Até pela grande tradição que têm no ciclismo de pista, durante muitos anos os britânicos olharam para o ciclismo de estrada mais numa perspetiva de adeptos do que propriamente de seguidores enquanto interessados no que era o resultado desportivo. Sim, é certo que houve Robert Millar na década de 80. Sim, também é certo que houve Chris Boardman nos anos 90. No entanto, foi depois que a modalidade “explodiu” no país. Com Mark Cavendish, com Chris Froome, sobretudo com Bradley Wiggins. Aliás, se existem cafés temáticos sobre ciclismo com várias alusões e camisolas antigas, por exemplo um na zona entre Soho e Picadilly em Londres, é graças a ele. E foi no ano de 2012, quando Wiggo ganhou a medalha de ouro olímpico na cidade na prova de contrarrelógio após ter ganho o Tour, que houve um efeito boom no número de praticantes, de seguidores e de interessados.

[Ouça aqui a antevisão de João Almeida na Rádio Observador antes do início do Giro]

Giro d’Italia 2021. João Almeida, um líder de equipa “com o foco na Classificação Geral”

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Entre oito medalhas nos Jogos (sete em pista, das quais quatro de ouro), 15 pódios em Mundiais, vitórias em etapas do Tour (além da geral, em 2012) e do Giro e triunfos noutras provas mais curtas como o Critérium du Dauphiné, a Paris–Nice, a Volta à Britânia ou à Califórnia, Wiggins é um dos corredores com mais sucesso dos últimos anos e transporta agora esses segredos para o pequeno ecrã nos comentários das grandes corridas no Eurosport. E foi também nessa condição que lançou a Volta a Itália de 2021, que volta a contar com um João Almeida no papel de chefe de fila de uma Deceuninck Quick-Step mais sólida do que no ano passado.

“O [João]Almeida tem assuntos por resolver no Giro e aprendeu imenso com a corrida do ano passado. Tinha pouca experiência mas foi um jovem corredor que teve a camisola rosa durante muito tempo”, destacou Wiggo, antes de colocar também na equação Remco Evenepoel. “Está a voltar depois de um acidente horrível mas está a começar a parecer em tudo com o corredor que era antes. Ele e o [João] Almeida vão jogar essa espada de dois gumes este ano pela Deceuninck porque a corrida vai ser aberta”, frisou, falando de outros candidatos.

“Para mim, o vencedor será o Simon Yates. Tem também assuntos por resolver desde aquela vitória do Chris Froome… Ele é um atleta incrível e está a ter o primeiro ano sem o seu irmão [adam]. Eles são muito próximos, trabalharam muito bem juntos e fizeram também uma série de corridas nos últimos anos em que trabalharam em conjunto. O Simon já provou que pode ganhar uma grande volta, já venceu a Vuelta [em 2018] e lida muito bem quer com a desilusão, quer com o sucesso, o que acho que é a chave. Penso que é o favorito, que este é o seu tempo, que é um corredor mais maduro”, salientou, falando ainda nas boas possibilidades de Hugh Carthy, de Vincenzo Nibali e da dupla da Deceuninck Quick-Step, passando mais ao lado de Egan Bernal (Ineos).

“Existem algumas dúvidas sobre a fragilidade dentro da sua equipa. Mesmo como vencedor do Tour pode descer na equipa, está em pé de guerra com o Geraint Thomas depois de este ter vencido o Tour da Romandia. Há algumas dúvidas sobre a sua lesão nas costas, se ainda o continua a atormentar, e também sobre a sua forma porque não o vimos muito desde a Paris-Nice. Quando vês que pode ser derrotado, o entusiasmo em torno da corrida desaparece e esse é o caso do Bernal agora”, comentou, antes de recordar a edição de 20003 como a sua maior favorita do Giro por ter sido o primeiro, por ter corrido com Pantani e por ter também cruzado nesse ano com Mario Cipollini e de explicar o que é preciso para superar a concorrência na prova transalpina.

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“Qualquer que seja o local de passagem das etapas, o Giro tem um terreno único. É impossível falhares e não reconheceres que estás a correr em Itália, com as grandes subidas também com grandes multidões. Há uns anos o Nibali ganhou com três minutos e meio mas foi uma exceção, até pela forma como a corrida é estruturada. O que é preciso para ganhar? Ser bom durante 90% das três semanas, não ter dias maus mas sem ser preciso ter grandes dias. Essa é a chave para correr em grandes Voltas. Alguns corredores podem ter dias excecionais, já vimos o [João] Almeida ter dias soberbos e depois cair. Manter a saúde é essencial, sendo que com o Giro em maio existem condições mais imprevisíveis do tempo, tornando a prova mais difícil”, concluiu.