Os empates fora com Nápoles e Spezia ainda atrasaram um pouco a inevitabilidade da festa do Inter na Serie A mas o triunfo que condenou de forma matemática o Crotone ao segundo escalão fez com que começassem desde este domingo uma série de match points para a conquista do título por parte da equipa de Milão mais de uma década depois e com uma longa hegemonia da Juventus pelo meio. No primeiro, o conjunto de Antonio Conte ia esperar no sofá pelo resultado da Atalanta frente ao Sassuolo, a grande revelação da temporada. E caso a equipa de Bérgamo não conseguisse ganhar, as contas pelo primeiro lugar ficavam de imediato arrumadas.

Sem grandes mexidas no plantel da última época que acabou na segunda posição e perdeu a final da Liga Europa com o Sevilha, apostando apenas nas contratações de Hakimi, Arturo Vidal (a custo zero) e Darmián (cedido por empréstimo) para ganhar margem para outros investimentos como a compra do passe de Barella ao Cagliari – e vendo sair dois indiscutíveis do plantel, Icardi e Godín –, o Inter teve na regularidade o seu ponto mais forte, sobretudo depois da eliminação precoce das provas europeias ao terminar a fase de grupos da Champions na quarta posição. Por exemplo, e olhando para a trajetória ao longo da segunda volta, a equipa perdeu apenas um total de quatro pontos na sequência de 11 vitórias consecutivas e antes tinha sofrido apenas dois desaires, com AC Milan e Sampdória. A juntar à intermitência dos principais rivais, a vitória era uma questão de tempo.

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Sendo campeão já este domingo ou apenas no próximo fim de semana, marcado pela receção à Sampdória, pelo jogo da Atalanta com o Parma ou pelo clássico Juventus-AC Milan, a altura dos balanços torna-se inevitável e há um nome incontornável a marcar a Serie A de 2020/21: Antonio Conte. Depois de ter ganho tudo como jogador ao serviço da Juventus, entre uma Liga dos Campeões, uma Taça UEFA, uma Taça Intercontinental, cinco Series A, uma Taça e quatro Supertaças, e de se ter sagrado campeão do segundo escalão pelo Bari no início como técnico, foi nos bianconeri que o treinador se começou a afirmar também nos bancos, antes de ser tricampeão italiano em três épocas e rumar à seleção onde acabou o Europeu de 2016 nos quartos perdendo nos penáltis com a Alemanha. Nesse ano rumou à primeira aventura no estrangeiro, ao serviço do Chelsea, onde ganhou uma Premier League e uma Taça em dois anos. Depois de um ano sabático, assinou em 2019 pelos nerazzurri.

E foi mesmo na questão técnica que começou a mudança no Inter, uma década depois de José Mourinho ter ganho a Liga dos Campeões, o Campeonato e a Taça de Itália antes de se mudar para o Real Madrid em 2010: Rafa Benítez, o sucessor, não chegou ao final de uma época que acabou com Leonardo no banco a garantir a segunda posição; Gian Piero Gasperini, Claudio Ranieri e Andrea Stramaccioni estiveram na temporada seguinte em que a equipa acabou em sexto; seguiram-se Walter Mazzarri, Roberto Mancini, Frank de Boer, Stefano Pioli e Luciano Spalletti sem que o conjunto de Milão fosse capaz de desafiar sequer a Juventus, alternando entre a qualificação para a Champions e sétimos lugares. Com Conte, tudo mudou. E na sequência de um primeiro ano para a consolidação de um sistema tático que faz do Inter a melhor formação transalpina e para a contratação de alguns elementos chave como Romelu Lukaku, a hegemonia quase dinástica da Juventus foi quebrada.

Depois do triunfo por 2-0 com o Crotone, com golos de Eriksen e Hakimi no segundo tempo, o Inter aproveitou uma escorregadela da Atalanta na partida com o Sassuolo onde até chegou a liderar com um golo de Gosens (32′) já depois do cartão vermelho a Gollini (22′) mas acabou por deixar-se empatar logo no início do segundo tempo, com uma grande penalidade de Berardi (52′), ficando com os mesmos 69 pontos do AC Milan (venceu o Benevento) e da Juventus (ganhou nos últimos minutos com bis de Ronaldo frente à Udinese) e mais dois do que o Nápoles (que empatou com o Cagliari). Ou seja, no mesmo dia em que viu quase uma década de hegemonia quebrada, os bianconeri ainda lutam pelos lugares de Champions. A Signora caiu mesmo de Vecchia

O Inter passa assim a ser o segundo clube com mais Campeonatos em Itália, 19, quase metade da Juventus (36) mas mais um do que o grande rival da cidade, o AC Milan. Aliás, a única equipa a conseguir furar nas duas últimas décadas o domínio das três formações do norte do país foi a Roma, no ano de 2001. A isso os nerazzurri juntam ainda sete Taças, cinco Supertaças, três Taças dos Clubes Campeões Europeus/Liga dos Campeões, três Taças UEFA, duas Taças Intercontinentais e um Mundial de Clube. O último troféu tinha sido uma Taça em 2011.