 anos de relação e três filhos depois
A 2 de julho de 2013, o casal dava as boas-vindas ao primeiro filho: George Alexander Louis. Dois dias após a icónica fotografia tirada à porta do hospital St. Mary, em Londres, com o bebé nos braços, o mundo conhecia o nome do primogénito que haveria de proporcionar vários momentos divertidos diante das câmaras — das imagens captadas na sua primeira tour real, à Nova Zelândia e à Austrália, ao beicinho que fez quando os pais foram recebidos no aeroporto militar de Varsóvia pelo presidente polaco. Não foi, no entanto, a primeira vez que o futuro rei de Inglaterra foi apanhado a fazer caretas, tendo feito das suas, mais uma vez, no casamento de Pipa Middleton, em maio de 2017.
A George seguiu-se a filha do meio: Charlotte Elizabeth Diana, cujo nome é uma homenagem à bisavó e à avó, respetivamente, nasceu no dia 2 de maio de 2015, também em Londres. Dois meses após o nascimento era batizada na mesma igreja que Diana, que faria 60 anos de vida no próximo dia 1 de julho (no primeiro aniversário, a bebé recebeu presentes de 64 países, de um rei, de duas rainhas, de quatro presidentes e de três primeiros-ministros). Já Louis, o filho mais novo dos Cambridge, celebrou o terceiro aniversário no passado dia 23 de abril. Quando deu à luz o filho George, Kate passou a noite no hospital. Com a princesa Charlotte voltou a casa 10 horas após o parto e, com Louis, abandonou o hospital ao fim de sete horas.
Dos Fab Four ao Megxit
Talvez uma das grandes alterações na vida dos Cambridge, além da parentalidade e das acrescidas obrigações profissionais, tenha sido a chegada de Meghan Markle ao seio da família real britânica. A criação da alcunha “FabFour”, pela imprensa inglesa, não veio ao acaso e derivou das vezes que Harry, Megan, William e Kate apareciam em público, nos seus primeiros atos oficiais, e causavam furor — era de esperar que a família real britânica quisesse explorar o sucesso público do quarteto.
Mas muito antes dos rumores de tensões começarem a surgir — muito antes de Harry dizer em entrevista à ITV News que ele o irmão estavam a seguir caminhos separados —, os desentendimentos entre os Cambridge e os Sussex aconteciam em privado. Em 2019 surgia o anúncio do afastamento de Harry e de Meghan da Fundação Real, criada em 2009 pelos filhos da princesa Diana e que em tempos albergou os Cambridge e os Sussex.
Somos irmãos, vamos ser sempre irmãos. Neste momento, estamos em caminhos diferentes, mas vou estar sempre lá para ele e sei que ele vai estar sempre lá para mim. Não nos vemos tantas vezes como costumávamos porque andamos muito ocupados, mas eu amo-o. A maioria destas coisas [na imprensa] é criada do nada, mas, como irmãos, temos dias bons e dias maus”, disse Harry sobre William em outubro de 2019 no documentário da ITV News.
Apesar de haver quem defenda que as tensões entre William e Harry sejam anteriores à chegada de Meghan Markle, tendo até em conta as diferentes reputações que um e outro criaram ou foram sendo criadas à sua volta enquanto cresciam, a entrevista que os duques de Sussex deram à apresentadora norte-americana Oprah Winfrey terá aumentado a cisão entre ambos. Tanto que o reencontro público e a breve troca de palavras entre eles no funeral do avô, o príncipe Filipe, levantou de imediato especulações de uma possível reconciliação. O certo é que o Megxit aconteceu e Harry e William estão efetivamente a seguir caminhos opostos, com um a viver na Califórnia, nos EUA, e o outro a permanecer fiel aos interesses da coroa britânica, no Reino Unido.
Apesar do palco mediático, William e Kate dão nas vistas por ser um casal reservado e seguramente menos escandaloso do que Harry e Meghan Markle. Ao fim dez anos de casamento, parece que o futuro rei moveu-se mais na direção dos valores associados à sólida educação de classe média que a mulher recebeu do que o contrário, tal como assinala o Daily Mail. Além disso, a presença calma de Kate tem sido uma mais-valia ao longo dos anos, sobretudo após a morte recente do duque de Edimburgo e a polémica entrevista dos Sussex que forçou Wiliam a reagir publicamente ao afirmar que a família real não é racista. Também muito elogiada foi a atuação de Kate que foi avistada na vigília feita a Sarah Everard, assinada aos 33 anos.
Talvez não querendo correr o risco de repetir os erros cometidos no casamento dos seus pais, William escolheu para esposa uma amiga e namorada de longa data que, quando ascendeu ao altar a 29 de abril de 2011, era mulher feita e confiante, muito ao contrário da jovem Diana que casou aos 20 anos com um homem que mal conhecia. Os 10 anos de casamento de William e Kate surgem menos de duas semanas após o funeral do príncipe Filipe, no entanto, a data simbólica é digna de comemoração, com a BBC, por exemplo, a divulgar a 30 de abril um documentário que terá o testemunho de pessoas que participaram no grande dia (caso tenha curiosidade em recordar o evento na íntegra, pode fazê-lo aqui).